quinta-feira, 23 de março de 2017

ESQUIZOFRENIA PARANOÍDE

LUÍSA VAZ
Contrariamente ao que se possa pensar, não vou escrever um artigo sobre saúde mental mas para que se entenda o propósito destas linhas convém definir essa patologia. Assim e resumidamente, em saúde psiquiátrica, esquizofrenia paranóide é definida como: “A esquizofrenia paranóide se caracteriza como um subtipo de esquizofrenia que tem como característica essencial a presença de delírios e alucinações de carácter persecutório ou grandioso, em sua grande maioria.”

Ao ler esta definição mais convencida fico que este é o estado em que se encontram pelo menos os governantes deste País bem como quem os apoia e aceita o que se diz acerca dos “bons resultados” que têm sido obtidos de há um ano e meio a esta parte.

Toda esta situação toma uma proporção ainda maior se considerarmos as declarações feitas pelo Presidente do Eurogrupo e actual Ministro das Finanças holandês. O senhor não disse nada de mal, limitou-se a constatar uma realidade que muitos sussurram que existe mas que não gostam que seja assumida por “estrangeiros”.

O senhor em causa é socialista e o seu Partido foi fortemente penalizado no último acto eleitoral que decorreu há dias. Apesar de o ter afirmado em entrevista a um jornal alemão e já todos sabermos que esta é uma língua que regra geral os portugueses não dominam – veja-se o caso das primeiras declarações da Sra. Merkel que foram completamente vilipendiadas dando lugar a ruído desnecessário e a explicações para que se entendesse o que quis dizer – o que o senhor disse textualmente foi: "O pacto na zona euro baseia-se na confiança. Com a crise do euro, os países do norte na zona euro mostraram a sua solidariedade para com os países em crise. Como social-democrata considero a solidariedade extremamente importante. Mas quem a exige, também tem obrigações. Não posso gastar todo o meu dinheiro em álcool e mulheres e continuar a pedir ajuda. Este princípio aplica-se a nível pessoal, local, nacional e, inclusivamente, europeu."

Mas o que foi percepcionado e passado pela comunicação social foi algo de uma gravidade atroz como se de um insano insulto se tratasse. O senhor Jeroen Dijsselbloem fez uma análise do comportamento português baseado nos relatórios que lhe chegam às reuniões periódicas do Eurogrupo, e aos consequentes números dos relatórios apresentados pelo Governo português e sabendo que as Reformas tão necessárias que tiveram inicio na Legislatura anterior foram por este Executivo travadas e revogadas pelo que não será necessário ser um génio da Economia para perceber que se o célebre “déficit mais baixo da História” foi conseguido com medidas adicionais e não com o crescimento da Economia e da riqueza (incluindo IDE) e se as Reformas estruturais não são feitas, o único caminho a que Portugal pode ambicionar é o de uma 4ª bancarrota nos próximos meses. O senhor Jeroen Dijsselbloem disse o que todos pensam mas em nome da estabilidade e do medo da extrema-Direita da Sra. Le Pen, têm medo de admitir mas essa realidade está aí e só não vê quem não quer.

Por cá assistimos a uma onda de histeria completamente desmedida e despropositada. As pessoas querem acreditar no que diz o senhor dos Afectos e nas notícias que vêm da Assembleia da República de que está tudo bem e que Portugal apesar de querer trabalhar menos horas e sobrecarregar o Estado com funcionários desnecessários é um povo trabalhador que paga as suas contas. E na génese é. O cidadão português é na sua grande maioria trabalhador, dedicado e cumpridor das suas obrigações mas o Estado não é. Este Estado pelo menos.

As dívidas aos fornecedores voltaram a aumentar mas os funcionários públicos viram os seus cortes repostos sem contrapartidas, o dinheiro tem que vir de algum lado e os votos são caros. Para este Executivo, mais vale não pagar o que se deve para se ter dinheiro para pagar os votos nas eleições. Ora lá fora também se vê isto. Também se vê que quando é para pedir emprestado somos uns coitadinhos e tudo aceitamos mas quando é para pagar afirmamos que os juros são usuários e tudo o mais que possa servir de desculpa.

