PAULO SANTOS SILVA |
Faz precisamente hoje, 179 anos que nasceu em Paris aquele que viria ser (apesar de apenas ter vivido 36 anos) um dos compositores de ópera franceses mais reconhecidos – Georges Bizet.
Nascido como Alexandre César Leopold, viria a ser batizado como Georges dois anos após o seu nascimento. Aluno brilhante do Conservatório de Paris, venceu vários prémios como pianista. No entanto, esta vertente da sua veia musical foi por si pouco explorado tendo atuado como tal, muito raramente. Depois de três anos em Itália, descobre que nos teatros de ópera de Paris se prefere os repertórios mais clássicos, o que origina que as suas obras para orquestra e piano sejam frequentemente ignoradas. Assim sendo, Bizet tem de ganhar a vida a transcrever e organizar as obras de outros, o que não o impede de iniciar vários projetos teatrais que foram sendo abandonados por falta de sucesso. No entanto, duas das suas óperas atingem alguma notoriedade neste período – Os Pescadores de Pérolas e La Jolie Fille de Perth.
Durante a guerra entre a França e a Prússia, Bizet serviu na Guarda Nacional. Neste período, teve pequenos sucessos como a ópera em um ato Djamileh e a sua suite para orquestra L’Arlésienne teve uma aceitação imediata, por parte do público.
Do seu casamento com Geneviève Halévi, filha de um dos seus mestres de composição (que teve alguns altos e baixos por influência das constantes intromissões da sogra), nasceu apenas um filho. Bizet não fundou nenhuma escola nem chegou a ter discípulos, o que fez com que a sua obra fosse negligenciada durante algum tempo. À exceção de Carmen, as outras obras foram sendo sucessivamente adulteradas por outros compositores ou mesmo perdidas. Só mais recentemente, é que o génio de Bizet passou a ser reconhecido ao ponto de se afirmar que a sua morte prematura foi uma perda irreparável para a música em geral e para a ópera francesa, em particular.
A sua última ópera, Carmen, viu a sua estreia a ser adiada várias vezes por medo que a temática da mesma (onde se incluíam traições e assassinatos), não viesse a ser bem aceite pelo público. Após a estreia de Carmen, que finalmente ocorreu a 3 de março de 1875, Bizet convenceu-se que a sua obra tinha sido um fracasso. Morreu apenas três meses após a estreia, de ataque cardíaco, sem saber que a sua Carmen se tornaria num grande sucesso que ainda hoje perdura e que faz com que seja uma das óperas mais apresentadas e apreciadas, inclusivamente por público mais leigo na matéria. De entre as várias peripécias que a produção teve durante os ensaios, destacam-se as queixas da orquestra de que algumas partes eram impossíveis de tocar e as queixas do coro por ter de se constituir como uma “personagem” dentro da encenação, ao contrário do que era hábito até então. Entre as personalidades da cena musical presentes na estreia, destacam-se Jules Massenet, Camille Saint-Saëns e Charles Gounod. Enquanto os primeiros dois reagiram de forma positiva, Gounod acusou Bizet de plágio da sua obra. Teve a oportunidade de redimir-se desta acusação no funeral de Bizet, visto que ficou a seu cargo o elogio fúnebre. Não o conseguiu concluir uma vez que a emoção se apoderou de si.
Estiveram presentes cerca de 4000 pessoas no seu funeral. Nessa mesma noite, houve uma apresentação especial da Carmen, na Opera de Paris. A mesma imprensa que o havia dizimado, após esta apresentação, declarou-o como um mestre. Um belíssimo exemplo de que algumas pessoas só veem o seu valor reconhecido, depois de mortas!...
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