LUÍS ARAÚJO |
Durante a nossa curta existência neste paraíso à beira-mar plantado somos confrontados com serviços maus, serviços péssimos, e lá ao fundo, num buraco negro e escuro retirado no nono nível do Inferno de Dante, com a CP.
Deve ser difícil encontrar um português que nunca tenha, por necessidade, gosto ou num delírio incontrolável de loucura, usufruído dos serviços dos caminhos de ferro portugueses, o que equivale a dizer que não deve haver um português que não se interrogue porque raio é que não se utiliza o dinheiro que o Estado enterra anualmente na CP em atividades muito mais úteis para o cidadão, como comprar óculos escuros para proteger os delicados olhos da cegonhe-branca-oriental, que se encontra ameaçada de extinção, criar uma linha de postes de eletricidade todos pintados de cor-de-rosa que vá de Bragança a Faro, ou comprar uma máquina que permita alisar as ondas do mar.
A CP, não é apenas um sorvedouro de dinheiro do erário público, é um estorvo e um embaraço nacional, cobrindo o país de vergonha de Norte a Sul, sempre com um pontual atraso.
Há bem pouco tempo, num assomo de loucura incontrolado, decidi utilizar o serviço Alfa no trajeto Porto-Lisboa.
Se há um dia em que uma qualquer entidade divina me podia ter agraciado com uma fratura exposta, ou qualquer outra maleita que me afastasse das bilheteiras podia perfeitamente ter sido esse, infelizmente os deuses, com requintes de malvadez que só uma entidade divina consegue atingir, permitiram-me que comprasse, não um, mas dois bilhetes, um de ida e outro de volta, o que equivale a cometer-se o mesmissimo erro duas vezes e no mesmo dia.
Analisando as coisas a frio poderei estar a ser um bocadinho injusto com a CP, pois eventualmente não terei tido capacidade para entender o verdadeiro fulcro da atividade de tão vetusta companhia.
De facto, o nome e o detalhe de operarem um serviço de comboios criou-me a falsa expectativa de que fosse uma empresa de transportes, quando na realidade se trata claramente de uma companhia recreativa, de entretenimento, com a superior missão de fazer sorrir a nação.
A minha viagem começou em Campanhã, estação onde se encontra em todo o lado uma indicação para uma saída provisória existente nas traseiras da estação.
Poder-se-ia pensar que esta indicação seria garatujada numas folhas mal amanhadas, mas não, a saída é tão provisória que se encontra impressa em várias placas, cuidadosamente impressas e numa sinalética igual a todas as outras existentes na estação.
Pessoalmente conheço esta saída “provisória” há mais de 40 anos, o que significa que quem trabalha na CP deve utilizar o mesmo dicionário que o Paulo Portas, onde “provisória” e “irrevogável” aparecem lado a lado.
Ainda a sorrir com esta assincronia da realidade sou confrontado com os horários, e aqui é que reside o grande sentido de humor da CP, pois nos seus 160 anos de existência não devem ter sequer existido 160 comboios que tenham cumprido o horário, no entanto continuam a disponibilizá-los aos utentes.
O horário na CP tem a mesma utilidade que um preservativo na mão de um eunuco, serve apenas para divertir, neste caso os utentes, que agastados com a cansativa viagem que vão fazer, muito agradados ficam com tal sentido de humor.
O mesmo sentido de humor que se manifesta também para o interior, onde as carruagens mal tratadas, com bancos danificados, portas que não fecham, WC’s entupidos, janelas avariadas coexistem com funcionários que nem sequer sabem em que estações aquela composição vai efectuar paragens e isto tudo para falar só na viagem de ida, o que cria expectativas surreais para a viagem de volta.
E porque viajam a s pessoas na CP? Porque são elitistas, porque gostam de se exibir e porque têm francamente dinheiro a mais para esbanjar na cara do vizinho.
Qualquer pessoa normal utiliza o avião para se deslocar para Lisboa, pois fica mais barato e é mais rápido, ou o transporte rodoviário, pois custa o mesmo que o avião e demora o mesmo tempo que o comboio, o utilizador da CP faz questão de que toda a gente saiba que, além de ter disnheiro para esbanjar tem um refinado sentido de humor, pois pagou o dobro do dinheiro por um serviço mais lento e bastante inferior, assim uma coisa do tipo de se pagar €100 000 por um Fiat Punto.
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