O senhor segundo-ministro desta República, o senhor Costa veio imediatamente catalogar o seu homólogo partidário de racista, xenófobo e mais uma série de mimos. Deve ter sido da raiva por lhe estar a estragar a festa que até arriscou ir mais longe e dizer o que não tinha dito até aqui sobre as eleições holandesas – que o Partido do senhor Presidente do Eurogrupo tinha perdido as eleições. Se nos recordarmos das reacções desta pantominice que ocupa maioritariamente o Hemiciclo, facilmente nos lembramos que todos sem excepção afirmaram ter sido uma derrota histórica da Direita holandesa quando o único Partido que efectivamente perdeu votos foi o Socialista. Admito que o senhor Costa se tenha arrependido do que disse imediatamente após tê-lo dito mas também não importa porque não será por aí que a nossa tão atenta comunicação social pegará para o fazer entrar em contradição. Tal como o senhor Pinto de Sousa de quem é fiel seguidor, o senhor Costa também consegue ter uma relação esquizofrénica com a comunicação social – não gostam dele mas sorriem servilmente sempre que ele passa como se ele fosse alguém de quem se devesse ter medo ou sequer respeito. Em Portugal infelizmente a Comunicação Social insiste em renegar o seu papel de 4º Poder para continuar a ser subserviente à elite de Esquerda que lhe convém. Se isto não é um sintoma de esquizofrenia não sei o que será.

Por outro lado, a população gosta do senhor dos Afectos e de achar que ele “é um dos deles”, sente-se protegida por ele como se fosse órfã de Pai. Outra coisa que não se compreende e que terá elevados custos pois se muitos são os informados que já se arrependeram de o ter ajudado a chegar a Belém muitos são aqueles que continuam crédulos no Afecto e que ficarão definitivamente assustados quando for anunciada a 4ª bancarrota. Ele faz, qual ilusionista, com que os mais crentes acreditem que está tudo bem e que um País que não cresce nem se desenvolve não encerra em si a culpa mas deve atribui-la aos idiotas dos investidores que não investem cá. Não investem e fazem muito bem, a elite é nossa, nós permitimos que ela exista por isso somos nós os únicos responsáveis por continuar a sustentá-la. Os investidores devem colocar o seu dinheiro onde ele deve estar, em sítios onde proporcione lucro.

Assusta-me portanto ver que há 2 milhões de portugueses que não escolheram este problema de desgoverno mas que o aguentam calados enquanto os que aleatoriamente nos ofereceram esta pantominice andam todos alegres a achar que estamos todos ricos. Nas televisões portuguesas, a menos que haja um atentado ou algo que assuste e fragilize as populações, não se fala da Europa. Todos os dias diplomas são aprovados em Bruxelas, todos os dias há reuniões dos grupos de trabalho, não poucas vezes há plenários e a menos que alguém “nos insulte” ou seja, a menos que alguém diga a verdade sobre o que cá se passa, não há notícias sobre as actividades das estruturas europeias e eu considero que ajudaria a que percebêssemos como funcionam, o que pretendem e o que estão dispostos a fazer para o atingir. Torna-se difícil fazer parte de uma família da qual nada conhecemos ou que não entendemos. Estamos no entanto sempre a tempo de mudar isso, assim queiramos uma população mais informada e conhecedora do que se passa no Mundo. Mas infelizmente o mesmo se passa em relação aos EUA, se Donald J. Trump cometer alguma asneira sai em tudo o que é canal de manhã à noite mas se ele tiver uma semana tranquila ficamos sem a mínima noção do que se passa nos EUA e na política americana que cá encontra tantos seguidores e defensores acérrimos. Essas pessoas mereciam mais consideração, acho eu.

Mas acima de tudo, como cidadãos do Mundo, merecíamos uma melhor informação, mais isenta, mais cuidada, mais ampla e abrangente que não desse aos portugueses a sensação que estão sozinhos no Mundo e só são falados para serem insultados mas que existe todo um Mundo lá fora e mesmo que indirectamente, Portugal também faz parte dele.

Mas não convém. Não convém que as pessoas não ouçam quem não debita a cartilha, não convém que as pessoas pensem, não convém que perguntem ou que façam contas. Não convém que percebam como as coisas funcionam pois assim, com frases-feitas e discursos “Cerelac” torna-se muito mais fácil manipula-las e levá-las a achar que a vida miserável que levam é uma maravilha ou porque nas palavras do senhor dos Afectos: “ É bom porque podia ter sido pior e não foi” ou nas palavras do segundo-ministro: “ Podia ser pior, se eu não tenho manobrado a Constituição para chegar ao Poder que acho que mereço, Passos Coelho ainda estaria legitimamente a governar e as coisas até poderiam estar a correr bem. Com austeridade assumida e direccionada, com aumento das exportações, do IDE, da criação de riqueza e credibilidade nacional mas ainda assim, com austeridade. Mas não, estou cá eu para ajudar a destruir o que sobrou mas reponho salários – não os posso pagar mas reponho porque preciso dos votos. Vamos virar a página da austeridade e se tiver que subir impostos, demito-me. Sim, viramos a página dos impostos directos para os indirectos e a subida dos impostos foi claramente culpa de Passos Coelho e de Bruxelas”. E assim feliz e contente seguiria o senhor segundo-ministro com aquele ar tão característico pela estrada fora “aos pinchos e aos saltos”.

