LUÍSA VAZ |
Quem tem alguma noção de Política e de regimes sabe que as escolhas assentam em três variantes já devidamente estudadas e explanadas: A Democracia, O Socialismo e o Comunismo.
A raiz de todas estas formas de Governo é a mesma: o desenvolvimento da sociedade mas a forma como isso se preconiza é bastante diferente e mesmo dentro de cada uma destas formas há sub-regimes.
Acho que todos conhecem a Doutrina que subjaz a cada uma destas Teorias políticas e por isso não as vou explanar, apenas as uso para centrar o tema que hoje resolvi abordar.
Sendo que o Partido social-democrata e o Partido Socialista por norma dividem o Centro podendo às vezes chegar a confundir-se caso o primeiro se chegue mais à Esquerda ou o segundo mais à Direita – no caso de uma abordagem mais liberal ou conservadora da visão de sociedade e de economia que apresentem – in extremis ambas podem ser o caminho para o que hoje é designado por Populismo e que tem na Extrema-Direita e na Extrema-Esquerda as suas manifestações mais gritantes e preocupantes.
A Globalização, esse fenómeno que surge nos anos 90 e que tem o seu boom com a massificação do uso da internet leva a que os fenómenos migratórios assumam uma expressão muito maior do que alguma vez vista. As emigrações em massa para o Canadá ou para os Estados Unidos ou mesmo para França, foram feitas por vagas mas nada como aquilo a que agora se assiste com os Refugiados que saem aos milhares dos seus países em direcção à Europa e à América, principalmente.
Não haveria problema nenhum com este fluxo não fosse o facto de eles serem muçulmanos e por isso muitas vezes confundidos com islâmicos. Esta globalização levou à abertura de fronteiras, à descida devido à competitividade, do preço das viagens e portanto a que fosse muito mais fácil deslocarem-se entre territórios e as guerras incessantes nos países árabes, quer entre eles quer com os Estados Unidos – muitas vezes por motivos difusos que se prendiam, pelo menos oficialmente, com o facto de os Estados Unidos serem amigos da Democracia e fiéis combatentes do Comunismo e das Ditaduras que grassam no Mundo Árabe – levou a que islâmicos mais radicais usassem uma interpretação mais radical do Corão para justificar os atentados que levaram a cabo contra civis – por toda a parte do Mundo – sob a alçada dos Movimentos terroristas como a Al-Quaeda e agora mais recentemente o Daesh. Muitas das fileiras destas organizações são reforçadas com jovens de todo o Mundo que se convertem ao Islamismo pelos mais variados motivos abandonando a sua família e as suas raízes para se tornarem “Combatentes de Alá”. Embora em número muito menor, também há mulheres que se juntam à causa e que levam a cabo actos terroristas.
No entanto e por maioria de razão, por norma são os muçulmanos quem está conotado com estas praticas e portanto o desconforto com a sua presença começa a ser uma constante mesmo que se trate de muçulmanos moderados – haverá quem afirme que não há tal coisa como um “islâmico moderado” mas não só o facto de um vasto número de indianos como vários Imans (líderes religiosos responsáveis pelas Mesquitas e quando estas se situam fora de países muçulmanos, também responsáveis por todos os muçulmanos residentes em cidades estrangeiras onde as Mesquitas se encontrem) já se vieram demarcar destas praticas terroristas e têm ajudado as autoridades locais a identificar os indivíduos que perpetram os actos de terrorismo mas saem deles com vida. Nem todos são “mártires”, há aqueles que consumam o acto terrorista mas escapam e mais tarde são capturados pelas autoridades.
Este terror que tem sido amplamente usado quer por líderes políticos quer pelos movimentos radicais islâmicos tem levado a que novas doutrinas políticas emirjam sendo elas as extremas direita ou esquerda.
Na sua génese elas divergem mas a sua necessidade de chegar ao Poder tem feito com que pervertam alguns dos seus valores ideológicos – que duvido existam na extrema-Esquerda mas admito que existam na extrema- Direita até pelo que sabemos da História e dos líderes como Hitler e Mussolini, por exemplo -
Mas vamos tentar perceber o que as afasta e o que as une para conseguirmos perceber a importância que têm assumido principalmente na Europa. Segundo Norberto Bobbio -filósofo político, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício italiano – as extremas só se tocavam na sua recusa à Democracia, por um lado, a extrema-Direita reconhecia as desigualdades e aceitavam-nas ao passo que a extrema-Esquerda as recusava e as queria abolir.
Assim torna-se possível explicar e entender a aliança entre o Syriza grego e o Partido de Direita Radical ANEL, o que os unia era a recusa da supervisão europeia e dos sacrifícios impostos pela troika. Este alinhamento vem demonstrar que a Tese de Bobbio já se encontra ultrapassada pois no século XXI “direita e esquerda radicais não só podem convergir no plano dos fins como já não comungam da recusa da democracia, como no passado o faziam fascistas e comunistas.
Luca Ricolfi, politólogo italiano afirma que “ o exemplo grego se pode estender a outros países em que “a hostilidade às autoridades supranacionais que ditam, ou condicionam fortemente, a política económica interna, atinja um certo patamar [eleitoral]. Direita e Esquerda radicais estão juntas por bons motivos: terem um inimigo comum, a autoridade europeia, e um objectivo comum — libertarem-se dela o mais depressa possível.”
