MARCOS PORTO |
Uma das mais célebres de todas estas lutas ocorreu no primeiro dia de Maio de 1886. Foi precisamente à cento e trinta anos, que se deu a Greve dos Três Oitos. As ruas de Chicago inundaram-se com as vozes de protesto de milhares de operários, que numa manifestação histórica, paralizaram quase na totalidade o sector industrial da maior cidade norte-americana da época.
Oito horas de trabalho, oito horas de lazer e oito horas de repouso’, foi este o lema que juntou mais de 50 mil trabalhadores numa luta sem precedentes contra as jornadas laborais que frequentemente se estendiam até às 18 horas diárias.
Ao cabo do terceiro dia da greve geral, as forças policiais de Chicago avançaram sob a multidão, registando-se 6 mortos e dezenas de feridos. No dia 4 de Maio, debaixo de um clima de tensão quase palpável, um explosivo é detonado na praça de Haymarket, desta vez, atingindo vitalmente um oficial da polícia. Os confrontos que se seguiram mancharam as páginas da História de sangue, John Bonfield, chefe da polícia de Chicago ordenou aos 180 agentes presentes que abrissem fogo sobre os manifestantes. O massacre foi opulento mas o número de vítimas é pouco preciso.
Revolta de Haymarket, 1886 |
Em homenagem aos mártires de Chicago o Congresso fundador da II Internacional, reunido em Paris a 14 de Julho de 1889 (primeiro centenário da Revolução Francesa) propôs a proclamação do 1º de Maio como o Dia Internacional do Trabalhador, elevando-o a símbolo máximo da afirmação do internacionalismo proletário, de reclamação do sufrágio universal, de resistência à opressão e de afirmação do direito à organização política autonoma da classe operária.
Hoje em dia já não são muitos aqueles que cantam a Internacional. Apesar de todas as conquistas conseguidas desde o século XIX, o estatuto de trabalhador ainda se encontra, aparentemente, em fase de rascunho.
Em Portugal as condições de precariedade passeiam pelas calçadas juntamente com a população. Aos trabalhadores da cultura, a precariedade é-lhes inerente, uma característica inata que parece impossível de modificar. O artista, além de não ser reconhecido enquanto profissional, foi pintado a viver apaixonadamente entre telas em águas-furtadas, boémio e extravagante, necessitando pouco mais do que a sua volatilidade criativa para sobreviver.
A relação intersubjetiva e as intervenções simbólicas que a arte produz desfoca o debate acerca da realidade do artista enquanto trabalhador. Carreiras profissionais asssemelham-se a uma sucessão aleatória e caótica de travessias no deserto, onde contratos de trabalho são tão comuns quanto os oásis. Os vínculos laborais são geralmente intermitentes e instáveis. Os pagamentos a recibos verdes são comuns, acompanhados de uma ausência de protecção e direitos sociais da profissão. Os apoios públicos às instituições culturais existentes em todo o país são escassos, ficando os artistas dependentes da gestão e interesses de grupos empresariais multinacionais. Para além disso, não existem mecanismos eficazes de fiscalização das condições de trabalho ou movimento sindical significativo. A instabilidade, precariedade e intermitência normalizadas são obstáculos acrescidos a formas de organização colectiva.
É fundamental que se acimentem os alicerces de um ambiente cultural dinâmico, criativo e inovador em todos os domínios das artes, o que apenas será possível se oferecermos aos nossos artistas as garantias sociais de que beneficiam todos os outros trabalhadores europeus, em complemento da garantia de liberdade artística que lhes é indispensável.
É fundamental lembrar que os artistas são também trabalhadores. É fundamental que nunca se esqueça A Internacional. Mas mais importante do que recordar a história é escrevê-la, é cantá-la, é esculpi-la e é pintá-la.
“Se nada somos neste mundo, sejamos tudo, oh produtores!”
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