segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A MEDICINA DENTÁRIA E O SNS (SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE)

INÊS MAGALHÃES
Nos últimos dias têm-nos chegado várias notícias sobre a realidade da medicina dentária em Portugal. Uma delas, e que nos entristece a nós profissionais de saúde, é o facto de, cada vez mais, haver dificuldades económicas para se conseguir ir a uma consulta dentária. Nós, dentistas, verificamos isto no nosso dia-a-dia, onde famílias têm de optar por fazer tratamentos mais baratos, em detrimento de outros mais caros, mas que seriam os mais adequados para essa situação. Ou então, ouvimos um pai ou uma mãe dizer que para poder tratar da saúde oral do seu filho não pode tratar da sua. Só nos procurando em último recurso, quando a dor ou inflamação o impede de realizar as suas atividades diárias.

Eu, como dentista, mas sobretudo como profissional de saúde, preocupa-me muito esta situação. A medicina dentária deveria ser acessível a todas as pessoas, independentemente do seu estatuto ou classe social. Uma ida ao dentista deveria ser algo agradável, uma vez que estamos a tratar do nosso sorriso e bem-estar, mas sobretudo da SAÚDE oral. Mas quando as pessoas nos procuram em estado de dor aguda e quando, muitas vezes, não temos hipótese de optar por outro tratamento que não a extração dentária, como poderá esta visita ser algo prazeroso e a repetir no futuro? Como não há-de surgir então a fobia e o medo de ir ao dentista? Talvez se fossemos à consulta sem dor, apenas para prevenção, todos os tratamentos seriam mais acessíveis, deixando vontade de regressar novamente.

Contudo, isto só será possível quando a medicina dentária passar a ser uma especialidade médica comparticipada pelo estado e para TODOS! Não podem ser só alguns que têm acesso a ela pelo SNS (Sistema Nacional de Saúde). Somos todos cidadãos, pagamos os nossos impostos e, como tal, temos o direito a usufruir de uma saúde plena, incluindo, claro está, a saúde oral. Pois, sem saúde oral, não há saúde geral!

Mas, não quero terminar este artigo sem deixar uma mensagem de esperança. Sim, já há algumas mudanças positivas! Através do Programa Nacional de promoção da Saúde Oral (onde já muitos beneficiamos com o acesso ao Cheque Dentista), a Direção-Geral da Saúde assinou um protocolo de colaboração para integrar a temática da Saúde Oral nos currículos escolares. O protocolo foi assinado no âmbito do projeto SOBE – Saúde Oral Bibliotecas Escolares -, cujo objetivo é fazer da saúde oral parte integrante dos currículos escolares e do dia-a-dia das crianças e jovens, tal como envolver as suas famílias e comunidade, através da disseminação de informação e realização de ações. O protocolo pretende criar diversos materiais, como livros, jogos, manuais, músicas, cartazes e, assim, promover a literacia em saúde oral.

Sem comentários:

Enviar um comentário