JORGE NUNO |
Passou-se algo semelhante, ao nível das rendas, em mais de uma centena de escolas secundárias [públicas], intervencionadas no âmbito do Programa de Modernização do Parque Escolar. Foi muito agradável constatar a recuperação e melhoria significativa nessas instalações e demais equipamentos, possibilitando melhores condições de aprendizagem para os alunos, e de trabalho para os profissionais da educação. Em bastantes casos, com a sensibilidade própria de cada arquiteto, foram idealizados e utilizados materiais de bonito efeito, com requinte, ar condicionado em todas as salas de aula, laboratórios, oficinas, centros de recursos, auditórios, e obras encarecidas, inflacionadas… para depois não se verificar investimento em “simples” sistemas fotovoltaicos de autoconsumo, que permitiria gerar energia eléctrica a partir da energia solar, a custos baixíssimos. Resumidamente, há forma de aquecer e arrefecer os espaços, mas os orçamentos escolares não comportam os custos de electricidade e das rendas mensais, que ficaram a ser pagas, obrigatoriamente, à ParqueEscolar – entidade a que essas escolas ficaram amarradas, por força de lei.
Este tipo de atividade, em grande medida a envolver quantias significativas de dinheiro, e pior ainda por se se tratar do Estado (que nos impõe deveres e que nos deve garantir direitos), remete-me para 1995. Relembro o caso do conhecido ex-ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que negociou as condições contratuais da concessão da travessia rodoviária do Tejo (e envolver a pontes “25 de abril” e “Vasco da Gama”), para logo depois assumir o cargo de presidente da empresa concessionária – a Lusoponte, uma Sociedade Anónima de capitais privados –. Este chegou a ser considerado “O Negócio de Ouro”. O Estado português terá pago 364 milhões de euros em indemnizações e a empresa terá arrecadado 746 milhões de euros na cobrança de portagens (valores até 2012). Terá havido, posteriormente, “nove acordos de reequilíbrio financeiro”, e o Tribunal de Contas [baseando-me nos seus Relatórios de Auditorias n.º 31/2000 e 47/2001] considera ter havido “substanciais e pesadas consequências financeiras (…) para o erário público”, tal como foi “penalizador” as renegociações, e recomendou que “o Estado procure ativamente (…) até adotando uma postura criadora, assumir uma posição intransigente e permanente defesa dos interesses financeiros públicos(…)”. O certo é que, até 2019, o Estado vai ter que transferir mais 100 milhões de euros de “compensação” e, praticamente sem contrapartidas, absorve mais riscos, incluindo a manutenção da “ponte 25 de abril”, riscos que deveriam pertencer à concessionária. É o exemplo típico de uma parceria público-privada, altamente rentável para uma das partes – a privada – à custa do dinheiro dos contribuintes.
Recentemente, surgiu o caso da ex-ministra das Finanças que, sendo deputada, foi nomeada administradora não-executiva de uma empresa financeira, que negoceia e gere dívida, com interesses na banca portuguesa. Essa empresa – a Arrow Global, que fez a revelação que geria 5,5 mil milhões de euros – terá lucrado com o arrastamento do caso BANIF, com a forma como foram geridos os seus ativos, continua a lucrar com os ativos que ainda estão nas mãos do Estado (e que o Santander Totta rejeitou), tal como tem vindo a lucrar com o crédito malparado dos bancos e instituições de crédito portugueses. Junta-se o facto de subsidiárias dessa empresa terem vindo a receber benefícios fiscais, que suscitam dúvidas quanto à legalidade da sua atribuição. No mínimo, levantam-se questões ético-políticas, a merecer que haja regulação séria e controlo sobre a atividade dos titulares de cargos políticos e também sobre os titulares dos altos cargos públicos. Com este propósito, a esquerda parlamentar tem vindo a movimentar-se e sabe-se que vai ser apresentada uma resolução na Assembleia da República, pelo partido que sustenta o Governo, “para instalar uma comissão eventual sobre as regras de transparência a que devem estar obrigados (…)” os citados titulares de cargos políticos e públicos.
Já vai sendo tempo de haver uma melhor focagem no essencial, que resulte numa gestão adequada da coisa pública, para bem de todos nós e vindouros. Acima de tudo, tem de haver mais transparência e maior integridade, sem descurar a permanente vigilância, que compete a todos nós.
Boas leituras! Gosto disto.
ResponderEliminarObrigado, amigo Francisco. Um abraço.
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