LUÍSA VAZ |
À hora que escrevo esta crónica já terminou o Dia Internacional da Mulher. Ouvi a esse respeito as mais variadas odes à Igualdade seja salarial seja de Género – e esta última considero que não cabe nesta comemoração em específico. O que não ouvi, ou ouvi muito pouco, foram notícias do que muitas Mulheres alcançaram seja a nível social, profissional, familiar, pessoal ou outro. O que não ouvi foram alertas para as miseráveis condições em que muitas Mulheres vivem nas várias partes do Mundo.
O português insiste de uma forma quase doentia em continuar a ver apenas o seu pequeno mundo e não o Mundo a que o Dia Internacional da Mulher se refere. Também nos países ditos civilizados há Mulheres que sofrem as mais variadas privações, que não ascendem a carreiras de topo ou que quando ascendem não são remuneradas como os Homens mas o Dia Internacional da Mulher significa muito mais do que isso e de tão duras que são as realidades, é muito mais fácil cingirmo-nos à nossa em vez de olharmos à volta e usarmos estas datas para nos focarmos em temas realmente importantes e que vão de encontro ao que o Dia realmente significa.
A liberdade de expressão de que a maioria das Mulheres é privada um pouco por esse mundo fora é algo que deve estar sempre presente na consciência das Mulheres que são livres para pensar e opinar sempre que para tal tenham oportunidade. Muitas são aquelas que nem ajuda podem pedir em caso de necessidade e são inúmeros esses casos.
É de louvar, e a este propósito, que no Vaticano – Estado que promove as acções das Mulheres mas não as reconhece no sacerdócio ou em actividades tidas como “tipicamente masculinas”, tenha sido criado um Conselho Consultivo composto exclusivamente por Mulheres. Desconheço o âmbito de actuação do dito Conselho e estranho que o Santo Padre tenha estado ausente da sua inauguração por se encontrar num retiro espiritual mas sem dúvida que esta iniciativa é um sinal dos tempos e será com certeza uma mais-valia para toda a Igreja e para as suas actividades. É de louvar mais esta Reforma que este Papa levou a cabo.
As Mulheres são uma das pedras basilares do Mundo e das sociedades que o compõem independentemente de onde se situam e devem ser tratadas com toda a Dignidade e Respeito. Evidentemente que se possuem as mesmas capacidades que os Homens para o desempenho dos mais variados cargos devem auferir as mesmas regalias desde que cumpram as mesmas funções e obrigações – aliás é até redutor para quem criou a estrutura que não se pense em Seres Humanos em igualdade de circunstâncias mas se pensem em termos de género feminino ou masculino. Ninguém ganha com este tipo de separatismos.
As empresas que para isso têm condições poderiam, e deveriam, apostar em estruturas como berçários para que as suas funcionárias pudessem cumprir os desígnios da Maternidade que também as compõe sem assim prejudicar o cargo que exercem. Todos, inclusivamente a ala masculina, beneficiariam com essas alterações e as Mulheres seriam certamente mais produtivas e melhores no desempenho das suas funções. Esta, por exemplo, seria uma das medidas que ajudaria a uma maior integração das Mulheres no mercado de trabalho.
Não só nestes dias mas em todos sem excepção as questões da violência, dos abusos, das discrepâncias, da diferença de oportunidades e de acesso às mesmas deveria ser algo que nos deveria preocupar a todos e estes dias deveriam ser usados para que se fizesse um paralelo entre aquilo que já se evoluiu e o que falta fazer.
Se são muitas as Mulheres bem-sucedidas e exemplos de conciliação entre a Maternidade e o Trabalho, inúmeros são os exemplos de Mulheres que vivem sem o mínimo de condições de sobrevivência ou em sociedades onde o seu papel é meramente acessório ou decorativo e deveria ser nisso que nos deveríamos focar em dias como este sob pena de ser um dia mais no calendário e de mais uma vez nada termos feito para alterar a condição precária de milhões de Mulheres por esse muito fora porque proferimos declarações politicamente correctas e confundimos Igualdade de Oportunidades com Igualdade de Género.
Homens e Mulheres são em tudo diferentes e essa diferença deve ser celebrada e não anulada, deve ser bem-vista e não repudiada sob pena de caminharmos para uma sociedade de transgéneros ou assexuada.
A questão é séria e deve ser encarada com toda a responsabilidade principalmente pelas Mulheres que ocupam lugares de decisão onde uma palavra ou atitude pode fazer toda a diferença. Ter uma atitude de total desresponsabilização perante comportamentos errados, violentos ou desviantes ou ter uma atitude de completa intolerância perante o que não compreendemos ou simplesmente rejeitamos não ajuda em nada a que as diferenças se esbatam e o Respeito e Dignidade que a condição de Ser Humano do sexo feminino obriga a que exista.
Não deveria ser assim. O processo deveria ser natural e em pleno século XXI isto não deveria passar de um momento de má memória e não de um tema tão actual que muitos continuam a pretender que seja tabu ou que não seja mencionado.
Ser Mulher é mais que ter um corpo diferente do do Homem. Ser Mulher é mais do que o género que consta no documento identificativo. Ser Mulher é mais do que cuidar dos filhos, ser dona de casa ou funcionária de um qualquer nível de uma qualquer hierarquia.
Ser Mulher é Ser Humano pensante com vontades, valores, princípios, experiencias, conhecimento, medos, receios, ambições, desejos e tudo o mais que a possa compor e isso merece Respeito por todas as formas vivas que habitem este Planeta que chamamos Terra e que consideramos que é Nosso por definição e por direito.
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