ALVARO GIESTA |
Vi em 2005, se a memória me não falha, num canal da televisão, o filme “Uma Mente Brilhante” que se baseia na biografia de Jonh Nash escrita por Sylvia Nasar, e tocou-me, de uma forma muito particular, a parte final do seu discurso, no último momento do filme, durante a cerimónia de entrega do prémio Nobel com que foi distinguido (em partilha) no ano de 1994, em que ele declara o seu amor por Alicia, no jeito peculiar do matemático que conjuga melhor os números, mesmo escritos até na janela do seu quarto, para das fórmulas e raciocínios se não esquecer, do que as palavras com que, a custo, se expressa:
“Sempre acreditei em números, nas equações e na lógica. Mas após uma vida de demanda, pergunto… o que é, na verdade, lógico? Quem decide o que é racional? A minha busca conduziu-me do físico… ao metafísico… ao delírio… e ao regresso. E fiz a mais importante descoberta da minha carreira. A mais importante descoberta da minha vida. É apenas nas misteriosas equações do amor que alguma lógica ou razão podem ser encontradas. Estou esta noite aqui, apenas, graças a ti. És a razão de eu ser. És todas as minhas razões. Obrigado”.
Muito bem poderia ter sido este o fim do meu artigo escolhendo-o para fechar, com chave de ouro, uma apologia a uma mulher que o merecesse. Mas isso seria desvirtuar a razão de ser do meu propósito, que outra não é, senão, a de reflectir, e levar à reflexão, sobre a única fórmula capaz de unificar o Universo: o Amor! Assim o demonstra o homem que, deixando-se levar, primeiro, pela curiosidade intelectual, se embrenha, depois, com tal afinco, na procura de uma “Ideia Original” e na resolução de enigmas metafísicos, que passa a um estado de loucura tal que quase esfarrapa a sua vida em delírios esquizofrénicos, não fora a compreensão e o amor que lhe devotava Alicia, mesmo estando já dele divorciada.
É, efectivamente, Alicia, a causadora do seu feliz regresso ao mundo dos comuns mortais que, sem necessidade de recurso às especulações filosóficas da metafísica, às teorias experimentais da física, à demonstração e prova dos teoremas da matemática ou à resolução dos seus enigmas, descobre que “é apenas nas misteriosas equações do amor que alguma lógica ou razão podem ser encontradas”. E, por isso mesmo, Nash é! E se encontra, a si mesmo, sem recurso a amigos imaginários, ao fim de uma vida de demanda sobre o que é, na verdade, lógico.
Uma década depois de ter visto o filme “Uma Mente Brilhante” sobre Nash, quis o destino que me chegasse ao conhecimento o conteúdo da carta que Albert Einstein escreveu à filha Lieserl, e que ela, no final da década de 1980 doou, entre as 1.400 escritas pelo famoso Génio, à Universidade Hebraica, com ordens expressas de que não publicasse os seus conteúdos senão duas décadas após a sua morte (1955); ou seja, só após 1975 as cartas poderiam ser publicadas.
Aqui se transcreve, apenas, aquilo que de mais parecido há nas palavras de Nash para a ex-companheira Alicia, nas palavras de Einstein para a filha Lieserl. Um e outro, cegos na conjugação racional e fria dos números – o primeiro na busca da “Ideia Original” e na resolução dos enigmas metafísicos, o segundo na exploração da ideia mais brilhante de todos os tempos e a mais incompreendida, a “Teoria da Relatividade” – concluem, quase que envergonhadamente (ou não fossem eles os génios que mais facilmente conjugavam os números frios da razão do que a força da razão do coração) que, afinal, “é apenas nas misteriosas equações do amor” (Jonh Nash), é na “força do amor que inclui e governa todas as outras e para a qual a ciência, até agora, ainda não encontrou explicação formal” (Albert Einstein), QUE ESTÁ A FORÇA QUE GOVERNA O MUNDO.
“Quando propus a teoria da relatividade, muito poucos me entendiam, e o que vou revelar agora e transmitir para a humanidade também irá colidir com o mal-entendido e preconceito no mundo. (...) Há uma força extremamente poderosa para a qual, até agora, a ciência não encontrou explicação formal. É uma força que inclui e governa todas as outras, e está mesmo por detrás de qualquer fenómeno que opere no universo e que ainda não foi identificado por nós. Esta força universal é o amor. Quando os cientistas olharam para uma teoria unificada do universo, esqueceram-se da mais poderosa e invisível força. O amor é luz, que ilumina aqueles que o dão e o recebem. O amor é gravidade, porque faz com que algumas pessoas se sintam atraídos para os outros. O amor é potência, pois multiplica o melhor que temos, e permite que a humanidade não se extinga no seu cego egoísmo. O amor se revela e revela. Por amor, vivemos e morremos. O amor é Deus e Deus é amor.
Esta força tudo explica e dá sentido à vida. Esta é a variável que temos ignorado por muito tempo, talvez porque tenhamos medo do amor, porque é a única energia no universo que o homem não aprendeu a dirigir na vontade. Para dar visibilidade ao amor, fiz uma substituição simples na minha equação mais famosa.
Se em vez de e = Mc2, aceitarmos que a energia para curar o Mundo pode ser obtida através do amor multiplicado pela velocidade da Luz ao quadrado, chegaremos à conclusão de que o amor é a força mais poderosa que existe, porque não tem limites.
Lamento profundamente não ter sido capaz de expressar o que está em meu coração, que tem batido silenciosamente por ti toda minha vida. Talvez seja tarde demais para pedir desculpa, mas como o tempo é pai, eu preciso dizer-te que te amo e obrigado a ti porque eu alcancei a resposta final! O teu Pai Albert Einstein”.
Mas… “o mistério do amor é maior que o mistério da morte”. (Oscar Wilde 1854- 1900). Ele é divino… misterioso… de tal profundidade imensurável que quanto mais se pensa nele, mais se sofre, mais se sente, mais se duvida e, até, em nome dele se morre e se mata. Dizê-lo não basta, pregoá-lo não chega, é preciso senti-lo e doá-lo entregando-se desinteressadamente e sem limites mas sem extremismos. Há, em quem o sente e em quem o dá, sem o considerar como sendo o seu o exclusivo da única verdade, uma força invisível e indizível capaz de gerir o Universo do Ser; e, gerindo o Universo do Ser, guia o Mundo todo para a sua cura total, mau grado as guerras fratricidas que teimam em destruir a humanidade – guerras que a Fé quando cega e surda num deus mais cego ainda, tentam fundamentar esse amor como única razão para justificar o sangue que derramam.
Poesia é a complexa sensibilidade humana encarnada no poema!
ResponderEliminarA poesia é a capacidade de pôr o leitor a ler o que eu quis e não soube dizer...
ResponderEliminarUm abraço, Álvaro!
A poesia é a avalanche mais subtil da vida.
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