MARIA AMORIM |
Quando começamos a sentir num dos nossos entes queridos alterações, no início muito subtis, a nível do seu comportamento, geralmente provocadas por alterações na memória, o fantasma das demências desperta subitamente em nós, e nada nos prepara para ver definhar mentalmente alguém que sempre encaramos como forte, como refúgio ou como referência. Sempre que precisei de lidar de mais perto com famílias atingidas por quadros demenciais, senti muitas vezes a desorientação em que ficam mergulhados pelo desconhecido que as atinge, e também a culpa que muitos evidenciam por não conseguirem lidar com eles. Esta minha crónica pretende, acima de tudo, prestar algum esclarecimento acerca da doença de Alzheimer, do que é, como se desenvolve e algumas dicas que possam contribuir para ajudar um pouco na forma de lidar com os doentes atingidos por ela.
A doença de Alzheimer é uma doença evolutiva do cérebro, que afeta gravemente a capacidade de pensar e a memória da pessoa que atinge, sendo uma das formas mais comuns de demência, cuja evolução é, geralmente, muito lenta, só se descobrindo frequentemente ao fim de muitos anos de problemas de memória. A Doença de Alzheimer é um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras), deterioração que implica a perda da capacidade de julgamento e de raciocínio, alterações do humor e alterações do comportamento e da comunicação. Esta deterioração tem ainda como consequências alterações na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades de vida diária.
A doença foi descoberta em 1906, pelo Dr Alois Alzheimer, identificando as 2 grandes manifestações cerebrais da doença, que são as placas constituídas por pequenos depósitos densos repartidos pelo cérebro, que se tornam tóxicas para as células cerebrais e as tranças fibrilares constituídas por um emaranhado de fibras que vai abafando as células sadias do cérebro.
De momento, ainda não são conhecidas as causas do aparecimento do Alzheimer, nem como impedir a progressão da doença, os factos conhecidos são que não faz parte do processo normal de envelhecimento, afeta da mesma forma homens e mulheres, é mais frequente com a idade, a maioria das pessoas afectadas tem mais de 65 anos, não se deve ao endurecimento das artérias e não se deve ao stress.
Como é feito o diagnóstico? Embora o progresso científico e a crescente sensibilização da classe médica tenham melhorado no que respeita à Doença de Alzheimer, existe ainda um número significativo de pessoas cujo diagnóstico é feito numa fase moderada ou avançada da doença, ou que nunca chega a receber um diagnóstico, sendo que os sintomas da doença de Alzheimer são frequentemente confundidos com sinais normais de envelhecimento. Actualmente, não existe um teste único que permita dizer se uma pessoa tem ou não Alzheimer. É necessária uma avaliação cuidadosa e sistemática, e é eliminando todas as outras causas possíveis que se estabelece o diagnóstico. Enquanto não existirem testes concludentes, continuaremos a falar de « doença de Alzheimer provável »
Como evolui a doença? A evolução da doença segue algumas etapas ou estadios que vão trazer mudanças na vida da pessoa atingida assim como da sua família. Porque o Alzheimer afeta cada pessoa de forma diversa, os sintomas, a ordem pela qual aparecem e a duração de cada estadio vai variar de doente para doente, evoluindo lentamente na maioria dos casos. A doença pode prolongar-se entre 7 a 10 anos, podendo ser mais longa para certas pessoas.
SINAIS PERCUSSORES
• Perdas de memória que interfiram com as atividades de vida diária. Esquecimentos ocasionais, de coisas de que não se vai recordar mais tarde
• Dificuldade em executar tarefas familiares. Não se lembrar de que tem o lume aceso, por exemplo, deixar as torneiras abertas.
• Problemas de linguagem. Esquecer as palavras apropriadas e substitui-las por outras, tornando as conversas impossíveis de entender
• Desorientação no tempo e no espaço. Esquecer-se da própria rua onde mora e perder-se porque não se consegue orientar
• Baixa da capacidade de julgamento. Tornar-se incapaz de reconhecer problemas e procurar a sua solução (é capaz de vestir roupas quentes em pleno verão).
• Dificuldades face a noções abstratas. Deixa de saber, por exemplo o que representam os números no talão de cheques
• Objetos perdidos. Não se trata propriamente de perder, antes de guardar em locais não apropriados (o ferro no frigorífico, p. ex)
• Mudanças de humor ou de comportamento. Passa inexplicavelmente do riso as lágrimas ou à cólera, sem razão aparente
• Mudanças na personalidade. A pessoa pode tornar-se confusa, medrosa, fechada, desconfiada, mesmo que nunca o tenha sido
• Perda do interesse. Torna-se muito passiva e é necessário um grande esforço para a interessar às atividades que a rodeiam
ESTADIOS DA DOENÇA DE ALZHEIMER
• Estadio ligeiro
Défice ligeiro, como perdas de memória, dificuldade de comunicação e mudanças de humor, a pessoa conserva grande parte das capacidades e só necessita de uma pequena ajuda, ainda está consciente do que se passa com ela.
• Estadio moderado
Há um declínio das faculdades cognitivas e funcionais, podendo manter-se ainda a consciência da sua condição , mas a sua condição vai continuar a deteriorar-se. Necessita de ajuda para as atividades diárias.
• Estadio avançado
A pessoa torna-se incapaz de comunicar verbalmente ou de cuidar de si, necessitando de cuidados constantes, com o fim de lhe assegurar a maior qualidade de vida possível.
• Fim de vida
Nesta fase da vida, à medida que a pessoa se aproxima da morte, os cuidados visam o seu conforto e qualidade de vida, tendo conta das suas necessidades físicas, afetivas e espirituais.
(continua...)
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