No entanto, apesar de convergirem nos meios para atingir os objectivos, elas discordam nos fins uma vez que e ainda segundo Ricolfi: “A Esquerda radical quer desmantelar a Europa de Bruxelas” para impor a soberania dos cidadãos e um outro modelo económico. “A Direita radical sonha com uma Europa das nações, com menos imigrantes e mais autonomia dos Estados.”
Olhando para o mapa europeu podemos ver a seguinte distribuição de Partidos extremistas: na Itália há uma extrema-Esquerda débil, uma extrema-Direita em expansão — a Liga Norte, de Matteo Salvini — e o inclassificável Movimento 5 Estrelas, de Beppe Grillo. Na França há a forte Frente Nacional, de Marine Le Pen, e uma minoritária Frente de Esquerda. Na Espanha, há o Podemos e não há extrema-Direita. Na Alemanha, os esquerdistas do Die Linke, os eurocépticos da Alternativa para a Alemanha (AfD) ou movimentos anti-imigração como o Pegida não ameaçam Angela Merkel mas podem contagiar o ramo bávaro da democracia-cristã, a CSU — o que já a preocupará. O caso português não vem citado até porque a incongruência de discurso e atitude do Bloco de Esquerda não permite nenhuma conclusão clara quanto ao que defende ideologicamente.
Nos países citados poderá afirmar-se ser improvável uma aliança entre a extrema-Direita e a extrema-Esquerda mas no caso da Holanda, da Dinamarca ou da Finlândia a extrema-Direita participa ou participou em coligações governamentais, para manter os governos reféns em dois terrenos: a Europa e a imigração.
A vertiginosa desconfiança dos cidadãos na Política e nos Partidos tradicionais degrada o próprio mecanismo democrático. A crise já não é apenas económica mas política e de legitimidade, na UE e nos seus Estados-membros. Este contexto é o “melting pot” do eurocepticismo e um dos grandes perigos que a Europa enfrenta pelo que se torna cada vez mais urgente que esta se defina em termos de organização e de orientação económica numa perspectiva conjunta.
A “união” destas forças não é uma hipótese académica. Basta-lhes “cavalgar a onda”, condicionar as políticas dos grandes partidos, à Direita e à Esquerda, e tentar paralisar a UE. Há um terreno em que os extremos divergem: a imigração e a xenofobia. E outros que os opõem, como a clivagem Norte-Sul, que se acentuará. Mas aquela “união” não precisa de um acordo político e ideológico: chega que as diversas e divergentes contestações se somem, ao ponto de aparecerem como uma reacção geral dos cidadãos europeus que descontentes com o actual estado de coisas procuram uma alternativa que lhes diga o que querem ouvir e que lhes dê resposta aos seus anseios e preocupações.
Se por um lado há mais jovens a escolher o caminho da Direita Liberal e expansionista, por esta Europa fora há casos em que a ascensão de ambas as extremas tem tido uma expressão demasiado grande para não ser notada. No entanto, uma reportagem do jornal americano Mail Online demonstra que “92% dos jovens activistas da extrema-Esquerda vive com os pais e um em cada três está desempregado” (Mail Online, 7 de Fevereiro de 2017).
Assim, carece questionar sobre as reais motivações destes jovens, que conhecimento é que eles têm da vida e da sociedade e que expectativas têm para o futuro não só imediato mas também a médio e longo prazo e qual o tipo de sociedade que ambicionam. Esta reportagem é acompanhada de um vídeo de uma manifestação em Berlim contra a intervenção israelita em Gaza e o vídeo mostra mulheres muçulmanas e crianças a protestar. Não que as mulheres não tenham o direito de expressar a sua opinião mas não me parece que aquele seja o melhor lugar para uma criança. E é estranho que no centro de Berlim a manifestação não tenha a participação de alemães ou alemãs. No entanto, quando jovens descontentes assistem a estas imagens, o mais provável é que na hora de fazerem uma escolha, optem por uma das extremas consoante aquilo com que se identifiquem mais e estas escolhas são perigosas pois podem ser “caminhos de não-retorno”.
Estamos num Mundo global, globalizante e globalizado e torna-se demasiado complicado que agora se volte atrás e se feche cada um nas suas fronteiras mas o extremar de posições e o facto de as pessoas serem levadas a pensar que é isso que querem principalmente porque vivem numa “sociedade de medo e terror” ainda me leva a considerar estas escolhas mais perigosas. O diálogo torna-se cada vez mais difícil e complexo, como se cada um falasse uma Língua diferente, estar no centro passou a ser conotado como “politicamente correcto” e não como uma opção de não extremar uma posição e a leitura e análise foram substituídas por este pensamento: avança-se uma hipótese, dois ou três tornam-na em narrativa, milhares de Dantas propagam-na e os crentes assimilam a doutrina.
É por isso urgente um refrear dos ódios, uma revisão da matéria dada e um estudo exaustivo sobre o que queremos enquanto comunidade e enquanto sociedade porque hoje podemos começar a construir um Mundo melhor com mais tolerância onde cada um encontre o seu espaço sem ter que construir muros ou explodir bombas. Onde uma outra cultura não nos amedronte, onde no diferente possamos buscar semelhanças pois no final do dia somos todos feitos da mesma matéria e queremos todos o mesmo.
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