sexta-feira, 12 de maio de 2017

A RELIGIOSIDADE NA TERCEIRA IDADE

GABRIELA CARVALHO
Há medida que envelhecemos, talvez pelo aproximar do fim de vida, aumenta a relação com a religião ou crença em algo!

Na minha experiência profissional, os tempos associados à religião marcam e vinculam a vida institucional, porque também a instituição onde exerço é de cariz cristão.

Mas a verdade é que, por exemplo, na quarta-feira de Cinzas, os residentes em ERPI (Estrutura Residencial para Pessoas Idosas) pediam para que se retirasse toda a decoração associada ao Carnaval. Referiam-no com “voz forte” como uma ordem.

Recordo também (e digo recordo porque agora não cometeria os mesmos “erros”, considerando o tempo que já “vivo lá” e a aprendizagem dos hábitos) que quando, numa tentativa de inovação, tive a (não) brilhante ideia de fazer um presépio menos tradicional… fui reprovada naquela hora. Faziam falta as ovelhas e os pastores… Talvez não fizessem realmente falta, mas permitiam impor aquilo a que estão habituados, mantê-los aconchegados ao conhecido que lhes trás recordações!

Tempo de Páscoa é também para “eles” (e não só) um tempo de recordações, de vivências. Por isso se ouve com facilidade “Já lavou os tapetes? Aproveite que está bom tempo. (…) Já limpou a casa? Tem que se fazer uma limpeza geral.” São tempos religiosos, mas que marcam a possibilidade de transmissão de conhecimentos e saberes: “Já os meus pais diziam: Páscoa em Março, ano de fome e mortaço.”

O mesmo se sente com a entrada no mês de Maio. Um mês que para "eles" se torna de grande simbolismo, particularmente vivenciado no dia 13 de Maio - todas as televisões que temos na instituição (por exemplo) transmitem em directo as celebrações, que este ano, com a visita do Pápa Francisco, assumem uma relevância ainda mais significativa. O último dia do mês de Maio é também vivido intensamente, com o término de um mês todo ele dedicado a Nossa Senhora. Também nesta altura, todos relembram as "Idas ao Terço" as idas "Ao mês de Maria" (ambos significando as rezas do terço que aconteciam/acontecem nas suas aldeias).

As memórias estão também muito associadas, na grande maioria das nossas pessoas mais velhas, aos tempos religiosos.

(Talvez) por isso, os tempos religiosos ganham particular importância com o avançar da idade… talvez por isso e pela “necessidade” de apego a algo que dê continuidade, ou suscite sensação de que poderá haver continuidade…

Mais uma vez, as famílias, também nestas épocas, assumem ainda mais importância, quer com as visitas quer com as suas ausências.

“Mais do que acrescentar anos à vida, a Terapia Ocupacional proporciona vida aos anos.”

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