É deprimente e desanimador que depois de um exaustivo e duro Memorando de Entendimento que lançou as bases para a Reforma do País e das suas Instituições, estejamos a “andar para trás” a passos largos e tenhamos que ouvir este tipo de informações daqueles que nos ajudam sempre que pedimos não porque precisemos mas porque temos elites demasiado gulosas que se sabem governar mas não nos sabem governar enquanto Nação e enquanto Povo. Por isso aguentemos e agradeçamos a ajuda que nos dão enquanto no-la derem porque “paciência tem limites” e o “dinheiro está cada vez mais caro” para ser esbanjado com “pobres (de espírito) com mentalidade de ricos”.

Daí que eu considere ser este o diagnóstico da nossa sociedade actual e que a prescrição deveria ser passada o quanto antes para começarmos o tratamento sem medo de futuras reincidências da doença pois para mim o que se passou em 1979/83 e novamente em 2011/2017 já é um bocadinho demais. Eu gostava de ainda gozar parte da minha idade adulta num País europeu aberto e desenvolvido e acredito que tal seja possível. Vai custar um pouco a mudar mas no fim vai valer muito a pena.

1 comentário:


  1. Ao contrário do que se possa pensar, o meu comentário é sobre "saúde mental"...

    “A esquizofrenia paranóide se caracteriza como um subtipo de esquizofrenia que tem como característica essencial a presença de delírios e alucinações de carácter persecutório ou grandioso, em sua grande maioria.” (Passo ao lado do "brasileirismo" certamente retirado de um qualquer compêndio )

    Eu nem preciso de "regressar" há seis anos atrás, a 2011, basta-me assistir, nos dias de hoje, à histeria paranóide, patente, cada vez mais patente,num tipo cada vez mais enterrado não suas alucinações persecutórias ! Falo de passos coelho, vociferante, gestos largos, (sempre os mesmos, qual triste "marionete"...),dedo "acusador" em riste, a emblemática MENTIRA sempre pronta, sempre grandiosa,sempre presente custe o que LHE custar !
    Porque sabe que, já que perdido por cem, então que seja perdido por mil, a ele tanto lhe faz !"! O desespero, ele sabe-o, já é irreversível, e a raiva é a consequência, já adivinhando a aparatosa queda, as vozes e a contestação interna cada vez mais ousadas !

    Nem preciso de NENHUM esforço para ver aquilo que toda a gente vê, (toda a que "quer ver" entenda-se !)todos os dias ! Nem me detenho em pormenores "autárquicos" hoje tão em voga, considerados de "emergência" por alguns de "dentro" e outros de fora do partido ! As "24" soluções" que deram "nega" a um figurão cada vez mais só...

    E quanto às "declarações" do sr. "coiso" lá da Holanda, país para onde os "senhores" das grandes empresas fizeram a "transumância" dos seus rendimentos, talvez (esses sim...) para os gastarem nos "copos" e no bairro vermelho de Amesterdão, quanto às declarações do "coiso", dizia eu, a "histeria" não foi só do Costa ! Ela foi acompanhada,por todos os partidos DE TODOS OS QUADRANTES, incluindo os "pafiosos" ! De tal maneira, que fiquei completamente "extasiado" com o "frémito declarativo" de um mota soares na A. R., um dos desvairados responsáveis pela degradação da Segurança Social, da fome de crianças e idosos !Talvez fosse "só para fazer número", sem convicção, e para agradar aos cada vez menos apoiantes!

    E a avaliar pela análise da articulista, que reduz o "caso" e considera que a onda que perpassou pela comunicação social "foi algo de uma gravidade atroz como se de um insano insulto se tratasse" !

    O que o "coiso" holandês fez, porque quer agradar ao schäuble (uma espécie de seu "menino bonito" como a d. albuquerque...)para que ele o apoie na manutenção do cargo no Eurogrupo, que com a derrota eleitoral do seu partido, estatutariamente, devia perder , o que ele, o disjselbloem fez foi um monstruoso insulto À DIGNIDADE dos Povos dos países do Sul, concrectamente a Portugal, sujeito a quatro anos e meio de destruição torpe e abjecta, que multiplicou milionários, e agravou as condições de vida de milhões de Portugueses, muitas vezes, como agora se vai comprovando, desnecessariamente e além da troika, porque eram "consequências adversas" (palavras do títere ex-primeiro") do "xarope" que tinham(mos) que engolir, porque "viviam(mos) acima das nossas possibilidades" !

    E arranjar "argumentos" para branquear insultos, não é uma "característica" que se adapte a essa "quase totalidade" de Portugueses !

    DIGNIDADE, DIGNIDADE, DIGNIDADE, foi o que os anos de chumbo que nos fizeram passar, não retiraram à "quase totalidade" dos Portugueses !

    Felizmente !

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