quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

A ORDEM DAS COISAS

LUÍSA VAZ
Embora existam muitas pessoas que afirmam insistentemente que não querem saber nem percebem muito de Política, o certo é que gostam de ter e expressar a sua opinião em vários momentos e pelos mais variados meios e tudo isso será válido mas convém que o façam na total posse dos factos e numa base racional e não emocional como muitas vezes acontece.

Devemos começar por distinguir a Arte Política da Arte de fazer Política pois são coisas distintas e nem sempre complementares. Eu, por exemplo, sou uma apaixonada pela Arte Política na qual me inspiro para bem-fazer Política e Portugal não é um bom exemplo nessa matéria e tal facto pode ter uma simples justificação, os nossos políticos, aqueles que ocupam cargos e não os que ocupam espaço nas redes sociais, não sabem o que é uma Escola Diplomática, um curso de Comunicação Política ou uma formação superior numa área relacionada. Aprendem in loco nas Assembleias Municipais, de Freguesia ou Distritais, nas Jotas ou mesmo nos corredores da Assembleia da República e portanto aprendem os bons e os maus exemplos com aqueles com quem se vão cruzando pelo caminho, muitas vezes sem a mínima noção se o que fazem e/ou dizem está correcto ou é acertado.

No entanto, este é apenas o lado visível da Política e nem sequer toca na partidária onde não raras vezes o trabalho é difícil e ingrato e isto para não dizer que raras vezes, políticas, atitudes e pessoas são tudo menos consensuais mas podem estar mais ou menos expostas à crítica.

Na minha opinião, que já ando por estas estradas da política partidária há um bom par de anos, quando as pessoas optam, em determinado momento da sua vida por militarem um Partido político, deveriam fazê-lo conscientes do que por lá se passa, dos Estatutos, das regras e direitos mas também das suas obrigações a começar pela mais importante – a Defesa da Causa Pública muitas vezes em detrimento das suas vontades ou projectos pessoais ou profissionais mas não, raramente as pessoas se militam apenas para fazer a diferença e ajudar a melhorar o seu Partido ou através deste, o seu território.

Faz-me sempre muita confusão ouvir alguém dizer “que tem ambições políticas” quando não milita um Partido ou quando está num determinado projecto e isto porque eu acredito que quando se assume ajudar um determinado projecto a crescer, isso acontece porque se acredita nas ideias e medidas nele expressas e em quem o encabeça. Mas, para o militante anónimo, por mais que seja ruidoso, muitas vezes, e na grande maioria por desconhecimento de causa e por considerar que sem participar apenas a sua visão do Mundo é suficiente para ter uma opinião avalisada, é muito fácil criticar, exigir ou afirmar que faria melhor. É tudo tão mais fácil quando estamos confortavelmente instalados no conforto da nossa casa atrás do teclado de um computador a escrever “para as massas” tentando conquistar algum protagonismo para o nosso Ego machucado pelo tempo e pelas vontades.

É tão fácil “passar raspanetes” a quem ocupa cargos que essas pessoas se calhar nunca ambicionaram ocupar, é tão fácil apontar o dedo quando não temos uma imagem, um trabalho ou uma posição a defender, é tão mais fácil escudarmo-nos no manto da “pena” por acções cometidas no Passado ou no Passado Recente culpando quem não se pode defender – ainda que às vezes a culpa possa ser distribuída – quando chega o castigo pelos actos que cometemos, é tão mais fácil pedir aos outros, ou responsabilizá-los por limpar, os erros que conscientemente cometemos. Há sempre saídas mais fáceis do que a auto-punição ou a auto-responsabilização pois essa obriga a que olhemos bem para dentro de nós e assumamos os nossos erros e isso é desconfortável e penoso.

Falando de uma forma geral, para todos aqueles que viram agora sair as suas suspensões de militância por actos cometidos contra os Estatutos dos Partidos, independentemente de quem iniciou os processos ou da validade dessas pessoas para a vida interna dos Partidos, a única coisa que se pode acrescentar é que as Leis foram feitas para serem respeitadas e obedecidas e quando alguém as infringe mesmo que debaixo da bandeira da “injustiça” ou do “bem comum”, agiu mal e quando optou por ir contra o Partido em que milita, mesmo que com razão, mesmo tendo sido injustiçado, deveria ter suspendido a militância e optado por outros projectos e depois logo se veria. Os Partidos, tal como os Clubes, devem ser do nosso coração e não devemos estar disponíveis para os trocar só porque “os outros estão a ganhar ou melhor posicionados para chegar à linha da meta”.

Eu defendo esta postura até para mim, caso um dia estivesse nesse género de situação ingrata e desconfortável mas isso sou eu que leio os Estatutos, os Regimes Internos e os Códigos Disciplinares cada vez que algo me suscita uma dúvida.

Estamos a dias do 37º Congresso do PPD/PSD onde o novo líder e a nova Direcção serão consagrados perante os seus pares. Vão ser apresentadas várias Moções e algumas sobre a actualização e modificação de Estatutos que já tive oportunidade de ler. Espero que sejam aprovadas pelos Congressistas pois se os tempos mudaram, as Leis e os Regulamentos têm que os acompanhar por maioria de razão mas convém que com ou sem alteração, a par do cartão de militante, seja doravante entregue uma cópia dos Estatutos para que se perceba bem quais são as regras que subscrevem pois se as há em qualquer família tradicional, elas também devem existir nas famílias políticas.

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