domingo, 28 de maio de 2017

CORBYN E O REENCONTRO COM O SOCIALISMO DEMOCRÁTICO

TIAGO CORAIS
Estou a viver no Reino Unido há pouco mais de três anos e um dos acontecimentos que me marcaram quando estava aqui há pouco mais de três meses foi a campanha interna à liderança do Partido Trabalhista Britânico, em especial a inesperada candidatura e eleição de Corbyn a líder do Partido, que me FEZ REENCONTRAR COM O SOCIALISMO DEMOCRÁTICO.

Quando cheguei a Oxford, desde o início tinha como objectivo envolver-me na política Britânica, mas como estava um pouco desiludido com o “pragmatismo extremo” do Socialismo Democrático Europeu, que segundo a minha perspectiva em muitas políticas tinha desistido da sua visão de sociedade, preferi aguardar um pouco para assimilar a cultura e os valores da sociedade Britânica. Quando o Jeremy Corbyn venceu as eleições, fui uma das 15.000 pessoas que se filiaram no Partido Trabalhista nas primeiras 24 horas. Foi impressionante o número de pessoas que se juntaram ao partido na primeira semana após a sua vitória. Hoje são 500.000 membros inscritos no Partido Trabalhista, antes destas eleições o partido tinha mais ou menos 200.000 militantes e o Partido Conservador ainda hoje tem só cerca de 150.000 inscritos. Aqui costuma-se dizer que o PARTIDO TRABALHISTA TEM AS PESSOAS E OS CONSERVADORES TÊM O DINHEIRO.

Uma das coisas que me fez desde a primeira hora apoiar o Corbyn, foi a sua autenticidade e a coerência na defesa das suas ideias. Corbyn defende as políticas keynesianas , as bandeiras tradicionais do partido trabalhista, é o deputado que menos despesas requere ao Parlamento e votou mais de 500 vezes no parlamento contra as proposta do seu partido, no qual se destaca a sua votação contra as guerras do Iraque. Chegou a ser preso por se opor ao regime do Apartheid e suportar Nelson Mandela e o ANC. É um apaixonado pelos valores Humanistas e um defensor da diplomacia em detrimento das guerras, ao qual muitas vezes é mal interpretado pelos mídias e por uma grande franja do eleitorado, como um líder fraco, ou mesmo um extremista. Se eu fosse conselheiro político de Corbyn, depois do que aconteceu em Manchester, eu aconselhava-o a ter muito cuidado quando aborda esta matéria, que usasse as palavras certas e sem ambiguidade, de forma a que nem a comunicação pudesse adulterar a sua mensagem , nem confundisse o eleitorado. AUTENTICIDADE SIM, INGENUIDADE E AMBIGUIDADE NUNCA.

MARCAÇÃO DE ELEIÇÕES PARA O PARLAMENTO BRITÂNICO

Daqui a duas semanas, 8 de junho, os Britânicos escolhem nestas “inesperadas” eleições ao Parlamento Britânico os seus deputados. Theresa May defendeu que os partidos estão contra o Brexit e que por isso precisa de clarificação. Os factos não demonstram isso, ela tem uma maioria absoluta no Parlamento Britânico, o seu documento para a saída da UE foi votado, não só pelos conservadores, mas por uma grande maioria dos deputados trabalhistas, mesmo tendo sido rejeitadas todas as sugestões da oposição. Sinceramente não houve nada de novo e a verdade é que ela quis aproveitar a popularidade das sondagens que lhe davam à frente com mais de 20 pontos percentuais, para que aumentassem a sua base de apoio no Parlamento e pudesse ditar as regras “sem escrutínio do Parlamento”. O que a levou a marcar eleições foi a sua perspectiva presidencialista que ela tem da função de Primeira-Ministra, como a sua interpretação de liderança forte que quer governar sem ter que prestar contas ao Parlamento. Concluindo o motivo é a sua POUCA CULTURA DEMOCRÁTICA, QUE RENEGA O SISTEMA PARLAMENTARISTA BRITÂNICO.

MANIFESTOS ELEITORAIS

O tema quente nestas eleições será o BREXIT, mais uma vez. Os Conservadores definitivamente defendem o radicalismo do “Hard Brexit”, propondo mais uma vez a imigração líquida de 10.000 pessoas, incluindo estudantes estrangeiros que estudam nas Universidades Britânicas. Já o Partido Trabalhista defendem que a prioridade no acordo com a UE será a Economia .

Mas haverá muitos outros temas que poderão influenciar na decisão do eleitorado. O Labour conseguiu elaborar um manifesto com ideias que são apoiadas pela maioria do cidadãos, como é o caso da renacionalização dos caminhos-de-ferro (suportado por 60% dos Britânicos). Outro aspecto importante é que o Partido Trabalhista no seu manifesto conseguiu na sua maioria suportar o financiamento das suas propostas ao contrário do Partido Conservador. Na entrevista dada por Theresa May na BBC1, foi tão apertada que quando o jornalista Andrew Neil lhe perguntava como financiava as suas proposta, ela assumiu que o que era apresentado no seu manifesto era uma série de princípios. Acho que quem assistiu a esta entrevista percebeu que LIDERANÇA FORTE NÃO SÃO CHAVÕES E QUE THERESA MAY É UMA POPULISTA.

SONDAGENS

Apesar de eu achar que temos que ter muito cuidado com as sondagens, pois elas são uma “fotografia” do momento em que são feitas e que para mim elas poderão influenciar o voto, acho que o que é relevante nesta matéria é verificar que antes da marcação destas eleições o Partido Trabalhista estava com 23 pontos de diferença em relação ao Partido Conservador e ontem numa sondagem da YouGov só dava uma diferença de 5% (43% para os Conservadores e 38% para o Partido Trabalhista).

Ainda faltam 2 semanas e não nos podemos esquecer que o sistema eleitoral Britânico não é um sistema proporcional de votos, ou seja, os deputados são escolhidos pelo seu círculo eleitoral o que em teoria pode acontecer que o Partido mais votado não tenha mais deputados. Por isso, a grande sondagem será dia 8 de Junho, mas já podemos tirar uma lição: EM DEMOCRACIA NÃO HÁ VENCEDORES ANTECIPADOS, A CAMPANHA PODE ALTERAR O VOTO.

CONCLUSÃO 
Continuo a achar a vitória do Partido Trabalhista nestas eleições difícil mas possível. Irei dentro da minha disponibilidade profissional e familiar fazer campanha pelo Partido Trabalhista já que não tenho direito de voto. Espero assistir em Junho ao fim de May (June the End of May) e desta forma que “ESTA MINHA VIAGEM” PELO REINO UNIDO FOSSE PREMIADA MAIS UMA VEZ COM UM ACONTECIMENTO IMPROVÁVEL E HISTÓRICO, QUE SERIA A ELEIÇÃO DE JEREMY CORBYN COMO PRIMEIRO-MINISTRO DO REINO UNIDO.

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