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JORGE NUNO |
A uma semana do início do Jogos Olímpicos (J.O.), a realizar no Rio de Janeiro, somos confrontados com boas notícias, relacionadas com prestações de alto nível por atletas portugueses, em várias modalidades. Num curto espaço de tempo, independentemente de os portugueses serem ou não apreciadores de desporto, viveu-se no país grandes momentos de “orgulho nacional”.
No topo, por se tratar do “desporto-rei”, o feito da seleção nacional de futebol (AA), ao sagrar-se campeã da Europa. Foi uma final emotiva, tendo como adversária a França – que jogava em casa –, com Éderzito no papel de herói improvável (que reconheço… eu próprio ficava “angustiado” sempre que via a sua convocatória e via o selecionador metê-lo em campo, mesmo que fosse a poucos minutos do fim do jogo). Igual título, conseguiu-o a seleção nacional de futebol sub-17, em maio passado, frente à Espanha. Portugal, no desporto universitário, representado em futebol pela Universidade do Minho, também é campeão europeu, ao vencer a Alemanha.
A seleção nacional de futebol de praia conquistou, na Sérvia, a taça europeia, ao derrotar a Itália, na final, por 6-3. O título de campeão da Europa também assentou bem na seleção nacional de hóquei em patins, que saiu vitoriosa em todas as partidas, e ganhou a final, frente à seleção da Itália, por um expressivo 6-2, após estar a perder, ao intervalo, por 0-2. Sara Moreira, sagrou-se campeã da Europa da meia-maratona, com Jéssica Augusto a trazer a medalha de bronze e Portugal, coletivamente, a vencer a taça da Europa de atletismo. Patrícia Mamona é campeã europeia na prova de triplo salto. Fernando Pimenta, em K1 (canoagem), sagrou-se campeão da Europa nas provas de K1 1000 e K1 5000 (metros). Tsanko Arnaudov, nascido na Bulgária e a viver em Portugal desde os 12 anos, conquistou prata na taça da Europa de lançamento, prova realizada na Roménia. Ainda no desporto universitário, a nível europeu, a equipa da Universidade de Coimbra é campeã de ténis feminino; Ana Madureira, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro é vice-campeã em Karaté Kumite – 50 kg feminino; a Universidade Nova de Lisboa é vice-campeã em rugby de sete masculina, e as Universidades do Porto e do Minho obtiveram bronze, respetivamente em rugby de sete feminino e em andebol masculino.
A nível mundial, também foram conquistados títulos por atletas portugueses. Tiago Ferreira venceu o campeonato do mundo de maratona BTT (XCM). Os irmãos Diogo e Pedro Costa sagraram-se campeões do mundo na classe 420 (vela). Fernando Pimenta, Emanuel Silva, João Ribeiro e David Fernandes, participaram nos mundiais de canoagem, em Moscovo, e são agora vice-campeões do mundo de K4 1000. Na taça do mundo de canoagem, realizada em Montemor-o-Velho, ficaram 7 medalhas em Portugal, em que Emanuel Silva e João Ribeiro obtiveram ouro, em K1 1000. Maria Inês Pereira Ferreira, com apenas 12 anos, participou no campeonato World Jump Rope, em França, e arrecadou 11 medalhas, uma delas de ouro, outra de prata e seis de bronze.
Penitencio-me se me esqueci de referir algum atleta ou título, mas se aconteceu foi, naturalmente, um ato involuntário. Mesmo assim, os muitos títulos descritos reportam a 2016 – o que não deixa de ser surpreendente para um país pequeno em tamanho, mas grande na demonstração da vontade de vencer – e ainda o ano vai a pouco mais de meio! Temos aí à porta os J.O. e, com esta onda de confiança e positividade, tudo aponta para que a delegação portuguesa tenha uma prestação muito digna e conquiste mais umas quantas medalhas.
Desde sempre que sinto um enorme fascínio pelo J.O., a ponto de, ainda jovem, ter iniciado duas coleções, uma de filatelia temática e outra de maximafilia
[1], ambas com a temática do Olimpismo. Fui ao baú… e na “Introdução” pode ler-se: “A caraterística mais importante das Olimpíadas antigas, que se realizavam na Grécia, era a trégua sagrada: não se permitia a ninguém pegar em armas, suspendiam-se todas as disputas e não se executava ninguém durante a celebração dos Jogos. Esse ideal grego não era praticar desporto, mas adestrar-se e aperfeiçoar-se física e militarmente. Após a interrupção de 1503 anos o ideal olímpico foi retomado, obviamente noutros moldes, pela iniciativa e esforços de Pierre de Coubertin
[2], que conseguiu que os primeiros J.O. da Era Moderna se realizassem em Atenas, no ano de 1896, apesar do delegado grego ter sugerido o ano de 1900, devido à Grécia estar à beira da bancarrota”. Pierre de Coubertin, em 1925, viria a demitir-se de presidente do Comité Olímpico Internacional (COI) ao ver (re)introduzidas provas desportivas de que não era partidário, como hóquei, futebol e polo, e todas as provas femininas, que rejeitava, pois era apologista, tal como nas Olimpíadas antigas, que só os homens poderiam participar.
“(…) A ideia olímpica pretende a aproximação das nações, assentando a paz universal numa base sólida. Essa paz, no decorrer dos Jogos, foi por vezes ensombrada [pela guerra, atos terroristas, boicotes…] e alguns deles não se realizaram com a periodicidade prevista, mas há que acreditar que a juventude de todos os países, através do Olimpismo, está pronta a estender as mãos fraternalmente”.
