VERA PINTO |
“Vai tudo parar à barriga!”, “Como é que elimino esta barriguinha a mais?”, “Só preciso de perder isto aqui” exprimem utentes desesperados, enquanto agarram entre os dedos uma prega da zona abdominal. Uma vez mais, são motivos estéticos que estão na base dos pedidos de ajuda. Perceber que se trata de uma questão de saúde e não de um assunto de beleza é o segredo do sucesso até porque, os padrões de beleza estão em constante mudança. Quem não se lembra da celebre frase: “Gordura é formosura”? O tempo em que a mulher tinha que apresentar um corpo bastante “roliço” para ser atraente já la vai há muito. Actualmente, são as formas bem reduzidas que marcam os padrões de beleza. Horas a fio no ginásio, dietas malucas, tratamentos cirúrgicos tudo é razão para perder peso e alcançar rapidamente uma silhueta invejável. Afinal de contas ,o Verão está já aí e reduzir urgentemente o perímetro abdominal é a frase de ordem. O que a maioria das pessoas se esquece é que esta redução, desde que feita com consciência, não é apenas benéfica para a imagem, é também uma importantíssima forma de prevenir doenças e, graves doenças.
A gordura corporal técnicamente conhecida como tecido adiposo apresenta como principal função o armazenamento de energia e produção de calor. Possível explicação para o facto de pessoas com excesso de peso suportarem melhor baixas temperaturas. Esta gordura distribui-se de duas formas pelo corpo: abaixo da pele (subcutânea) e ao redor dos órgãos (visceral). A gordura subcutânea fica logo abaixo da pele e em excesso cria aquela aparência rechonchuda. Os homens tendem a armazenar o excesso de gordura no abdómen, peito e ombros – “distribuição andróide de gordura corporal” (lembrando que “androide” significa “semelhante ao homem”), e pode levar a uma aparência em forma de maçã. Por sua vez, as mulheres tendem a armazenar os excessos nos quadris e coxas – é a distribuição ginóide de gordura, que gera uma aparência em forma de pêra. A gordura visceral envolve e amortece os nossos órgãos internos de todos os choques físicos associados à vida quotidiana. Um excesso de gordura visceral aumenta o risco de hipertensão arterial, diabetes tipo 2, doença cardíaca, demência, certos tipos de cancro e muitos outros problemas de saúde. A razão pela qual a gordura visceral em excesso é tão perigosa continua a ser motivo de discussão no mundo da ciência, contudo parece estar associada ao processo que se conhece por lipotoxicidade. A acumulação das células de gordura visceral liberta ácidos gordos directamente para o fígado através da veia porta hepática. Estes acumulam-se no coração, pâncreas e outros orgãos abdominais. Estes locais não foram desenhados para armazenar gordura e o resultado é a disfunção dos mesmos, acarretando riscos para a saúde.
O perímetro abdominal, sendo a medida entre o rebordo inferior da última costela e a crista ilíaca, zona correspondente à cintura indica-nos a distribuição da gordura corporal em adultos. Desta forma, a gordura abdominal será uma excelente medida do risco metabólico, ou seja, do desenvolvimento de problemas de saúde associados à obesidade como a diabetes, doenças cardiovasculares, hipertensão. No sexo feminino um perímetro abdominal igual ou superior a 80 cm traduz um risco aumentado. Já no sexo masculino esse risco verifica-se em valores iguais ou acima dos 94 cm. Alguns estudos, defendem que a gordura adbominal poderá ser mais grave para a saúde que o excesso de peso global. Medir o perímetro abdominal faz parte de muitos rastreios de saúde e por se tratar de uma medida não invasiva de muito fácil avaliação pode e deve ser feita por profissionais de saúde e não só. Por isso, mesmo aí em casa, vamos lá ficar com uma ideia de como está a sua “cinturinha”.
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