sexta-feira, 19 de maio de 2017

O DIA EM QUE JOÃO PAULO II VISITOU BRAGA

JOAQUIM DA SILVA GOMES
O nosso país vive, por estes dias, momentos de grande emoção religiosa, fruto da visita que o Papa Francisco acabou de efetuar a Portugal, no âmbito do centenário das Aparições de Nossa Senhora de Fátima e da canonização de Francisco e Jacinta. 

Muitos gostariam que Sua Santidade tivesse visitado Braga nesta sua vinda a Portugal, e se o fizesse seria, provavelmente, um momento inesquecível como foi a visita de João Paulo II. Por ter sido tão impressionante a sua vinda a Braga, torna-se oportuno recordar alguns dos principais momentos da sua passagem pela Roma portuguesa. 

A visita de João Paulo II ocorreu num contexto social e político de grande tensão no mundo. Vivia-se ainda a Guerra Fria com grande intensidade e a postura de abertura e tolerância que João Paulo II incutiu no mundo, a partir de Roma, contribuiu para o despertar das liberdades, reprimidas no mundo de Leste. 

Quando no dia 13 de maio de 1981 João Paulo II sofreu um ataque do turco Ali Agca, na Praça de São Pedro, em Roma, entendeu que a sobrevivência a esse atentado ficou a dever-se a uma proteção de Nossa Senhora de Fátima. Nesse sentido, no ano seguinte efetuou uma visita a Portugal de quatro dias, que se iniciou a 12 de maio de 1982. Foi precisamente no último dia dessa visita, um sábado, dia 15, que João Paulo II veio a Braga. Passam agora 35 anos! 

Não é fácil, em tão pouco espaço, recordar uma viagem tão emocionante como foi a de João Paulo II à nossa região. 

O helicóptero seria o meio de transporte que lhe estava destinado de Coimbra para Braga mas, devido ao mau tempo que se verificou, isso não foi possível. Como alternativa, o Papa deslocou-se num comboio especial, composto por cinco carruagens, entre as quais uma em forma de salão, para que o Papa tivesse mais conforto. Para prevenir eventuais atentados, ou atos de sabotagem na linha férrea, seguia à frente desse comboio uma locomotiva a gasóleo, com cerca de vinte minutos de avanço. 

Quando, no Santuário do Sameiro, se soube que o Papa viria de comboio para Braga, milhares de pessoas deslocaram-se para o trajecto que liga a estação dos caminhos de ferro ao Santuário do Sameiro, esperando nos passeios e bermas das estradas para o saudarem entusiasticamente.

Se a viagem tivesse sido realizada em helicóptero, a chegada a Braga de João Paulo II estava prevista para as 11.00 h. e o almoço no Sameiro seria às 13.15 h.. No entanto, o mau tempo alterou este plano inicial e a chegada à estação de Braga só aconteceu às 14.39 h. Aí o esperavam o Arcebispo de Braga e centenas de fiéis. De seguida, João Paulo II entrou num autocarro e seguiu pela rua do Caires, pela Rodovia, e daí até ao Santuário do Sameiro onde foi recebido pelo Governador Civil e pelo Presidente da Câmara Municipal de Braga, que lhe entregou a medalha de ouro da cidade. 

O almoço que estava preparado no Centro Apostólico Paulo VI era composto por caldo verde, vitela assada e ainda o vinho verde, iguarias tradicionais do Minho. A acompanhar este almoço estariam, para além da sua comitiva, muitos Bispos e Sacerdotes portugueses. Contudo, João Paulo II não almoçou nesse local, fazendo-o às 12.30 horas no comboio especial. 

A chegada de João Paulo II ao Santuário do Sameiro ocorreu às 15.16 horas e, antes de sair do autocarro que o transportara, o Papa consultou o relógio para confirmar a hora a que tinha chegado. De seguida, dirigiu-se a pé para a Basílica, numa chuva de pétalas, na maioria brancas, atiradas por uma multidão de fiéis emocionados por estarem a pouca distância do Papa dos Pobres, como era então conhecido. 

De seguida, o Papa João Paulo II percorreu, num jipe aberto, a distância da Basílica do Sameiro até ao altar onde decorreu a eucaristia. Na celebração, o Arcebispo D. Eurico Dias Nogueira referiu-se à história de Braga e da sua Igreja, lembrando ao Papa que neste Santuário é venerada há mais de cem anos a Imaculada Conceição da Santíssima Virgem. 

A cerimónia religiosa realizada no Sameiro, presidida por João Paulo II, foi acompanhada por 3500 elementos integrantes de vários grupos corais da diocese de Braga. O tema da homilia proferida por João Paulo II, e que durou 38 minutos, centrou-se nos valores da família cristã. A celebração eucarística durou 1h e 55 minutos! De referir ainda que a leitura da celebração foi efectuada por Teresa Costa Macedo, Secretária de Estado da Família no Governo liderado por Pinto Balsemão. 

Não havendo certezas quanto ao número de fiéis que se encontravam no Santuário do Sameiro, estima-se que esse tivesse variado entre os 400 e 500 mil! Muitos deles tinham-se deslocado para o Sameiro na sexta-feira, dia 14 de maio, e aguentaram aí toda a noite e dia 15 de maio, ao frio, à chuva e mal alimentados. Centenas foram socorridas, devido a problemas de dores musculares, fadiga extenuante e hipoglicemia. Nos altifalantes do Santuário, os avisos eram permanentes relativos a pessoas desaparecidas, nomeadamente crianças, e ainda furtos que ocorriam com frequência.

O país de origem de João Paulo II, a Polónia, vivia em 1982 uma situação social e económica difícil. Neste contexto, várias instituições de Braga uniram esforços e, no dia em que João Paulo II esteve em Braga, um grupo de crianças bracarenses, vestidas com trajes tradicionais da Polónia, ofereceu a Sua Santidade cerca de 2 200 contos, destinadas às crianças desfavorecidas desse país. 
João Paulo II saiu de Braga às 18.20 horas, num helicóptero, que o transportou ao Porto. Foi aí que proferiu as suas últimas palavras, em solo português: “Disseram-me que em Portugal, nos meios rurais, as portas estão sempre abertas. Eu encontrei abertas as portas dos corações. Fazei de conta que entrei e que cumprimentei cada um de vós…”.

Sem comentários:

Enviar um comentário