domingo, 19 de março de 2017

POR TODA A PARTE MULHER GENTE

JOANA M. SOARES
Por toda a parte a tua semente, mulher gente. Li esta frase algures no emaranhado de caminhos da internet, precisamente na semana em que o deputado polaco do parlamento europeu, Janusz Korwin-Mikke, recebeu as sanções por ter afirmado em plenário parlamentar que as mulheres são mais fracas e menos inteligentes do que os homens.

Estes factos – não alternativos – aconteceram no dia 2 de março de 2017. 2017. Na vanguarda do século XXI, palavras escancaradas à luz dos chamados tempos modernos.

Muitos abriram a boca de surpresa. A eurodeputada espanhola, Iratxe García, perplexa, ainda lhe gritou qualquer coisa, mas insuficiente para o tamanho do discurso calamitoso. 

Esta crónica poderia ser a enaltecer o papel da mulher, que são muito boas, que fazem contas de multiplicar em todas as suas tarefas. Mas não. É um texto simples. De um ser humano para outro ser humano. Não é o género, é uma questão de pele e osso. 

A mim surpreende-me a brandura do castigo europeu. Pergunto-me se fosse uma mulher a dizer esse tipo de disparate. O que aconteceria? Parece-me pouco uma multa e uma suspensão.

Que tal serviço comunitário na Nigéria onde ainda hoje, neste 2017, meninas são genitalmente mutiladas? Que tal voluntariamente procurar mulheres escravas por esse mundo fora, vítimas de tráfico humano? Que tal escrever teses sobre grandes mulheres que assinam feitos históricos como a Bertha Lutz, que descobrem fórmulas químicas como Marie Curie , que foram prémios Nobel como Malala Yousafzai ou A escritora Doris Lessing. Ou simplesmente como as mulheres que me rodeiam e são meritórias em tudo o que fazem com a pele e os ossos que trazem. 

Arregaçar as mangas para esta mentalidade que nos assusta e ameaça. 

Safou-se a Holanda, a dar um suspiro de alívio nesta europa à deriva, que meteu a extrema direita na lamparina do génio e continua livre, a boiar num melting pot que a caracteriza.

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