segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

QUALIDADE DE VIDA

“Os anos enrugam a pele,
Mas renunciar ao entusiasmo,
Faz enrugar a alma”
Albert Schweitzer
   

MARIA CERQUEIRA
A busca do significado de qualidade de vida parece ser tão antigo como a própria civilização. Desde a antiguidade que diferentes filósofos se debruçaram sobre esta matéria…para Aristóteles, a qualidade de vida refere-se aos sentimentos tais como, felicidade, realização e plenitude.

Foi sobretudo a partir da segunda metade do século XX que emergiu um novo fenómeno nas sociedades desenvolvidas - o envelhecimento demográfico - ou seja, o aumento significativo do número de pessoas idosas. Como disse Kofi Anam (2002), “A expansão do envelhecer não é um problema. É sim uma das maiores conquistas da humanidade. O que é necessário é traçarem-se políticas ajustadas para envelhecer são, autónomo, ativo e plenamente integrado”.

A qualidade de vida não tem idade nem estrato social, é apenas um dos objetivos mais desejados e mais procurados por todos os indivíduos. Nos idosos, esta qualidade não depende apenas do passado…depende sobretudo do presente e do futuro, mesmo que limitado.

No entanto, todos nós temos na memória lembranças de pessoas próximas, e até nós próprios, que perante um infortúnio, uma realidade menos agradável, uma doença…nos apercebemos que fizemos más escolhas na vida…e surge o tão conhecido lamento “Se eu pudesse voltar atrás teria tido uma vida bem diferente”. Isto é uma realidade, todos os dias o ser humano passa por esta crise existencial…se eu pudesse…se eu soubesse…mas a vida é assim mesmo, todas as decisões tomadas, podem ser boas ou menos boas, vão ter que ser aceites e geridas da maneira mais inteligente possível, para poder valorizar aquilo que temos e, que nós próprios construímos.

A sociedade em que vivemos é, sem dúvida, uma sociedade de consumo, que transforma a nossa vida numa “correria louca”, que é a expressão suprema de uma sociedade materialista, que, por defeito, deu ou dá mais ênfase ao que o individuo faz do que ao que o indivíduo é. Numa sociedade assim o indivíduo preocupa-se mais em fazer corretamente as coisas do que fazer as coisas corretas, ou seja, as coisas que realmente interessam e que são importantes para o nosso equilíbrio físico e mental, essas ficam remetidas para segundo plano.

Isto chama-se pomposamente de sociedade moderna, tão moderna que nos preocupamos apenas com o consumismo desenfreado e esquecemos os valores fundamentais da vida humana tais como, promoção da saúde, amor, comunhão, partilha, respeito, amizade, dedicação, família, aprendizagem, solidariedade...

Não prestamos grande atenção a todos estes valores porque as nossas ações são orientadas com base na urgência e não com base na importância. Se remetermos tudo isto para a qualidade de vida concluímos que, a maior parte das vezes as soluções para uma vida saudável são adiadas para mais tarde, até ao dia em que ficamos doentes e procuramos a medicina curativa…isto porque nos esquecemos da medicina preventiva, não tivemos grande tempo para pensar nela…e agora? Adeus prevenção, bom dia doença, tratamentos, efeitos secundários, sofrimento…

É deveras importante dar sentido à nossa vida e a essência desse sentido resume-se na:

- Necessidade de viver, é a nossa necessidade física. Diz respeito a ações simples como ter saúde, alimentar-se, vestir-se, ter um certo bem-estar económico…

- Necessidade de amor, é a importância que damos às relações sociais, às relações com os outros, relações de pertença, amar e ser amado…

- Necessidade de aprender, é a necessidade psíquica de nos desenvolvermos e de crescermos como pessoas que vivem em sociedade…

- Necessidade de deixar uma herança, é a nossa necessidade espiritual, a necessidade de todo o ser humano em deixar um testemunho da sua passagem…

Cada uma destas necessidades fundamentais não respondida reduz a nossa qualidade de vida.

Surge então, no final do século XX o chamado “envelhecimento ativo”, definido pela Organização Mundial de Saúde “Como o processo de otimização de oportunidades para lutar pela saúde, pela participação ativa na vida e pela segurança de que terá uma boa qualidade de vida quando envelhecer”.

O envelhecimento ativo é um aspeto central, devendo ser promovido quer a nível individual, quer a nível coletivo. As principais estratégias da Organização Mundial de Saúde são efetivamente prevenir e minimizar o impacto causado pelas principais doenças que estão diretamente relacionadas com o estilo de vida das populações.

É de salientar a importância de uma alimentação saudável, a prática adequada de exercício, repouso, exposição moderada ao sol e dando valor às consultas de rotina no médico assistente. Não devemos esquecer o bem-estar psíquico e intelectual, tais como memória, raciocínio, boa disposição…fundamentais no envelhecimento ativo e saudável…também devem ser valorizados e promovido os hábitos de leitura, participação ativa na discussão dos assuntos do quotidiano, realização de jogos que estimulam a mente, manutenção de atividades dentro e fora de casa tais como passeios, visitas, voluntariado…, participação em tarefas de grupo ou eventos associativistas, entre outras atividades.

A este horizonte já sombrio adicionamos o afastamento, cada vez maior dos elos familiares, as mulheres cada vez mais inseridas no mercado do trabalho, até então eram elas que tradicionalmente cuidavam dos doentes, idosos e deficientes…então questionamo-nos…

Como manter nas pessoas fragilizadas pela idade e pelas doenças, a riqueza dos cuidados afetuosos e a presença reconfortante, quando a necessidade se faz sentir?

Como proporcionar-lhes estes pequenos nadas reveladores de ternura ou de escuta atenta, que construirão o momento luminoso de um dia monótono?

Como podemos assegurar que eles não morrem apenas de aborrecimento devido à solidão, ou por falta de meios quer orgânicos ou financeiros?

Devemos estar conscientes de que a qualidade de vida e as relações com o meio têm um papel importante sobre a saúde. É por isso que se considera que “…não é suficiente juntar anos à vida mas que é necessário juntar vida aos anos” (Couvreur, 2001).

O corpo fortalece-se através da alegria e enfraquece através da tristeza.

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