2.ª PARTE
JORGE NUNO |
Depois da época áurea do séc. XVI – altura em que “Portugal criou o primeiro império global”, e reforçou a presença em várias partes do globo, em grande medida sustentada na “diplomacia musculada”, suportada pelo poder bélico da artilharia marítima – mesmo após mais cinco séculos de existência, numa caminhada plena de altos e baixos, pode haver a tentação de se pensar e dizer que Portugal vive do passado, que os portugueses são saudosistas… Creio que os portugueses têm boas razões para sentir orgulho nos seus antepassados, tal como a letra do hino nacional faz apelo: “Heróis do mar, nobre povo / Nação valente, imortal / (…) ó Pátria sente-se a voz / dos teus egrégios avós / que há de guiar-te à vitória (…)”. Também, de ter orgulho nos que se destacam no presente, pela positiva. Tudo isto, sem precisar de nacionalismos exacerbados. Mas os portugueses são conhecidos pela tendência generalizada para a modéstia, a simplicidade, o afeto, a simpatia, que tanto faz aproximar as pessoas – certamente, longe da perfeição – mas também conhecidos pela firmeza, visão, entrega e combatividade, sempre que há caminhos difíceis a percorrer e obstáculos a ultrapassar.
O teor inicial desta crónica pode transmitir a ideia de se estar no papel de juiz em causa própria, mas as características de Portugal e dos portugueses podem ser fonte de inspiração para outros povos. Logo após a criação de um governo minoritário construído pelo segundo partido mais votado nas últimas eleições legislativas, apoiado em partidos de esquerda com assento parlamentar – que à boa maneira portuguesa foi apelidado de “geringonça” – foram contrariadas/desafiadas as pressões externas, face à elevada dívida pública portuguesa e aos compromissos anteriormente assumidos. Decorridos menos de dois anos, terão ficado “deslumbrados” os mais céticos, face aos progressos obtidos. A tal ponto de algumas delegações estrangeiras virem a Portugal ver, “in loco”, o que fazer e como fazer, em condições semelhantes nos seus países. Ou o caso mais recente em que, na luta pela sua independência, catalães exibem cravos vermelhos, numa alusão à “revolução do cravos” de 1974, em Portugal, com alguns deles a cantar de cor “Grândola Vila Morena / terra de fraternidade / o povo é quem mais ordena /dentro de ti, ó cidade (...)”, num português perfeitamente entendível; tal, não é novidade, pois há muitas décadas que galegos entoam a canção de raiz popular portuguesa, celebrizada por Zeca Afonso: “Senhora do Almortão / ó minha linda raiana / virai costas a Castela / não queirais ser castelhana (…)”.
O “beber ideias” em Portugal acontece em várias áreas, com incidência ao nível da saúde, de que se destaca a Fundação Champalimaud / Centro Clínico Champalimaud –“Instituição médica, científica e tecnológica de última geração” –, com programas avançados nos campos da neurociência (tendo como novidade o tratamento de depressão, com máquina), e o sucesso no tratamento e investigação em doenças do foro oncológico. O neurocientista português, Rui Costa, principal investigador e diretor da Champalimaud Research foi distinguido, em junho de 2017, pela Academia Real de Artes e Ciência da Holanda, com a medalha “Ariëns Kappers”, por abrir caminhos “ao desenvolvimento de novas estratégias para tratar distúrbios como a doença de Parkinson, distúrbios de espetro autista e perturbações obsessivo-compulsivas”. São fortes razões para virem aqui (e para aqui) vários investigadores e especialistas estrangeiros.
Fruto de políticas controversas, bastaram dez anos para tornar Portugal “o país europeu com menos abortos por cada mil nascimentos”, reduzindo drasticamente o risco de vida e perseguição a que estavam sujeitas as mulheres que, pelas mais variadas razões, decidiam abortar.
Após investigadores, cientistas e empresas portuguesas darem contributos à NASA, na exploração espacial, surge agora a notícia de que investigadores do Instituto Superior Técnico, com o apoio do Instituto de Telecomunicações, venceram o concurso para colocar um satélite no espaço, através da Agência Espacial Europeia, competindo com outros projetos europeus. O satélite será 100 % português, ao nível de design, software e hardware, sendo anunciado que “destina-se a seguir aeronaves em voo”.
Um artigo escrito, em julho de 2017, em “O Jornal Económico”, por Leendert Verschoor e Meihui Chenxu, e intitulado: “Portugal: o segredo mais bem guardado da Europa”, dá pistas para empresários e investidores fixarem aqui a sua residência, e não é só pela “excelente qualidade de vida a um baixo custo” ou por ser “um país seguro, com mais de 300 horas de sol por ano e com fortes ligações ao resto ao mundo”.
Também ao nível do turismo, tem-se falado em Portugal, como um segredo bem guardado, pelo menos até agora. É que a diversidade da paisagem, o preservado património e o clima, a par do perfil dos portugueses, tudo conjuga para este país ser talhado para o turismo. Senão vejamos:
– A cidade do Porto, em 2017, recebeu pela terceira vez o prémio de “melhor destino europeu” pela “European Best Destinations;
– Lisboa, para a CNN, é a cidade mais “cool” da Europa e, da revista Wallpaper, recebeu o galardão de “melhor design de uma cidade”. No ano anterior, Lisboa já tinha sido considerada, pela Tapestry Research, “a cidade mais vibrante da Europa” e premiada, pelos World Travel Awards como “o melhor destino de cruzeiro”;
– Agora é a vez de Portugal ser premiado, também pelos World Travel Awards, como “o melhor destino turístico europeu”, o porto de Lisboa eleito “o melhor porto de cruzeiros da Europa” e o Turismo de Portugal, pela quarta vez consecutiva, eleito “o melhor organismo europeu oficial de turismo”.
Cada vez mais é frequente ouvir-se o hino nacional e o içar da bandeira portuguesa em eventos desportivos internacionais/mundiais, com atletas portugueses no pódio, englobando grupos etários cada vez mais jovens, o que é promissor. Entretanto, vamos ficando deslumbrados com a “loucura” de alguns atletas e aventureiros portugueses, muitos deles com forte ligação ao mar. É o caso de Francisco Lufinha, velejador e recordista da maior travessia sem paragens em kitesurf. Já tinha percorrido 874 km, em 48 h, entre a Madeira e o continente. Agora foi a vez de percorrer, em dez dias, cerca de 1646 km entre Ponta Delgada / Açores e Oeiras, acompanhado da sua convidada, a alemã Anke Brandt. Ambos tornaram-se recordistas da maior travessia oceânica emkitesurf.
Fernando Pessoa escreveu a seguinte quadra, no conhecido poema “O Infante”: “Quem te sagrou criou-te português / do mar e nós em ti nos deu sinal / cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez / Senhor, falta cumprir-se Portugal!”. Pois então, cumpra-se, já que há massa cinzenta e gente entusiástica e destemida q.b.
Tal como é possível ler num painel de azulejos de uma loja na zona histórica de Braga: “Não pedi para ser português, apenas tive sorte”.
Agora fico a aguardar pela terceira parte! Excelente!
ResponderEliminarAbraço
Bela crónica professor. Um abraço amigo professor
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