PAULO NETO |
Há muito que ouvira falar do Panamá…
Um avoengo meu tinha o hábito de usar uns esplendorosos e invejados chapéus com esse nome, os quais, na minha adolescente imaginação, me remetiam para um onírico paraíso tropical, cheio de sol, calor, palmeiras e mulatas sensuais.
Às escondidas, sempre que a circunstância o adregava, punha o chapéu e via-me ao espelho, sob diferentes ângulos e com distintas inclinações das ágeis e voejantes abas. Achava o meu aspecto notável e jurei a mim mesmo que, um dia, havia de ter muitos chapéus daqueles. Nunca tive, ou melhor, o mais próximo que estive dessa pretensão, foi conseguido com um amarelado chapéu em palha entrançada, com uma fulgurante tarja azul, comprado na Plaza Mayor de Salamanca, a um vendedor ambulante.
Mal sabia eu que, e afinal, o chapéu do Panamá é fabricado no Equador, onde é conhecido como El Fino, mas só se confeccionado com palha especial colhida da planta Carludovica Palmata (também, com um nome destes…).
Soube ainda, mais tarde, que muitos bons malandros eram seus fãs, desde Truman a Churchill, passando por Jobim, Santos Dumont, Humprey Bogart e Clarck Gable… Mas eu não tive tal sorte.
Muitos anos após, aí por meados de 96/97, o Panamá veio de novo ter comigo, desta feita pela inquestionável mestria de mão style John Le Carré e do seu falso Harry Pendell, o ambíguo alfaiate da equívoca firma real Pendel & Brathwaite, Lda. que talhava esplêndidos fatos para políticos corruptos, embaixadores duvidosos e reviralhistas elegantes e decadentes, amigos afectuosos de agentes da CIA disfarçados de adidos culturais da US Embassy.
Mas antes disso recordo-me ainda de um tal de Manuel Noriega, general bexigoso, déspota temível em full time e narcotraficante nas horas livres, agente da CIA em acumulação autorizada com a presidência do país. Abusou, nem sei bem como, pois os EUA costumam ser tolerantes com seus “duplos”, e o “friend” Georges Bush tomou-se de tais desamores dele que mandou invadir o país, em Dezembro de 84, provocando uns milhares de mortos inocentes (who cares?), entre mulheres, idosos e crianças, nos bairros pobres da capital, para capturar enfim o “mafioso” – sem ofensa para a Camorra – e o pôr à sombra, por trinta curtos aninhos, numa prisão qualquer dos States.
Depois, ainda assisti no cinema, em pleno Mar do Caribe, ali para os lados de Portobelo, a uma corrida emocionante de offshores, uns barcos muito rápidos, estilo charuto cubano, que sulcavam os mares, muito empinados, a velocidades vertiginosas e aos pinotes nas vagas como Mustangs selvagens.
Agora, vieram desmoronar-me estas ideias bonitinhas que eu detinha sobre aquele decerto tão lindo país, mesmo se cortado ao meio por um canal artificial – ou seja, um falso canal – com 77,1 quilómetros de comprimento a ligar o Atlântico ao Índico, “inventando” que afinal não é um paraíso tropical, mas sim um éden fiscal onde alguns que têm dinheiro sujo, o vão lavar, buscar isenções fiscais, garantias absolutas de sigilo bancário e privacidade nos negócios. E que apesar de lá terem milhões – eles são tantos – nunca sabem nada acerca do assunto…
Não é justo que estes fabianos nos destruam os sonhos quase todos da juventude, neste mundo tão global, tão global… que nada é o que parece e o que parece nunca, nunca é.
Tal como o caliente e falso Panamá, reduzido a um mero e banal Panama Papers…
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