ANABELA BORGES |
Ainda o Acordo
Ortográfico de 1990.
Há dias, tropecei
na palavra “espetro”. Fiquei pasmada,
metida em cismas, perante o que supunha ser mais um erro de ortografia. Logo fui
ver – que é como quem diz, fui procurar nos dicionários –, gosto sempre de
estar o mais certa possível no que toca às palavras. Num e noutro dicionário, a
palavra apareceu – “espetro”. Não queria acreditar. Apareceu: “dupla grafia pelo Acordo Ortográfico de
1990: espetro ou espectro. (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa online);
Apareceu: “também se pode escrever
espetro (https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa); Apareceu:
“grafia em Portugal: espetro (Dicionário
Priberam, aplicação para smartphone). E por aí fora, foi um ver-se-te-avias
de dupla grafia, um fartote, uma barrigada.
Uma palavra que
em Inglês se diz “spectrum/spectre”, em francês “spectre”, em Espanhol
“espectro”, em Alemão “spektrum”, em Finlandês “spektri”, pergunto eu, sendo
uma palavra que deriva do Latim spectru,
como é que alguém consegue pronunciar “espêtro”?
(porque não sendo colocado o C, é o que está lá escrito). E como é que essas
pessoas pronunciam a palavra “espectral”? E “espectrometria”?
Fiquei ensombrada
pelo vulto, a sombra, o espectro da palavra “espetro”. E essa visão há-de
perseguir-me até ao fim dos meus dias. O espectro dessa e de outras aberrações
da designada “nova ortografia”.
Porque…
- NADA PARA PORTUGAL.
Nada? Nadinha?
Tudo para onde, então?
Não. Nada para
Portugal. Para de parar.
Para quê? Que
confusão!; …
- Redige a ata.
Credo! Desata!;
…
- No ato de escrever.
Desato! Acto
contínuo, desato a fugir!; …
- Foram afetados por um forte vírus.
Coitados… devem
estar cheios de aftas.; …
- As arquitetas
fizeram um trabalho fenomenal.
Como assim,
“arquitêtas”?; …
- A s’tora é
minha percetora e protetora.
Uau! Tudo
palavras que rimam com professora!; …
- Afinal estás inativo ou está no ativo?
Não entendo o
que me estás a perguntar, mas continuo a ser nativo.; …
E por aí fora.
Esta ortografia
tem gerado tantas confusões, que forçosa e tristemente a Língua Portuguesa está
mais pobre.
A joia está mais pobre – perdeu o acento;
a jiboia, mais fraca; a claraboia, prestes a partir-se; e a boia está furada.
Muitos querem
dizer que o espectador é um “espetador”,
alguém que espeta coisas – dizem: “a atualidade
comentada pelos espetadores”. Ora
bolas para tanta brutalidade com a Língua!
Eu não aceito
que a Língua seja forçada a mudar por decreto algum!
Deixemos a
Língua respirar. Deixemos que evolua por ela, sem pressões.
Já pararam
realmente para pensar: o que é que andamos a fazer à Língua Portuguesa?
A Língua
Portuguesa está descaraCterizada, a perder identidade de dia para dia.
“A minha pátria é a Língua Portuguesa”; “Da minha Língua vê-se o mar”. Estas duas
expressões, respectivamente de Fernando Pessoa e Vergílio Ferreira, dizem muito
sobre identidade. Cada país deve, por isso, manter a sua identidade na Língua,
deste e dos outros lados do mar.
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