sexta-feira, 13 de maio de 2016

A HISTÓRIA DOS EUROPEUS DE FUTEBOL – BÉLGICA 1972


O mesmo formato de sempre: um olhar sobre a fase de grupos

GONÇALO NOVAIS
Foram 32 as federações que iniciaram mais uma campanha de apuramento para o novo certame, sendo que começamos logo no Grupo 1 com uma boa campanha da Roménia, que graças a um forte sector defensivo (onde pontificavam os mais experientes Nicolae Lupescu e Lajos Satmareanu e o jovem Cornel Dinu) e a bons elementos no meio-campo (entre os quais o bem conhecido treinador do Shakhtar Donetsk Mircea Lucescu), conseguiu superar um grupo onde também estavam presentes as competitivas selecções da Checoslováquia e País de Gales, com a Finlândia a ser claramente a equipa mais fraca do grupo.

O Grupo 2 era praticamente um “grupo da morte”, com três putativas candidatas à passagem à fase seguinte. Acabaria por ser a talentosa equipa da Hungria, com Ferenc Bene em evidência pela sua inspiração na hora da finalização, a eliminar a Bulgária e a França, com a Noruega a fazer, desta vez, uma má campanha, conquistando apenas um ponto nos seis jogos.

Já sem Bobby Charlton, mas ainda com Bobby Moore, Gordon Banks, Martin Peters ou Geoff Hurst, jogadores com vasta experiência internacional, a Inglaterra realiza no Grupo 3 uma campanha quase irrepreensível, onde apenas não venceu o jogo em casa diante da Suíça (1-1), superiorizando-se de resto em todos os outros jogos, sendo de destacar a vitória inglesa em Basileia (3-2), que praticamente decidiu o primeiro lugar no grupo.

No Grupo 4, o esperado duelo entre URSS e Espanha acabou favorável aos soviéticos, que ainda não tinham falhado o acesso a uma única fase final. O jogador mais em destaque na campanha da URSS foi o médio do Dínamo de Moscovo Evryuzhikhin, com três golos apontados na fase de grupos. O primeiro lugar ficou definido em Sevilha, quando o embate entre espanhóis e soviéticos se saldou por um nulo, isto já depois da vitória da URSS em casa (2-1).

Num grupo 5 que será referido mais à frente, a Bélgica passa aos quartos-de-final, superiorizando-se a Portugal e à Escócia. Além de apresentar ao Mundo o seu talentoso médio criativo Wilfried van Moer, que também brilhava no Standard de Liége, a Bélgica foi aproveitando as perdas de pontos de portugueses e escoceses, particularmente nos jogos fora de casa, para amealharem um número de pontos suficiente para chegar aos «quartos». Os belgas ainda deixaram a decisão para a última jornada por força da derrota na Escócia (0-1), mas o empate a uma bola no Estádio da Luz apurou os belgas para a fase seguinte.

Sem surpresas a Itália ultrapassou o Grupo 6, e sem grande brilho mas com regularidade exibicional, lá se encaminhou para os «quartos», mantendo as suas aspirações à conquista de mais um título. Acabariam a uma distância segura da concorrência, composta por Áustria, Suécia e República da Irlanda.

No Grupo 7 a exuberância atacante da Holanda não foi suficiente para abater a Jugoslávia, que fez ver aos holandeses que, por muito inspirados que estivessem diante de selecções teoricamente menos fortes (só ao Luxemburgo a Holanda marcou 14 dos seus 18 golos), a conversa era outra quando tinham pela frente equipas de outro nível. Mais uma vez, a “estrela” da equipa Dragan Dzajic fez jus ao seu estatuto, marcando três golos, numa campanha que apesar de tudo não foi um “mar de rosas”, com três vitórias e outros tantos empates, entre os quais um nulo caseiro diante do Luxemburgo.

O Grupo 8 marcaria o início da consagração de uma das melhores selecções da história do futebol. A RFA, juntando jogadores de duas das melhores equipas da época (Bayern Munique e Borussia Monchengladbach), formaria uma equipa de grande nível, com vários jogadores de nível competitivo elevado (Gerd Muller, Beckenbauer, Sepp Maier ou Gunter Netzer), que não teriam apesar de tudo uma vida tranquila num grupo onde empataram dois dos três jogos em casa, apesar de terem vencido os outros quatro desafios.

Os quatro semifinalistas: duas estreias, um regresso e uma presença habitual

Esperou 12 anos mas a RFA lá chegou pela primeira vez à fase final de um Europeu, apesar de não ter tido propriamente sorte no adversário dos «quartos», a Inglaterra. O primeiro jogo em Wembley inclinou no entanto a eliminatória para o lado dos alemães, com uma vitória por 3-1, apesar de tudo suada, e conquistada apenas bem perto do fim, graças aos golos de Netzer (85’) e Muller (88’). Os comandados de Alfred Ramsey (o seleccionador da Inglaterra campeã mundial) tentariam aproveitar a maior dificuldade da RFA nos jogos em casa, e de facto não perdeu. Mas o 0-0 colocou na mesma os ingleses de fora da fase final.

Outra grande surpresa na chegada à fase final foi a estreante Bélgica. O dia 13 de Maio de 1972 ficará para sempre como um dos grandes dias da história do futebol belga, com Wilfried van Moer e Paul van Himst a alvejarem a baliza do guardião italiano Albertosi, que ainda viu Luigi Riva, de grande penalidade, reduzir para 1-2 aos 86 minutos. No entanto o resultado não sofreria mais alterações, e a Bélgica, que já tinha empatado a zero na primeira mão em Itália, festejou a inédita qualificação à fase final.

