Até ao lavar dos cestos é vindima e a imagem da vinha continua a estar no centro da Palavra de Deus. Neste 27.º Domingo Comum, a vinha representa-nos a todos nós, que somos membros do Povo de Deus.Passado o tempo das vindimas, deixemos então Deus espremer a nossa vida, para vermos, com verdade, os frutos que damos. Pois é «pelos frutos» (Mt 7,15)que os discípulos de Jesus são conhecidos.
Homilia no XXVII Domingo Comum A 2017
POR AMARO GONÇALO |
Para quem sabe da poda, o tempo festivo das vindimas já lá vai! Mas enquanto os primeiros dias do outono nos dão a saborear os frutos da colheita e o vinho doce na mesa, com o mês de outubro é tempo de arregaçar as mangas, de começar a cuidar da vinha nos vários campos da missão: na paróquia, nas escolas, nas empresas, nas autarquias. Permitam-me, então, nesta ordem de trabalhos, colocar três pontos de reflexão ou, se quiserem, de inflexão!
1.Primeiro, vamos ao trabalho! E façamo-lo, movidos pelo amor de Deus, à Sua imagem e semelhança, com todo o esmero e cuidado! Deus, que nos criou assim, com amor infinito, e com o mesmo desvelo cuida do Seu povo, também chora como uma videira quando, em vez de uvas doces, colhe uvas azedas, em vez do vinho bom do amor encontra o vinagre da ira e da soberba.
Perguntemo-nos, então, e desde já: a nossa vida cristã não é, por vezes, mais vinagre do que vinho bom? Não é mais conflito do que comunhão? Porque é que, em vez de servidores da alegria do Evangelho, nos tornamos tão rapidamente evangelizadores “com cara de vinagre” (EG 85)?
2.Mas a parábola do Evangelho direciona-nos numa segunda interpelação: ali os frutos são bons, não há uvas azedas! Mas os vinhateiros querem negar ao Senhor da vinha os Seus frutos. Em vez de cuidadores, tornam-se usurpadores! Em vez de guardadores do sonho de Deus e servidores da Sua vinha, tornam-se os donos disto tudo, os reis e senhores da quinta! E chegam mesmo a matar o Filho, Seu enviado, porque não querem responder diante de Alguém.
Como isto é tão atual no campo de sangue em que se transformou a vinha do nosso mundo! Queremos construir um mundo sem Deus para nos tornarmos os senhores absolutos e fazermos dele tudo o que nos apetece! Mas, deste modo, a vinha transforma-se rapidamente num terreno inculto, devastado pelos javalis da selva (cf. Sl 79,14).
Perguntemo-nos, também: quantas vezes, nós próprios, a quem foi confiada a implantação do Reino de Deus, em vez de cuidarmos desta Casa Comum, como jardineiros e guardadores, nos tornamos os seus usurários e destruidores?!
3.Mas escutai, queridos irmãos e irmãs: estes javalis também penetram a Igreja e devastam a vinha predileta do Senhor! Quantas vezes, no âmbito da nossa paróquia, e até no pequeno espaço do nosso grupo pastoral, nos comportamos como donos e senhores da quinta, dominadores dos outros?! Meu pai disse-me uma vez e nunca mais o esqueci: “Meu filho, lembra-te: a Igreja não é tua. Tu é que és da Igreja”. É bom recordar isto todos os dias!
Perguntemo-nos, por isso:movidos pelo amor de Deus, queremos ser os guardadores do sonho de Deus, para a Sua vinha? Ou vamos frustrar o Seu sonho a tal ponto “que nos seja retirado o Reino e dado a um Povo que produza os seus frutos” (Mt 21,43)?
Irmãos e irmãs: que a nossa última palavra não seja de ameaça, mas de esperança, porque o Filho de Deus, rejeitado, transformou a violência da Sua morte numa força de Vida e de Ressurreição. E, no Seu Sangue, dá-nos agora a beber o vinho novo da salvação. Duas coisas nos bastam então, para darmos fruto: permanecer unidos a Cristo, como o ramo à videira. E guardarmos o Seu sonho, como “humildes trabalhadores da vinha do Senhor” (Bento XVI)!
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