VERA PINTO |
A praga de insectos, que assolou o povo egípcio nos meados do primeiro milénio a.C. está de volta. Nesta altura do ano, os jardins enchem-se de abelhas e borboletas que devolvem a alegria e o colorido roubado pelo rigoroso Inverno. Para além, dos recentes poderes premonitórios atribuídos a alguns destes insectos, eles são também responsáveis pelo processo de polinização e, como tal essenciais à sobrevivência de qualquer ecossistema.
A chegada do tempo mais quente e húmido, a par de visitas mais frequentes a lagos, rios e outros locais de flora intensa, sempre com roupa leve e fresca formam a triste tríade de factores que conduzem a uma correria desenfreada à farmácia na busca de algo que alivie a sintomatologia de uma picada de insecto.
O nosso organismo reage sempre a uma picada de insecto. Trata-se de uma forma de defesa natural do nosso corpo. O tipo de reacção depende do local da picada, da espécie do insecto e de características individuais de cada pessoa. Perante uma picada a pele reage, quase sempre de forma localizada, isto porque a saliva, com propriedades anticoagulantes, deixada pelo insecto provoca uma inflamação na pele que se reflecte pelo aparecimento do inchaço, vermelhidão, comichão e dor. Algumas pessoas podem desenvolver uma reacção alérgica à picada quando esses sintomas cutâneos se estendem a outras partes do corpo, causando pressão no peito, náuseas, vómitos e dores abdominais. Embora raro, a reacção alérgica pode originar choque anafiláctico. Situação de urgência hospitalar, caracterizada pelo edema da língua e garganta e, como tal dificuldade em engolir e respirar, tonturas, náuseas, dores abdominais, manchas vermelhas com comichão e descida abrupta da pressão arterial que pode levar a perda da consciência. Igualmente grave é a reacção tóxica que surge na sequência de múltiplas picadas de insectos (melgas, abelhas, etc.). O efeito cumulativo do veneno injectado pode ser fatal, produzindo sintomas de envenenamento (dor de cabeça, febre, sonolência ou contracções musculares).
A maioria das picadas resolve-se fácil e rapidamente, mas perante o risco de envenenamento, possibilidade de infecção por bactérias e mesmo de transmissão de doenças, visto que os muitos insectos são vectores de patologias como a dengue, malária ou febre-amarela, a actuação farmacêutica ganha particular relevância.
“Prevenir é o melhor remédio”. Nunca um provérbio fez tanto sentido. Será este o segredo para o fim da picada? As alturas do dia em que há mais concentração de insectos são ao amanhecer e ao entardecer por isso devemos evitar sair a essas alturas. “Apaga a luz senão entram os mosquitos”. O conselho da mãe preocupada faz todo o sentido, as luzes também atraem os insectos. Não usar perfumes com cheiros activos, manter os alimentos e bebidas tapadas, usar mosquiteiros, escapar-se de locais com muita vegetação, próxima de rios, lagos e barragens ou onde se encontrem ninhos de insectos e evitar andar ao ar livre com roupas coloridas e largas, preferindo peças mais justas ao corpo que cubram braços e pernas são conselhos que os utentes já conhecem e que cada vez mais colocam em pratica. Existem ainda produtos que não matam os insectos, mas impedem a sua aproximação e proporcionam uma eficácia duradoura, os repelentes de insectos. Em Portugal é a Direcção Geral de Saúde (DGS) que autoriza a comercialização dos Repelentes. Actualmente, existem repelentes sintéticos (N,N-dietil-m-toluamida – DEET; N-Acetil-N-butil-beta-alaminato de etilo; Ftalato de dimetil em associação com DEET) e naturais compostos por óleos de citronela, eucalipto, limão hortelã pimenta, soja ou cedro, preferíveis para crianças mas com eficácia inferior ao DEET. Por segurança, é muito importante respeitar as instruções de aplicação dos repelentes de insectos: aplicar na pele ou na roupa dependendo do repelente; não colocar sobre pele irritada ou ferida; evitar o contacto com as mucosas, nomeadamente dos olhos e boca; lavar sempre as mãos após aplicação e restringir a aplicação dos repelentes aos adultos.
Quando não é possível evitar a picada, existem algumas medidas que para além de proporcionarem alívio dos sintomas evitam o agravamento dos mesmos. O local da picada deve ser desinfectado, a fim de prevenir a sua infecção. Se ficarem alguns resíduos do insecto na ferida (como ferrão) deve-se, previamente à desinfecção, remover-se cuidadosamente com uma pinça. Podemos controlar o inchaço, a dor e comichão logo após a picada por aplicação de gelo (envolto num pano, nunca directamente), compressas frias, águas termais, loções calmantes com calamina, calêndula, mentol e/ou anti-histamínicos. Dependendo dos casos o tratamento pode ainda passar pela toma oral de um analgésico ou de um antialérgico.
Que os insectos todos picam todos sabemos. Que é uma situação comum todos sabemos. Que na maioria dos casos se resolve com sucesso todos sabemos. Que é uma situação que não deve ser desvalorizada, por todas as consequências que acarreta é o que eu pretendo que todos saibam.
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