Equilibrada foi a eliminatória que deu o passaporte para a última fase à Hungria, que precisou de três jogos para afastar a Roménia. Após empates de 1-1 e 2-2 na primeira e segunda mão respectivamente, foi em Belgrado que os húngaros venceram por 2-1 o jogo de desempate, regressando assim à fase final, oito anos depois da sua última presença.

Sempre presente parecia ser a URSS. Já habituada a estas andanças, a selecção soviética afastou a Jugoslávia, conquistando um nulo fora de portas e um claro 3-0 em Moscovo, graças a uma excelente segunda parte, em que foram apontados os três golos da equipa soviética, face a uma desinspirada Jugoslávia, com Dzajic e restantes companheiros incapazes de travar o domínio adversário.

A consagração alemã na Bélgica

Bruxelas, Antuérpia e Liège receberam, entre os dias 14 e 18 de Junho de 1972, os quatro semifinalistas numa competição em que a própria Bélgica fazia a sua estreia absoluta em fases finais.

O adversário dos belgas nas meias-finais não podia, contudo, ter sido mais ingrato. Não podendo contar com o seu médio criativo Wilfried van Moer por lesão, os belgas viram o seu sonho de chegar à final a esfumar-se aos pés da RFA, com o «bis» de Muller a carimbar o passaporte alemão para a final. De nada valeu o golo de Polleunis (83’) que apenas gerou alguma imprevisibilidade quanto ao desfecho da eliminatória nos últimos minutos da partida.

Na outra meia-final, a sólida formação soviética não perdoaria a falta de aproveitamento das oportunidades da selecção húngara, e fixaria o resultado final graças a um golo de Konkov (53’). A Hungria podia ter empatado aos 85’ através de uma grande penalidade, mas Sandor Zambo desperdiçou essa ocasião soberana, e a Hungria teve de se contentar com o 4º lugar, uma vez que em Liège sofreria nova derrota contra os belgas (1-2), que graças aos golos de Raoul Lambert e Paul van Himst ainda no primeiro tempo, asseguraram o lugar no degrau mais baixo do pódio.

A final, de sentido praticamente único em direcção à baliza soviética, ficou marcada pelas grandes exibições de Beckenbauer e Netzer no meio-campo e pela capacidade finalizadora de Gerd Muller, que bisaria na final. Herbert Wimmer marcaria o terceiro golo sem resposta na vitória clara da RFA, que venceria o Europeu no seu ano de estreia.

Afirmaria Muller, a respeito da campanha e da equipa: “Funcionávamos na perfeição e havia um entendimento muito bom entre todos. Isso aplicava-se igualmente àqueles que ficavam de fora. Por isso, não podíamos pedir mais”. Estas seriam as bases de novo triunfo da RFA dois anos depois, dessa feita no Campeonato do Mundo de 1974, por ela própria organizado.

A participação portuguesa no Euro’ 1972

Tal como já se referiu, Portugal não foi além da fase de grupos, o que atendendo às campanhas anteriores, já não era de surpreender. Alguns jovens valorosos iam espreitando por uma oportunidade de afirmação na selecção das quinas (como os benfiquistas Humberto Coelho e Vítor Baptista e o grande guardião Damas, grande figura do Sporting), mas o brilho da equipa de 1966 já se ia perdendo, isto apesar de Portugal surgir no Grupo 5 como forte candidato ao apuramento para a fase seguinte.

As coisas começaram bem com a vitória fora de portas em Esbjerg, com Jacinto João a marcar o golo solitário com que Portugal derrotou a Dinamarca.

Porém, a derrota diante da Bélgica foi o primeiro sinal de que a qualificação podia não ser fácil. Raoul Lambert, com dois golos, e Andre de Nul puseram em evidência algumas fragilidades da defesa portuguesa, que mesmo com jogadores competentes nas zonas mais avançadas, não conseguiu marcar um único golo em Bruxelas.

Os dois jogos seguintes reavivaram as esperanças lusitanas. Eusébio e um autogolo de Pat Stanton ajudaram a levar de vencida a Escócia, e em segundo encontro contra os dinamarqueses a superioridade portuguesa foi mais do que evidente. Os cinco golos de Portugal foram marcados por Rui Rodrigues, Eusébio, Vítor Baptista (que «bisou») e por Erik Sandvad (autogolo). A Dinamarca não bateu por uma única vez Damas.

O próximo adversário seria a Escócia, que vinha de uma derrota no jogo anterior diante da Dinamarca (0-1), o que praticamente afastava os escoceses da luta pelo apuramento. Ainda assim, já na altura jogar na Escócia era difícil, e Portugal veio a comprová-lo da pior maneira, ao ser derrotado em Glasgow. John O’Hare inaugurou o marcador para os escoceses na primeira parte, mas Rui Rodrigues, aos 56’, igualaria o marcador, já sem Eusébio em campo, substituído ao intervalo por Artur Jorge. Mas a resposta dos escoceses foi pronta, e logo na resposta ao golo português, Archie Gemmill, aos 58’, seria o autor do golo que daria os dois pontos aos escoceses.

A derrota da Bélgica (0-1) na Escócia adiou a decisão do primeiro lugar para o embate entre portugueses e belgas na Luz. Mas o que aconteceu foi a confirmação do primeiro lugar belga graças a um empate a uma bola. Raoul Lambert voltaria a alvejar com sucesso a baliza defendida por Vítor Damas, sendo que só bem perto dos 90 minutos, Fernando Peres concretizaria com sucesso a grande penalidade que fixou o resultado final.

Portugal acabaria a fase de grupos na segunda posição com 7 pontos, atrás da Bélgica com 9, e à frente da Escócia com 6 pontos, e da Dinamarca com 2.

Nota: Este artigo foi realizado graças à informação facultada publicamente pela UEFA, no seu site oficial.

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