RAQUEL EVANGELINA |
Há cerca de dois meses apadrinhei uma criança órfã moçambicana através de uma organização não-governamental portuguesa. O meu apadrinhamento, uma quantia financeira mensal, permitirá à criança ter direito a cuidados de saúde e a uma educação. Comprometi-me a ajudar desde o 1º ano até ao 12º ano de escolaridade. Era algo que queria fazer já há algum tempo mas estava suspenso, não por má vontade mas, porque queria mais estabilidade financeira. Decidi então que se estivesse à espera de estabilidade ou de um aumento salarial continuaria a adiar. Era este o momento. As pessoas que me conhecem bem apoiaram-me, algumas disseram que admiravam a coragem de me comprometer e nenhuma delas questionou a minha decisão. Mas há sempre outras pessoas. Aquelas que não compreendem o porquê. E depois fazem-me perguntas do género: “Achas que esse dinheiro chega mesmo lá?”, “Já fizeste contas ao fim de 12 anos de quanto dinheiro vais gastar com uma criança que podes até nunca conhecer pessoalmente?”, “Não havia cá pessoas próximas de ti para ajudar?” ou então “É tudo muito bonito mas e se precisares de um momento para o outro do dinheiro?”. O dinheiro chega lá e vão mandando fotos da criança a mostrar que adquiriram mais isto ou aquilo com a minha “mesada”. Posso conhecer a criança pessoalmente, se me quiser deslocar a Moçambique, a ONG trata de organizar a visita. Agora não mas acho que em 12 anos haverá uma altura em que conseguirei. Também já fiz as contas. É uma quantia considerável no total. Dividida por 12 anos e subdividida por 12 meses aposto que muitos dos que me perguntam sobre contas gastam muito mais com um par de calças. Também sei que há pessoas a precisar de ajuda cá. Não preciso que estejam sempre a lembrar-me disso. Mas apoiei uma causa com a qual me identifico. De certeza que outras pessoas se identificarão mais com causas mais próximas. Eventualmente poderei precisar do dinheiro no futuro mas não será este que me fará falta, será aquele que foi mal gasto com roupa que já não uso ou coisas que nem nunca sequer precisei. Tive uma infância feliz. A minha família não é abastada mas nunca passei fome. Tenho um pai e uma mãe que, feitios e defeitos à parte, sempre me apoiaram nas decisões e sempre foram honestos quando não concordavam com algo. Tive direito a brincar. Tive direito a sonhar que poderia ser o que quisesse no futuro. Tive direito à educação para poder chegar ou pelo menos aproximar-me desse sonho. Tive acesso a cuidados de saúde. É tão banal para nós termos isto que nem nos damos conta da sorte que temos. A minha afilhada não tem pai. Sonha ser professora. Entrou para a escola. Se não for professora pelo menos será alguma coisa. Poderá no futuro cuidar da avó e mãe, iletradas, que agora cuidam dela. Terá agora um maior cuidado a nível de higiene o que também ajudará a não necessitar tanto de cuidados de saúde. Estou feliz porque no fundo acho que com uma pequena contribuição estou a ajudar alguém a viver melhor. Acham mesmo que o valor mensal que me tiram paga isso? Nada no Mundo paga a sensação de saber que alguém está melhor graças a nós. “Do amor que damos só o amor herdamos” é uma frase conhecida que me diz muito. Este meu amor vai em forma monetária todos os meses para uma criança que só vejo em fotografias. Mas que a cada fotografia nova que me mandam está cada vez mais e mais sorridente. E esse sorriso é o maior agradecimento que posso ter.
Obrigado Raquel. Bem haja!!
ResponderEliminarAss. Raul Tomé
Adoro!!! Quando fazemos o bem não estamos a espera de nenhum retorno, fazemos para ajudar para fazer feliz o outro e a nós próprios.
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