sexta-feira, 22 de julho de 2016

PAIXÕES DE VERÃO

MANUEL DAMAS
A designação, só por si, indicia o significado, a etiologia e as circunstâncias…refiro-me aquelas situações que alguns designam, erradamente, como “amores de Verão”. E classifico como “erradamente” porque o Amor é muito mais do que um devaneio estival. Mas, regressemos ao tema, para não perder o fio condutor, de que tanto falava Descartes.

Paixões de Verão…

Aquelas paixões violentamente fortes e inebriantes que, habitualmente em contexto sazonal, arrebatam, a uma velocidade estonteante. Acontecem…
talvez porque episódicas, 
talvez porque descontextualizadas do normal cenário em que cada um de nós se integra, 
talvez porque pouco responsabilizantes, 
acima de tudo porque mágicas! 

É o momento do sonho, da liberdade para colorir e efabular as realidades de cada um. Também por isso adquirem um ritmo vertiginoso e uma intensidade invulgar, provocando reações e contra reações anormalmente desproporcionadas.

As paixões de Verão concentram em si, qual “kit afetivo”, as velocidades, os momentos, as fases, de um relacionamento afetivo, mas em tempo vertiginosamente curto. Deste modo, tudo se vivencia a uma velocidade estonteantemente atrativa.

Também por causa dos tempos vivenciais, que encurtam drasticamente, estas paixões de verão tornam-se tão intensas, rápidas e arrebatadoras.

Os olhares que se trocam e queimam…
Os toques que se desenham e trocam, exalando violenta paixão…
As emoções que vulcanizam, incandescentes, levando tudo à frente!
Os atores de uma paixão de Verão percorrem mundos, trajetos, vivências, realidades…só que a velocidade e a intensidade abrasadoras.

Em plena paixão de Verão, somos capazes de vertiginosas insanidades!

Numa análise sem dogmas, uma paixão de Verão percorre, na minha perspetiva, diversas fases, cuja ordem não é aleatória, a saber…Olhar, Ver, Desejar, Conquistar, Adorar e Abandonar, todas elas percorridas de um modo intenso e sofrido. Estes Afectos de estação tornam-se dolorosos porque intensos, mas inebriantes porque mágicos. E são pulverizadas, sem retorno, as capacidades de racionalização e de análise objetiva.

Senão vejamos…
Qualquer incapacidade física adquire, por magia, tonalidades de deliciosa sensualidade. Qualquer trejeito ou gestualidade mais exuberante, transmuta-se, de repente, em excêntrica originalidade. Até fisicamente, as pequenas celulites que cada um de nós guarda, amargamente, de forma revoltada e sigilosa, resguardadas de olhares alheios, se tornam sensuais e encantadoras curvaturas. Inclusive fenómenos aparentemente incontornáveis como a distância geográfica a que cada um vive se tornam, em situação, especificidades, rapidamente relegadas para as calendas.
Habitualmente, quiçá por ironia perversa do Destino, os atores principais destes romances de Verão, residem a enorme distância que, no momento, se tornam detalhes despiciendos.

E assim se cumpre a real irrealidade de uma paixão de Verão…

E não se alegue que a culpa é do Calor que, quando aperta, faz diminuir drasticamente a quantidade e dimensões da roupa usada aumentando, proporcionalmente, os segmentos corporais visíveis, desnudos, elevando exponencialmente os índices de erotismo e de sensualidade…as paixões de Verão também ocorrem se não estiver calor!

Também não serve de argumento o facto da ingestão de bebidas, maioritariamente alcoólicas, subir exponencialmente, aparentemente toldando a capacidade analítica…muitas paixões de Verão nascem no remanso de abstinência alcoólica!

É, tão só e apenas, o epifenómeno de uma paixão de Verão…que se vai vivenciar irremediavelmente, cumprindo as etapas acima plasmadas.

Se a vivência destas paixões é libidinosamente arrebatadora e vertiginosamente intensa, as despedidas são anormalmente dolorosas, sofridas, sangradas, dilacerantes…

Até as promessas e juras, inabaláveis como tal, maioritariamente irracionais, fluem com invulgar ardor…O “Vou ter contigo dentro de dias, amanhã, logo, já!...” brota, apaixonado, veemente, impensado, sabendo todos nós, bem lá no fundo, que jamais serão para cumprir, porque impraticáveis. 

Mais tarde, já de regresso à pequena realidade de cada um, no vaivém diário em que nos inserimos, quais pequenos autómatos encarrilados, os detalhes esfumam-se, as promessas esvaem-se, até porque…a realidade não se compadece com veleidades ou desvarios!

E assim se cumpre, uma vez mais, o Verão!

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