Escrevi também na “Introdução” das referidas coleções: “O desporto converteu-se num elemento essencial da cultura humana, um fator de saúde individual e coletiva, de tal significado, que o dinamismo e as virtudes de um povo podem ser avaliados, com exatidão surpreendente, pelo êxito dos seus atletas nas competições internacionais”. Três décadas depois, estava bem longe de sonhar que haveria graves problemas de credibilidade com a grande Rússia, que ganhou, em casa e no ano de 2014, o maior número de medalhas nos J.O. de inverno, em Sochi. É que a Agência Mundial Antidopagem (AMA) referiu, no relatório que foi entregue ao COI, que o “Governo russo dirigiu um programa de dopagem no desporto, com apoio estatal, com participação ativa do ministro do Desporto e dos Serviços Secretos”. Esse relatório demolidor, levou o COI a suspender esta potência desportiva das competições olímpicas, para depois retroceder na decisão de punir sumariamente todos os atletas, mesmo perante 68 recursos rejeitados pelo Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), referente a atletas russos. Mesmo com a decisão final remetida para as Federações Internacionais das várias modalidades, o ideal olímpico ficará desvirtuado. E já vai em mais de 100 atletas russos afastados dos J.O. no Rio! Ainda que um atleta russo vença uma competição, com verdade desportiva, ficará sempre a pairar no ar a suspeição de possível dopagem.
Mesmo perante feitos gloriosos, por cá… nem tudo são rosas! O selecionador Rui Jorge, que tem feito um excelente trabalho à frente da seleção nacional de futebol sub-21, e também responsável pela seleção olímpica, tendo jogadores portugueses de classe superior para formar uma seleção, levá-la ao Rio de Janeiro e fazer um brilharete… referiu em conferência de imprensa o “surreal” de quase não conseguir formar uma equipa. Terá feito 35 convocatórias e apenas conseguiu 11 jogadores! A causa? Como ele próprio mencionou: “por nega de alguns clubes”. Escolheu, posteriormente, mais 8 jogadores que também foram negados. Pois é… esquecemo-nos que a cedência de jogadores, pelos respetivos clubes, para o EURO 2016, valeu aos clubes uma “renda” diária de 6500 euros por jogador. A título exemplificativo, isto faz com que o Sporting Clube de Portugal (que foi o maior fornecedor de jogadores para a seleção nacional) venha a receber, da UEFA, cerca de 1,1 milhões de euros
[3] pela utilização de Rui Patrício, William Carvalho, Adrien Silva e João Mário! Pois é… esquecemo-nos quão devem ser “amadores” os atletas olímpicos e que as Sociedades Anónimas Desportivas (SAD), que por vezes denotam grande amadorismo, agora porque não faturam diretamente com essa cedência (já que os J.O. saem da alçada da FIFA) é-lhes fácil dizer “não”, sem qualquer consequência. Nem sequer repararam que deixam fugir esta “montra” para valorização do passe dos seus atletas, nem se importam que a representação olímpica de futebol, neste país de craques de futebol, não passe da mediania.
Mas para a história ficam as 23 medalhas olímpicas obtidas pelos respetivos atletas, em representação de Portugal.
– 4 medalhas de ouro: Carlos Lopes, maratona (Los Angeles, 1984); Rosa Mota, maratona (Seul, 1988); Fernanda Ribeiro, atletismo – 10.000 m (Atlanta, 1996); Nelson Évora, triplo-salto (Pequim, 2008);
– 8 medalhas de prata: irmãos Duarte e Fernando Bello, vela – classe swallow, (Londres, 1948); irmãos Mário e José Quina, vela – classe star (Roma, 1960); Carlos Lopes, atletismo – 10.000 m e Armando Marques, tiro – fosso olímpico (Montreal, 1976); Francis Obikwelu, atletismo – 100 m e Sérgio Paulinho, ciclismo – linha em estrada (Atenas, 2004); Vanessa Fernandes, triatlo – individual (Pequim, 2008); Fernando Pimenta e Emanuel Silva, canoagem – K2 1000 m (Londres, 2012);
– 11 medalhas de bronze: Aníbal Almeida, Hélder Martins, José Mouzinho de Albuquerque e Luís Cardoso Menezes, equestre – prémio das nações (Paris, 1924); Paulo d’Eça Leal, Mário de Noronha, Jorge Paiva, Frederico Paredes, João Sasseti e Henrique Silveira, esgrima – espada por equipas (Amesterdão, 1928); Luís Mena da Silva, Domingos Coutinho e José Beltrão, equestre – prémio das nações (Berlim, 1936); Fernando Paes, Francisco Valadas, Luís Mena Silva, equestre – ensino por equipas (Londres, 1948); Joaquim Fiúza e Francisco Andrade, vela – classe star(Helsínquia, 1952); Rosa Mota, maratona e António Leitão, atletismo – 5.000 m (Los Angeles, 1984); Hugo Rocha e Nuno Barreto, vela – classe 470 (Atlanta, 1996); Fernanda Ribeiro, atletismo – 10.000 m e Nuno Delgado, judo – 81 kg (Sydney, 2000); Rui Silva, atletismo – 1.500 m (Atenas, 2004).
Honra e glória aos vencedores, no uso da verdade desportiva!
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[1] Maximafilia – colecionismo de postais máximos, a que corresponde um cartão postal, selo postal e carimbo filatélico, com condordância dentro do mesmo tema, juntando na mesma peça a filatelia, a cartografia e a marcofilia.
[2] Pierre de Coubertin – barão, nascido em Paris em 1863, pedagogo do desporto, tendo morrido arruinado ao ter dedicado a sua vida e a sua fortuna à causa do desporto.
[3] Valor que resulta de um memorando de entendimento entre a UEFA e a Associação dos Clubes Europeus, válido para o EURO 2016.