sábado, 20 de maio de 2017

UMA NOVA PERSPECTIVA NA PRÁTICA MÉDICA

ANTONIETA DIAS
A Ciência é uma obra construída pelos homens. É única, é suprema, é a história da investigação. 

Retornar aos tempos históricos, de que forma? Um retrocesso na prestação dos cuidados médicos em Portugal poderá ser uma meta a atingir para recuperar a economia.

Se pensarmos que o processo histórico da medicina se iniciou no período paleolítico, data marcada pela emergência da cultura, entenderemos rapidamente que a situação que é proposta para o sector da saúde é inaceitável.

Recordando um pouco da história, constatamos que foi na época do Paleolítico, em que a paleopatologia (estudo das enfermidades que podem ser demonstradas em restos humanos procedentes de épocas remotas), iniciou o registo de doença e de tratamento destas doenças (medicina primitiva pré-histórica), com a trepanação craniana.

Existem ainda, documentos da Mesopotâmia e do Egipto, registos da evolução da medicina arcaica, baseada na magia e no empirismo.

Todavia, a medicina como ciência, baseada na interpretação natural da doença surgiu apenas no século V a.C com Hipócrates (c. 460-375 a.C).

Pela sua importância e relevo, a medicina despertou a atenção do próprio Heródoto e de Hipócrates, sendo pois, a história da medicina a reconstituição do passado da ciência médica. É tão antiga quanto as artes de Asclépio, Deus da Medicina, e de Clio, musa da História. As suas origens remontam ao século de Péricles (século Va.C).

Consta numa das obras científicas do período pré-socrático “na arte médica é fundamental o princípio de que as conquistas, que constituem o património passado, devem servir de base às investigações do presente.”

É Hipócrates que critica o racionalismo a priori, propõe seu método e traça a origem e evolução da medicina.

A crítica é dirigida contra aqueles que, partindo inicialmente de uma hipótese, derivam dela uma causa única para todas as doenças.

Da mesma forma que os filósofos pré-socráticos procuravam explicar a diversidade do mundo através de reduzidos elementos conhecidos, também alguns médicos do século V a.C procuraram fundar a arte da medicina sobre um ou dois princípios.

Ainda no tempo de Hipócrates surgiu o desenvolvimento da culinária adaptada aos diferentes tipos de doença, em que a medicina primitiva seria, uma espécie de culinária personalizada.

Se pensarmos em Darwin na Origem das Espécies: “a herança é a lei”, não podemos fazer tábua rasa do conhecimento científico que tem sido adquirido ao longo de todos estes anos de investigação médica.

Se recordarmos o século XIX, em que a medicina antiga e a prática médica se baseia na ligação e união dos conhecimentos médicos à filosofia, à ciência e à técnica.

Porém, não nos podemos esquecer de que a medicina baseada nas ciências naturais era uma prática da ciência moderna no século XVII.

Importa, referir que na era actual a medicina baseada em evidências é inquestionável, pois as boas práticas exigem que todo o acto médico se sustenta na aplicação do método científico (evidências, significam provas científicas).

A medicina baseada em evidências adopta as técnicas oriundas da ciência, da estatística e da engenharia em que as meta-revisões (conhecidas como meta-análises), análises de risco benefício, ensaios clínicos aleatorizados e controlados, etc. etc..

É através deste conhecimento que os médicos fazem “uso consciencioso, explícito e judicioso da melhor evidência actual” quando fazem o raciocínio médico destinado ao tratamento individualizado dos doentes.

Em suma, a medicina baseada em evidências, é a aplicação de um método estatístico adequado aos resultados de incidência de doenças.

Nenhum médico poderá ter um procedimento adequado na sua prática clínica, que não seja fundamentado em estudos científicos.

Eis que surge agora um método inovador e revolucionário para praticar uma medicina que exclui a medicina baseada em evidências e propõe uma solução única, isto é um novo método personalizado, adaptado à dívida existente em Portugal.

Porém, em pleno século XXI assistimos a uma revolução na prestação dos cuidados de saúde, que irá resolver de forma simples a dita insustentabilidade do SNS, mas não contribuirá certamente para a resolução das necessidades básicas dos doentes.

Assim, assistimos ao desmoronar da ciência médica, ao banalizar do acto médico, ao transformar a ciência e arte da medicina, numa mera redução dos números e dos custos.

Como profissionais da saúde e defensores dos doentes, não podemos de forma nenhuma ficar serenos perante uma situação desadequada, que pretende apenas resolver a todo o custo e a qualquer preço o problema da saúde e do orçamento do Estado português.

Nenhum de nós imaginaria que em pleno século XXI, alguns hospitais ficariam privados de medicamentos, de meios complementares de diagnósticos, de recursos humanos e financeiros imprescindíveis ao tratamento das doenças.

Constrangedor é verificar que o resultado desta carência resulta de uma gestão política pouco sensível ao sofrimento humano vivenciado pelos doentes ao longo destes últimos anos.

Contudo nenhum País pode ser insensível ao conhecimento científico, nem desincentivar a investigação médica ignorando que é uma prioridade de qualquer País civilizado.

Naturalmente, que apostar neste projecto exige um investimento económico avultado para a sua manutenção, porém o resultado final será a conquista e a obtenção de métodos terapêuticos cuja aplicabilidade se transformará num sucesso para os doentes e para Portugal.

Impensável será admitir que perante um doente que se encontra entre a vida e a morte, em que a decisão clínica tem que ser imediata, pois um minuto de atraso pode determinar a sobrevida do doente o profissional de saúde constata com a falta da matéria-prima (medicamentos, exames complementares de diagnósticos, recursos técnicos e recursos humanos) que o irão impedir de cuidar adequadamente o doente por falta destes recursos.

Apesar da excelente preparação técnico científica dos profissionais da saúde, da história clínica, do exame objectivo, da utilização dos meios pessoais adquiridos pelos profissionais (ex. estetoscópio ou outros) a era da medicina actual não é básica nem pré-histórica.

Desumano e injusto será naturalmente o incumprimento do tratamento por défice de recursos, colocando em perigo de vida o doente.

Será que vai ser esta a nossa realidade? Será que Portugal passará a ser um País onde os doentes serão tratados como números, onde morrer ou viver, passar fome ou não, não é relevante porque o que se exige é apenas reduzir a dívida pública?

Tudo aponta, que iremos retroceder a uma prática da medicina que provavelmente se baseará na magia e no empirismo ainda mais rudimentar que na época do Paleolítico.”

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