terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

EXCESSO DE PESO NAS MOCHILAS E AS SUAS CONSEQUÊNCIAS

LIANE SANTOS
Como sabem, foi entregue uma petição sobre as peso das mochilas escolares, a qual recolheu 48 mil assinaturas num mês, e que apela à adopção de “uma legislação, com carácter definitivo, que veicule que o peso das mochilas escolares não deve ultrapassar os 10% do peso corporal das crianças”. Devido ao número de assinaturas, esta petição terá obrigatoriamente de ser debatida pelo Parlamento (Jornal O Público, 17 de Fevereiro de 2017).

É consensual entre os especialistas de todo o mundo que as mochilas escolares não devem ultrapassar 10% do peso de quem as transporta. E porquê? Porque as crianças que transportam regularmente peso excessivo às costas são as que têm mais probabilidade de desenvolver deformações ao nível dos ossos e dos músculos. Quanto mais pesada for a mochila, maior probabilidade de problemas de saúde terá (Site Petição Pública, 2017).

No ano de 2009, uma tese de mestrado realizada no âmbito do curso de Engenharia Humana, da Universidade do Minho, revelou que quase dois terços dos alunos se queixavam de dores por causa do peso que carregam. A tese intitulada "Transporte de cargas em populações jovens: implicações posturais decorrentes da utilização de sacos escolares" demonstrou que a maioria dos alunos analisados apresentava alterações posturais relacionadas com a carga excessiva do material escolar. O estudo avaliou a incidência de desvios posturais em estudantes dos 6 aos 19 anos (54 rapazes e 46 raparigas), em escolas públicas e privadas, envolvendo uma amostra de 136 alunos de vários ciclos de ensino. 
De acordo com a investigação, a hiperlordose lombar afetava 69% dos estudantes que foram alvo do inquérito, a antepulsão dos ombros (ombros para a frente) 59% e a projeção anterior do pescoço 49%, motivando queixas de dor. (Site Petição Pública, 2017).

Os signatários desta Petição Pública solicitam a intervenção da Assembleia da República, legislando sobre esta matéria, com caráter de urgência, de modo a resolver este grave problema de saúde pública, tendo em conta as seguintes propostas: 

1 - Uma legislação, com carácter definitivo, que veicule que o peso das mochilas escolares não deve ultrapassar os 10% do peso corporal das crianças, tal como sugerido por associações europeias e americanas. 

2 - A obrigatoriedade de as escolas pesarem as mochilas das crianças semanalmente, de forma a avaliarem se os pais estão conscientes desta problemática e se fazem a sua parte no sentido de minimizar o peso que os filhos carregam. Para tal, cada sala de aula deverá contemplar uma balança digital, algo que já é comum em muitas escolas, devendo ser vistoriada anualmente. 
3 - Que as escolas públicas e privadas de todo o país disponibilizem cacifos para que todos os alunos consigam deixar alguns livros e cadernos, de modo que possam deslocar-se entre as suas casas e a escola com menos peso.

4 - Podendo existir a opção de os alunos utilizarem o suporte digital, segundo o critério de cada escola, exigir às editoras responsáveis pela produção de manuais escolares o seguinte: 

4.1 – Que criem livros/manuais escolares com papel mais fino, de gramagem menor, ou divididos em fascículos retiráveis segundo os três períodos do ano; 
4.2 - Que os conteúdos dos livros/manuais escolares sejam o mais concisos e sintéticos possível, de modo a diminuir o volume e o peso dos mesmos (Site petição pública, 2017).

Em relação à intervenção da fisioterapia é cada vez mais frequente o aparecimento de queixas na coluna vertebral e com alterações posturais. Realmente o peso das mochilas é um dos factores para esses problemas, no entanto, em casos que não há excesso de peso nas mesmas (não ultrapassar os 10%) ocorre muitas vezes, a má utilização das mochilas. Estas devem ser utilizadas com as duas alças, o mais próximo da cervical possível (não “descaídas” / “junto ao rabo”), com os livros mais pesados junto a coluna vertebral e ir progressivamente afastando com a diminuição do peso dos mesmos. E no caso das mochilas de rodas, caso o peso também seja excessivo, faz com que as crianças as transportem com rotação do tronco, levando a diferenças alterações posturais, o que deve ser tido também em atenção.

Pode obter toda a informação em http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT84219 .

E ainda, em entrevista a RTP3, a coordenadora do curso de Fisioterapia, no qual tirei a licenciatura, fala e explica sobre essa problemática devido a investigação feita para a sua tese de doutoramento.

Podem ver a entrevista em https://www.youtube.com/watch?v=b8OefMZv4dk&feature=youtu.be .

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