sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

SOBRE O PENSAMENTO



A vida não é longa nem curta, 

é a utilidade que lhe dá o tempo 

no ritmo do pensamento,

no compasso do coração, 

haja dor ou amor que a furta.


MANUELA VIEIRA DA SILVA
«É um defeito bastante comum, entre os homens, julgar de forma imprudente as acções e as intenções dos outros. E nele se cai, apenas, devido a um mau raciocínio, pelo qual, por não se conhecer de modo suficientemente distinto todas as causas que podem produzir um qualquer efeito, se atribui tal efeito precisamente a uma causa, quando pode, muito bem, ter sido causado por muitas outras (…)» (Aristóteles, «A Lógica ou A arte de Pensar»).

Este texto de Aristóteles, escrito há 18 séculos, em que enumera e define as boas regras de um bom raciocínio, parece ter sido usado apenas para filósofos e eruditos, aqueles que detiveram, ao longo do tempo, o domínio da escrita e da leitura. O povo não foi beneficiado, para que se mantivesse na ignorância, e, assim, obedecer cegamente aos vários tipos de poder. 

Com a Revolução Industrial e a respectiva ascensão de uma nova burguesia com poder económico, o ensino alargou-se, abrindo uma brecha para uma nova sociedade, a chamada Sociedade Moderna. 

Em Portugal, 90 por cento dos portugueses eram analfabetos nos anos 60 do século XX, embora já fosse obrigatório o ensino até ao 4.º ano. Passados mais de 40 anos do 25 de Abril de 1974, só recentemente passou a ser obrigatório o 12.º ano. 

Como podemos saber raciocinar se não possuirmos o conhecimento e a capacidade de análise? 

Todos os seres humanos possuem pensamento, uma área cerebral própria munida de ferramentas para raciocinar. Mas o cérebro só funciona com o que traz na sua genética, o restante é formado pelas aprendizagens e leituras, em suma, pelo que vai adquirindo e assimilando ao longo da vida do indivíduo. Ou seja, o cérebro é formatado pelo indivíduo que o possui, e é ele, indivíduo, o responsável pelo que nele próprio «deposita». 

Ora, a vida dos indivíduos, no geral, e de cada um em particular, nos nossos dias, gira à volta dos bens materiais, influenciados pela publicidade, pelos medias (que informam de modo filtrado), filmes (que, normalmente, integram violência, sexo ou emoções fortes), telenovelas (com cenas de intriga, inveja, ciúme, violência, arrogância e outras). 

Penso que não estamos no trajecto da construção de mentes sãs, nem a formar cérebros que saibam pensar com o conhecimento necessário a julgar a si próprios e muito menos os outros. 

Numa próxima crónica darei continuidade a este tema, para que esta não seja demasiado longa.

    


1 comentário:

  1. ..gostei muito de ler esta tua crónica...vejo-te socialmente preocupada contigo e com o outros...OBRIGADO, é desta preocupação que vão surgindo as vontades para irmos mais longe como povo, como gente Em 1974, no 25 de Abril, o regime anterior assumia o índice de analfabetismo de 42%...hoje as gentes reacionárias que nos vão governado escondem, (mitigam), este valor falando de 25 %....mas basta ver as estatísticas ao tempo...antes de 1976, quando o ensino básico ficou universal e obrigatório, o ensino básico ia até ao 6º ano, dizia, era obrigatório até à 4ª classe a todos os que vivessem a té 4km de distância de uma escola...portanto, não havendo escolas o povo não podia ir à escola nem era obrigado...durante 14 anos, o antigo regime fechou o magistério primário porque considerava que não era necessário, criou um diploma da 3ª classe e inventou os regentes que eram todos os que concorressem com a 4ª classe porque já era suficiente para ensinar até a3ª classe....até ao fim da década de 80 o único curso superior dirigido ao ensino era o de ciências naturais que para isso tinha um ramo dedicado ao ensino das botânicas e afins........Salazar e Cerejeira, como testas de ferro e pensadores do anterior regime defendiam que a humildade do povo só era de fato se se mantivesse esse povo na ignorância....este pensamento encontra-se exposto em documentos escritos por Cerejeira...a direita bem recente...veja-se durão barroso, passos coelho e paulo portas levaram até ao limite esta ideia do controle pela ignorância...há nestes tempos um homem que infelizmente já não existe e que foi um herói, o meu herói, MARIANO GAGO...durante 15 anos como ministro do ensino superior ...ele na minha opinião equivale.se à obra do infante d. Henrique que naquela época combateu a igreja e abriu em sagres uma universidade náutica...a igreja sempre dominou o povo com os seus dogmas lidos há letra nos livros ditos sagrados e só permitia que a ciência estivesse sob a sua alçada...em Portugal, em pleno século 20 a igreja ia castrando o povo com um mecanismo interessante também usado pelos judeus...no povoado quando um miúdo se destacava pela sua inteligência era imediatamente cooptado para os seminários gratuitamente...só os ricos que queriam ser padres tinham que pagar um enxoval....os outros miúdos, os que se não destacavam, eram acoitados pelos professores de forma sistemática até que desistissem de estudar....desculpa a intromissão e a seca ..beijinho
    augusto

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