quarta-feira, 26 de julho de 2017

AMIGO OU INIMIGO SALGADO?

- “Olá! Quanto custa uma caixa daquele medicamento?”
- Olá, aquele medicamento custa 500g de sal”.


VERA PINTO
Certamente que nenhum de nós está à espera de uma resposta destas quando vai comprar algo que necessita. O mesmo não poderíamos dizer se entrássemos numa máquina do tempo e remontássemos à idade média. Antes de surgir a moeda, a remuneração do trabalho humano era feito com mercadorias, como carneiro, porco, galinhas, sal e peles. Aliás, tal como, a maioria das palavras do nosso vocabulário, a palavra salário deriva do latim salarium argentum, que significa “pagamento em sal”. Isso porque no Império Romano, os soldados eram pagos com sal. Ao descobrir que o sal, além de ajudar na cicatrização, servia para conservar e dar sabor à comida, os romanos passaram a considerá-lo um alimento divino, uma dádiva de Salus, a deusa da saúde. O sal mais conhecido é o cloreto de sódio vulgarmente chamado de "sal comum" ou "sal da cozinha", por ser largamente utilizado na alimentação humana. O sal permite, não só melhorar o sabor das refeições. Para algumas pessoas lamber uma colher com restos de sal de cozinha contribui para alegrar o dia. Aos seres humanos, tal como aos roedores, o sal melhora o ânimo. É um efeito lógico, se tivermos em linha de conta que evoluímos de criaturas que viviam nas águas salgadas dos oceanos e que, uma vez instaladas em terra firme, continuavam a necessitar de sódio e de cloro, os dois componentes do sal de mesa, indispensáveis para as nossas células funcionarem correctamente e para os neurónios poderem comunicar entre si. Também nos desportos exigentes, o sal pode trazer vantagens. A reposição de sais durante as provas mais rigorosas permite melhorar o rendimento dos atletas, da mesma forma que é benéfico consumir alimentos com elevado teor de sal, como frutos secos, antes de enfrentar competições que exijam grande resistência. Outro ponto a favor é a capacidade de defender o organismo de agentes patogénicos. Alguns estudos também defendem que se passarmos a restringir o uso do saleiro, a nossa memória enfraquece, isto porque o cloreto de sódio é imprescindível para os neurónios poderem transmitir correctamente os sinais nervosos. Contudo, se não for consumido com moderação, o sal dá tanta alegria aos pratos como desgostos à nossa saúde. As consequências de se exceder habitualmente os limites estabelecidos para uma alimentação saudável não devem ser encaradas levianamente. A mais conhecida é o aumento da pressão arterial, ou hipertensão, frequentemente designada por “assassino silencioso”, devido a capacidade de passar despercebida, sem dar origem a sintomas, até provocar acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos. O abuso em sal também coloca em perigo os órgãos vitais, principalmente o coração, os rins e o cérebro. O composto químico também é suspeito de promover o desenvolvimento de um grupo de células defensivas envolvidas na activação de doenças auto-imunes, como psoríase, artrite reumatóide e esclerose múltipla, nas quais o próprio organismo ataca por engano os tecidos saudáveis. Todas estes malefícios já são mais que conhecidos e, apesar da comunicação em massa ainda não sabemos evitá-los. Segundo a OMS não devemos consumir mais de cinco gramas de sal por dia. Contudo, Portugal consome mais do dobro e o coração e sistema vascular são as principais vitimas dos excessos. Acrescentar uma pitada de sal à vida é essencial para nos proporcionar bem-estar, todavia lembre-se: “uma pitada q.b., não se estique na pitada”.

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