sexta-feira, 1 de julho de 2016

O DIREITO A RECLAMAR PAZ

RUTE SERRA
A Turquia foi atacada, em pleno ramadão. Os ataques repetiram-se por 17 vezes, ao longo do último ano, com origens diversas, e mataram mais de 300 pessoas. A nação com o segundo maior contingente limitar da NATO foi outra vez atacada. Mas porquê a Turquia? Aquela que mantém há algum tempo um curioso “flirt” com terroristas, baseado na servidão de passagem que constituiu para rotas de contrabando de petróleo? A que alberga a terra (Istambul), que foi capital do último califado, abolido em 1924? Pois, parece que sim

Os pilares estruturantes da vida ocidental estão sob ameaça. Na verdade, apesar da história nos ensinar que sempre estiveram, abduzimos dos livros a vivência dessa realidade. O debruço, sobre os meios de comunicação, constrange-nos sobre a premente indignidade humana.

Desde o verão de 2014, por altura do surgimento do proto-estado-islâmico, que os ataques terroristas mataram mais de dez pessoas por dia, de acordo com a investigação publicada recentemente pelo “Expresso”. Além do DAESH, outros movimentos de eventual menor dimensão disseminam pavor e dor, por esse mundo, que não só o ocidental, exercendo o poder de constrição social. Questiono contudo se nos atinge de modo idêntico, sabermos que a vítima partilhava, em potência, mentalidade e costumes idênticos aos nossos, ou não. E em que medida é que esse facto pode afetar uma luta que se vem impondo.

Apesar da comunicação social ter abandonado as repetidas, até à exaustão, dramáticas imagens e notícias de atos perpetrados por terroristas, procurando desse modo reduzir a utilidade do mediatismo, sabemos da indelével manipulação que, ainda assim, exerce.

O delírio paranóico é afinal contra tudo em geral, e motor eficaz contra a ordem estabelecida: ideologias políticas, etnias, nacionalidades, fé, género. Desconhecemos o inimigo e o inocente. Vivemos sob de um clima de guerrilha, sem que tenhamos assumido a condição de combatentes. Todos somos alvo, isso é certo. Não fomos, nem estamos, preparados para nos defendermos. Estamos à mercê das decisões políticas, legislativas, operacionais, que singelamente ou em sintonia, os responsáveis encetem.

Podemos apenas exigir eficácia. Aquela a que não temos assistido. E como seria possível de outro modo? Afinal onde é que esta gente se financia, se arregimenta, se mune dos meios necessários à prossecução do seu fim? Em que detalhe da falácia nos perdemos? Mantém sentido travar esta luta? Será que apenas “a solidariedade e a ação coletiva”, como refere o Conselho Europeu (na sua “Declaração sobre a luta contra o terrorismo” de março de 2004), podem derrotar o terrorismo? Talvez, mas apenas de modo sério e verdadeiramente comprometido. Tarefa porventura impossível. Deslustremos intenções e reclamemos direitos, evitando o atropelamento do arbítrio.

É a sociedade que está na linha da frente. Mas só podemos lutar, se estivermos vivos.

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