quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

É COMO SE FOSSE CARNAVAL!

ARTUR COIMBRA
O Carnaval é uma época bem delimitada do ano, normalmente por Fevereiro, altura em que acontece a subversão do quotidiano, em que o mundo fica de pernas para o ar, em que o grotesco e o absurdo irrompem nas recriações festivas. Os homens vestem-se de mulheres e as mulheres de homens, devidamente mascarados, como convém, porque tudo é permitido, sem peias nem regras sociais. Tudo se pode dizer e tudo pode ser dito por essa ocasião, em que os excessos da carne atingem o clímax antes de entrarmos na penitência quaresmal, de tal forma que é consagrada a expressão “no Carnaval ninguém leva a mal”.

E só nesse contexto se pode entender as orientações do cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que defendeu o dever de a Igreja propor a vida em continência, isto é, sem relações sexuais, aos recasados cujos anteriores matrimónios não possam ser declarados nulos.

É uma posição que ninguém defende nem é susceptível de defesa, porquanto dois seres humanos que se juntam ou recasam são livres de assumirem a sua sexualidade, que decorre naturalmente do amor que legitimamente os une.

Como refere o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, “Não competirá ao confessor nem ao guia espiritual, e creio que muito menos aos bispos, imiscuir-se nessa questão.”

Por seu turno, o teólogo Anselmo Borges adverte justamente que “Não faz sentido admitir que estão casados, por um lado, e pedir-lhes que não tenham vida sexual, por outro. É contra a natureza humana”.

É claro que a Igreja não deve continuar a “infantilizar a consciência das pessoas”, sendo por estas e por outras que cada vez perde mais prestígio e se assiste a uma crescente descristianização dos indivíduos e das sociedades. Puramente ridículo!

Como apenas por ser Carnaval se justifica a deliberação dos deputados no Parlamento, por unanimidade, admitindo que osanimais de companhia podem, a partir de Maio próximo, acompanhar os donos a restaurantes devidamente sinalizados. 

Os animais terão de estar presos, "com trela curta", e "não podem circular livremente", estando vedada a sua presença na zona de serviços ou onde existam alimentos.

É claro que estamos também no reino do absurdo e do indefensável. Nem é uma questão de não gostar de animais, dos quais genericamente todos gostamos.

Simplesmente, os animais transportam cheiros, muitas vezes doenças, seguramente vão ladrar, para mais se forem permitidos vários no mesmo espaço. E há até questões de segurança, com raças perigosas…

Há que ter o sentido do ridículo e das proporções, o que parece não estar a acontecer neste país.

Enquanto se legisla para admitir cães nos restaurantes, há estabelecimentos de restauração e hotelaria que limitam ou proíbem a entrada de crianças.

E a mesma sociedade que protege os animais e que só falta dormir com eles na cama, despreza, agride, insulta, espanca e maltrata os idosos e os mais vulneráveis e indefesos.

É como se fosse Carnaval todo o ano, com a inversão dos valores e o triunfo claro da sua negação!!!

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