RUI CANOSSA |
Estou a ficar velho. Quantas vezes repetimos isto. Mas de facto não estou sozinho nesta evidência inexorável do tempo. Em 2050 Portugal serão o mais envelhecido da União Europeia, acompanhando a demografia global. Seremos menos portugueses a viver no território nacional e estaremos mais velhos do que alguma vez na nossa história.
A esperança média de vida pouco se alterou entre o aparecimento do homem moderno, há 200 mil anos e a primeira metade do século XX. Durante milénios, os seres humanos viviam, em média, 35 a 45 anos. Atualmente a esperança média de vida é de 71 anos.
O envelhecimento acelerado da população por um lado é uma conquista da civilização e um reflexo da melhoria da esperança média de vida mas, por outro lado, e devido também à diminuição da população ativa e contributiva, coloca desafios significativos à economia, à capacidade de organização social e à sustentabilidade dos sistemas de proteção social e da própria saúde.
De facto, o índice de envelhecimento em Portugal é de 127,8%, ou seja, o número de pessoas com mais de 65 anos por cada 100 jovens com menos de 15 anos. Em 1991 este rácio era de 68.1%. Entre 1950 e 2000, a população idosa acima dos 65 anos mais do que duplicou. As projeções da ONU estimam que até 2050 uma em cada cinco pessoas em todo o mundo terá mais de 60 anos. O número de pessoas com 100 anos ou mais aumentará 15 vezes, ou seja, passará dos 150 mil em 2000 para 2.2 milhões em 2050. Já daqui a três anos, em 2020, haverá mais pessoas com 60 anos do que crianças até aos 5 anos, pela primeira vez na história da humanidade.
Em Portugal a esperança média de vida é de cerca dos 77 anos para os homens e 83 para as mulheres e a taxa de fecundidade é uma das mais baixas do mundo, 1.3 filhos por mulher, o que não permite a renovação das gerações. O Eurostat sugere que Portugal se tornará o 4º país mais envelhecido do mundo atrás do Japão, Coreia do Sul e da Espanha. Nos próximos 30 a 40 anos, 3 milhões de portugueses terão mais de 65 anos e 3.7 milhões serão pensionistas.
A atual situação política dominante ignora deliberadamente os problemas concretos envolvidos com o envelhecimento. A despesa total da segurança social deverá duplicar dos 15% do PIB para 30% do PIB em 2050. A despesa com a saúde pesa hoje cerca de 10% do PIB. O modelo está falido. O contrato de solidariedade entre gerações, ou seja, quem está em idade ativa desconta para as pessoas que estão nas idades mais avançadas, supondo quem contribui agora que, quando se reformar, existirão outras pessoas a descontar para elas. O que me preocupa é que em vez de se enfrentar o problema para encontrar soluções, vai-se empurrando com a barriga com reformas antecipadas, cortes nas pensões, e aumenta-se à idade da reforma. Quando comecei a trabalhar tinha a expectativa de me reformar aos 59 anos. Depois, passou para os 60 anos e 36 anos de contribuições, depois para os 65, agora é 66 e três meses. Daqui a nada estou a trabalhar até aos 70. Vejam lá, é que estou a ficar velho!
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