MOREIRA DA SILVA |
Na era da pós-verdade, em que a realidade tem muito menos importância do que as crenças pessoais de alguns pseudointelectuais, criadores da ditadura do “politicamente correto”, sobressai a estupidificação através da palavra proferida pelo intelectual de pacotilha, que finge não ver nem ouvir ficando indiferente ao que se passa à sua volta.
Na espuma da vida, a verdade está a perder importância no debate das ideias, no debate político. Seria bom que se limitasse à espuma da vida e que na vida de todos o primado do concreto vingasse, o primado do porquê das coisas, do aprofundamento das causas que originaram o estado calamitoso, em que se encontra o mundo atual, estrangulado pelos populismos políticos.
O bolorento intelectual de pacotilha, que muitas vezes se pavoneia pelos corredores do conforto, nunca entenderá o que são emoções, o que representa um sorriso e até a esperança, pois não consegue atingir o sentido mais profundo da vida, não tem nem quer ter sensibilidade para interiorizar e entender a diferença entre a paz e a guerra, o trabalho e a vadiagem, a fome e a fartura. Por isso é que também não consegue discernir entre a sensatez e o ridículo, que é utilizado como a sua vestimenta de eleição.
Em cenários bafientos, onde se sente à vontade, o intelectual de pacotilha adora referir o nome de alguns filósofos como Tales de Mileto, Pitágoras, Sócrates, Platão, Boccacio, Lutero, Calvino, Voltaire, Karl Popper e até Eduardo Lourenço, mas não tem a capacidade de criticar ou até aprofundar os seus pensamentos, que ajudaram o mundo a progredir. Provavelmente um dos males dos nossos dias é que não há filósofos à altura dos desafios que a humanidade enfrenta e que criarão novos paradigmas de sobrevivência e de sentido da vida.
Para encher o “ramalhete” das suas citações, o intelectual de pacotilha também é capaz de indicar, sem gaguejar ou titubear, o nome de alguns pensadores existencialistas como Kierkegaard, Hume, Kant, Husserl, Sartre, Hegel e também Virgílio Ferreira, mas obviamente não consegue alcançar as ideias radicais que estes pensadores tiveram a respeito do ser humano. O que dá “um nó cego” na mente do intelectual de pacotilha é a frase muito simples e curta, que sintetiza o existencialismo: “No homem, a existência precede a essência”.
O desbocado intelectual de pacotilha, como também gosta de se exibir nos salões do poder, pensa que deve encerrar as suas citações com “chave de ouro”. Por isso, nas suas conversas e debates gosta muito de referir Arthur Schopenhauer, o mais requintado dos filósofos pessimistas, e adora disparar nomes de pensadores políticos como Maquiavel, Chomsky, Hobbes, Marx, Engels, sem esquecer Agostinho da Silva, embora nada saiba sobre eles, nem tem capacidade para comentar as suas ideias, que foram e continuam a ser relevantes na governação do interesse comum.
O intelectual de pacotilha finge ter um intelecto que não tem e utiliza um argumentário vazio de conteúdo, mas embelezado com frases feitas. O intelectual de pacotilha conhece o nome de muitos filósofos, mas não sabe quanto custa um pão, muito menos como ele é produzido. É assim o “papagaio” pseudointelectual que tudo sabe, mas na realidade nada sabe!
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