LUÍSA VAZ |
Hoje celebra-se o Dia Mundial do Idoso e infelizmente, o que deveria ser um dia mundial de celebração é em muitos casos um dia como os outros e para muitos idosos, mais um dia de aflição e medo pelo dia seguinte.
Eu tive a sorte de desde o meu nascimento viver e conviver quer com a minha avó, que ainda hoje é para mim uma referência em todos os sentidos, quer com a minha bisavó que muito do seu tempo e afecto dedicou a criar-me. A minha avó tinha 50 anos e a minha bisavó 68 quando nasci. Tive a sorte suprema de as ter comigo diariamente durante mais de 30 anos.
Considero que isso me enriqueceu a todos os níveis e fez com que eu evoluísse muito como Ser Humano. Os comportamentos, a forma de estar, as atitudes perante a vida, a Educação que me deram fizeram de mim uma pessoa moralmente bem-formada.
Costumo dizer, vendo alguns exemplos de como jovens e adultos tratam os idosos que eu devo ter uma costela nipónica pois para mim é impensável destratar de alguma forma o Idoso quanto mais sujeitá-lo a atrocidades como as que, infelizmente, de forma sucessiva vemos noticiadas nos media.
Refiro-me à sociedade nipónica porque eles têm a mesma interpretação que eu sobre a pessoa Idosa, também para eles, ela significa uma fonte inesgotável de conhecimento e sabedoria única que não vem nos livros e à qual não temos outra forma de aceder se não por via do contacto directo com eles. E que rica experiencia é!
Quero acreditar que será por força da falta de Educação e de Valores que muitos familiares apenas esperam o dia em que os seus idosos partam, ou porque exigem atenção, ou porque estão doentes e necessitam de cuidados ou porque são eles os detentores de alguma – mesmo que modesta – posse que a família possa deter. Tudo isto, a ser verdade, resume-se no entanto a duas palavras: por um lado “egoísmo” e por outro “ignorância pura” até porque se esquecem que também eles para lá caminham. Fazer com que os seus idosos sejam colocados num Lar acaba por ser o objectivo de muitos mas a solução deveria ser encontrada no seio da Família pois se formos a ver, quando um dia os Idosos foram chamados a tomar conta dos infantes, eles não negaram essa responsabilidade e fizeram-no de coração aberto.
Como não lhes retribuir da mesma forma quando precisam? É chato? Dá trabalho? Tira-nos tempo para outras actividades? Acredito que sim mas nós também éramos chatos e também já demos imenso trabalho e isso não os impediu de o assumir não como uma tarefa mas como uma Missão de vida.
É verdade que as Famílias não são todas iguais e que cada núcleo tem a sua história – muitas vezes demasiado intrincada – e que muitos idosos nem sempre têm ou tiveram um trato fácil mas nada deveria servir de desculpa ou acaso se tivermos divergências com um filho vamos devolvê-lo? E caro leitor, por favor não seja moralista na análise desta questão.
São inúmeras as violações aos Direitos dos Idosos e se por uns eles são vistos com complacência, por outros são vistos como um estorvo e nenhuma das visões é correcta. São os nossos antecessores, fazem parte da nossa História, são o acervo de tempos passados dos quais muitas vezes já só há memória e estórias contadas “de boca em boca”; são costumes e culturas diferentes e tradicionais; são um manancial inesgotável de experiências e conhecimento.
Daí que eu celebre este Dia com muita alegria e respeito por todos os Idosos e proponha que, tal como se criou a Carta dos Direitos da Criança, se crie uma Carta dos Direitos do Idoso e que se puna quem não os respeitar ou os tratar com a Dignidade que merecem.
Nunca nos devemos esquecer que é graças aos nossos Idosos que cá estamos e somos quem somos e que o fim da linha para eles é o começo da nossa. Portanto não podemos nem devemos dissociar realidades indissociáveis e que necessitam uma da outra para que o núcleo familiar e a sociedade funcionem em pleno.
Uma sociedade que trata bem e respeita os seus Idosos é uma sociedade evoluída e mais uma vez nós ainda estamos muito atrasados mas estamos sempre a tempo de “emendar a mão” e agir de forma digna e correcta para com aqueles que de forma absolutamente gratuita nos dão o que têm e o que não têm e acima de tudo nos dão o que não se compra nem se vende e que ainda assim não tem preço – o Amor Incondicional.
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