quarta-feira, 29 de março de 2017

SER PROFESSOR

ELISABETE RIBEIRO
Sou contra a posição Professor-Educador, antes acreditando na função Professor-“Ensinador”!

A ser verdade essa afirmação, tínhamos meninos “educados”… bem... educados eles são, são é mal-educados!

Eu sinto falta do professor-mestre, de ter liberdade para ser mestre e realmente educar, mas no reino da papelada, burocracia e desígnios misteriosos, estamos cada vez mais perto do professor-desastre!
O primeiro objectivo a atingir, e competência a desenvolver, é a oralidade, mas cada vez mais se vê que os meninos não a atingem nem a desenvolvem.

Parece uma porta aberta para atacar desde já os professores, porque sendo estes os executores de tal desiderato, serão os mesmos os responsáveis pelo insucesso nesta área, mas não é assim.
Os alunos cada vez mais vivem numa redoma intocável individualista onde impera o silêncio e o isolamento pessoal (televisão, PC, Playstation, …) logo, o tempo que se despende a “falar com os alunos” deveria ser ampliado e estimulado, mas o que se vê são programas extensos, mais áreas a desenvolver, e o tempo ser inversamente proporcional. 

Depois, e como há avaliação (embora antes já a houvesse!), há uma preocupação em registar à força seja o que for, desde o professor aos meninos, diminuindo o tempo útil para “falar”.

Ouvindo falar mais do que falando, o aluno corrige-se a si próprio, ouve correctamente e estrutura o seu pensamento com novos conhecimentos, integrando naturalmente sem necessitar de compreender porque as coisas são assim.

Ouvindo então falar bem, começará a falar melhor; falar melhor leva a descobrir o prazer de falar; descobrindo isso, falará mais quer na aula quer nos espaços de partilha de grupo; falando mais desenvolve a estrutura da língua; desenvolvendo a estrutura aprende a escrever naturalmente (com o devido apoio indispensável!); aprendendo a ler e a escrever compreende o que lhe é pedido; compreendendo o que lhe é pedido, aprende com facilidade e promove a auto-aprendizagem!
Porque não se pode dar aulas ao sabor da vontade, e integrar os conteúdos nessas vontades sem planeamento?

Porque tudo tem de ser fundamentado? Nem tudo na vida tem razões visíveis, nem tudo pode ser quantificado e racionalizado, e quando falamos de ensinar o objectivo último é que interessa, porque os meios obrigatórios que nos impõem para chegar a um fim não se justificam.

As planificações anuais de agrupamento são desnecessárias porque existem os programas oficiais que definem as metas anuais!

As planificações mensais são desnecessárias porque ao fim de uma semana, quem conseguir estar dentro dos prazos não respeita os ritmos dos alunos!

As planificações mensais de agrupamento então muito menos, porque duas escolas lado a lado podem não conseguir seguir o plano já que as variáveis humanas não são máquinas uniformes!

As fichas de avaliação comuns de agrupamento são perda de tempo porque não reflectem cada escola, cada método e cada vivência interna, mesmo com os mesmos livros e materiais!

Então para quê tudo isto? Porque se tem a ideia de que o insucesso escolar está ligado aos professores e não à realidade politico-educativo-social!

Para serem espaços de reflexão entre professores, para debater as dificuldades do exercício docente, para partilhar experiências e estratégias sem medos de critica ou de ouvir que cada um que se desenrasque porque não há tempo para isso.

Sim, o tempo que cada um dedica aos seus parceiros de profissão é pequeno porque se perde tempo em tarefas laterais.

Poderão dizer que essas reuniões não levariam a lado nenhum, mas isso seria só de início. O ser humano é capaz das maiores proezas! Se fossemos obrigados a estar as duas horas numa sala com carácter de obrigatório a olhar uns para os outros, acabaria por chegar o momento em que começaríamos a fazer o que de melhor todos temos e sabemos, e que foi um dos pilares da nossa evolução: comunicar uns com os outros!

Então porque não o fazemos? Porque como qualquer menino e menina, se não formos estimulados a partilhar, não o fazemos!

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