JOANA BENZINHO |
Na Guiné-Bissau a música vem já no ADN de cada um e acompanha-o pela vida fora. Seja no momento do nascimento, do fanado ou iniciação da vida adulta, na cerimónia de casamento, nas colheitas agrícolas ou nos funerais é a música que está sempre presente.
A expressão corporal vive por excelência dentro de cada guineense e revela-se à primeira oportunidade, ao primeiro acorde da Corá (instrumento musical de 21 cordas) do balafon (tipo de xilofone) do bombolom (tambor típico) ou desde o primeiro batuque do djambé ou da tina (meia cabaça que dentro de um
recipiente com água se torna um dos instrumentos de eleição dos Manjacos). Cada etnia tem as duas danças, as suas cerimónias que pedem música para expressar o agradecimento ou as preces aos seus Deuses e é este um espectáculo digno de registo com todas a suas indumentárias coloridas, os corpos untados de óleo e muitas vezes as cabeças adornadas de conchas ou, no caso dos Bijagós, com reproduções de cabeças de vacas, peixes ou hipopótamos, os animais mais respeitados no seu contexto social.
Mas também a música é, muito naturalmente, uma das características distintivas do povo guineense. Este país está cheio de excelentes vozes, instrumentistas, letristas, artistas de corpo inteiro. Na segunda metade fo século passado, José Carlos Schwartz marcou de forma inegável o cenário musical da Guiné-Bissau com as canções de denúncia e letras resistência ao poder colonial da época . Assim como os Super Mama Djombo que levaram e levam ainda além fronteiras as sonoridades deste país.
Hoje há muitos mais a honrar a música guineense e é desses que quero referir sem particularizar nomes. Quero falar daqueles que em cada contentor/bar, em cada restaurante da cidade de Bissau, em cada esplanada improvisada ou mesmo no átrio de um supermercado nos brindam com as famosas serenatas. São tardes ou noites dançantes, repletas de música e boa disposição e muito concorridas pela sociedade guineense.
É raro o dia em que não há uma destas serenatas num qualquer bairro de Bissau e é ali que até os mais distraídos se apercebem da excelência da música e dos músicos guineenses e da riqueza dos seus instrumentos, dos seus ritmos, das suas vozes e das duas danças.
Um património cultural riquíssimo que é imperativo preservar através de um cancioneiro geral do país.
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