RICARDO JORGE FREITAS |
Para termos uma primeira noção do que é a Catalunha comparativamente a Portugal, posso dizer que é uma região que é menos de metade do territorio portugués, tem 7,5 mihões de habitantes (Portugal tem 10,5 milhões), mas no entanto, gera um PIB superior ao português, tanto global como per capita. Só por aquí, dá para perceber que a Catalunha pode ser viável como país. Mas falta o resto.
Ao contrario do que se pensa, a Catalunha, é na verdade mais antiga do que possamos pensar! Depois da desintegração do império Carolíngio, o condado de Barcelona que fazia parte da Marca Hispânica desse império, chegou a uma independência “de facto” nos finais do século X. Não obstante, no século seguinte, o condado uniu-se ao Reino de Aragão (em 1137) através do matrimónio com a futura rainha de Aragão (Petronilla). Ou seja, antes de existir Portugal, já a Catalunha existia. Por aquí (na Catalunha), diz-se e está provado que a língua catalã é mais antiga que o castelhano e portugués (faz sentido… os romanos chegaram primeiro à Catalunha antes de chegar a Espanha ou Portugal).
De onde vem a língua Catalã? É na verdade uma mistura de diversas línguas (e não… não é mistura de espanhol com francês como muitos pensam). Tem influência Ibérica (aquitano, protoeuskera), grego jónico (Ámpurdan), celta, cartagineses, fenícios (estes quase não deixaram influências na verdade), romanos (claro) para depois adoptar o latim aínda que haja vestígios da língua hebraica no Catalão. Ora bem… depois disto, dizer que o catalão é espanhol com sotaque francés, não pode ser mais errado.
Abordei algo sobre como nasceu a Catalunha e a língua Catalã. Isto é história antiga. Falemos agora da história mais recente.
A Catalunha é uma região densamente povoada a altamente industrializada, liderando o sector em Espanha desde o século XIX e estando 2/3 da sua população concentrada na área de Barcelona. Na actualidade, para além da indústria, a Catalunha vive do turismo e da construção civil. Estes são os três grandes motores económicos da região. Como curiosidade, é também a única região espanhola que tem todas as suas capitais regionais ligadas por comboios de alta velocidade e, desde Barcelona, a ligação a França.
Fica claro que esta região possui todas as infraestruturas, mesmo ao nível marítimo, possui o maior porto marítimo do mar mediterrâneo e por este porto saem 65% das exportações de toda a Espanha. Por via terrestre (auto-estradas e rede ferroviária), sai grande parte da fatia remanescente. Ou seja... quase todas as exportações espanholas passam pela Catalunha.
Os catalães, que souberam aproveitar a industrialização espanhola no século XIX, dominam o mercado espanhol com os seus produtos. A Catalunha enriqueceu no passado recente e Hoje é uma região que olha para dentro de si, e pensa, não precisamos de Espanha porque somos auto-suficientes e temos meios para ser um país viável. Os catalães são assim, materialistas (no bom sentido, claro) e no país são conhecidos pela sua mentalidade empreendedora e por serem... digamos, “agarrados ao dinheiro”. Os resto dos espanhois não tem esta mentalidade.
E é aqui que eles “chocam” e entram em confronto. A Catalunha, farta de ver a inércia espanhola nos anos da crise, as centenas de casos de corrupção em Espanha, a falta de verbas para ajudar a Catalunha a avançar ao ritmo que queriam, fez com que as pessoas batessem com a porta. Não creio que eles queiram uma independência soberana, acho mesmo que o que eles querem é não fazer parte da Espanha actual.
E aqui entramos na novela que provavelmente têm assistido nos media. Todos gritam e ninguém tem razão. Mesmo que a tivessem (ambas as partes), não podemos nunca esquecer que a Catalunha precisa do mercado espanhol para escoar a sua produção e, por outro lado, a Espanha, necessita das infraestruturas catalãs para exportar os seus produtos.
Os catalães são orgulhosos mas conseguem ser mais materialistas. Com dinheiro resolve-se o problema da Catalunha. Já os restantes espanhois, são mais orgulhosos que materialistas, e não vão ceder um milímetro que seja apenas e só por uma questão de orgulho. Não querem dar o braço a torcer, não o irão fazer nunca. Nem que se seja preciso gastar o dinheiro que não têm mas, a Catalunha não sai, nem que fique contrariada.
Esta semana decidi não abordar o tema político por questões obvias, a indefinição é tanta que corria o risco de este artigo de opinião estar obsoleto em poucas horas.
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