segunda-feira, 19 de junho de 2017

DEUS DÁ A VIDA E É DEUS QUE A TIRA

RITA TEIXEIRA
Acredito que Deus tem o destino traçado para cada um de nós. Todavia acredito que ele está ao lado da investigação científica e, consequentemente, apoiando a medicina.

A vinda de um bebé ao mundo é uma benção de Deus, para os pais ansiosos por um rebento, fruto do amor que os uniu. Entretanto, outros casais vivem na expetativa de alargarem as suas famílias. 

Infelizmente, não são contemplados com essa dádiva de Deus. Como fazer? Recorrer à medicina, claro! O mesmo aconteceu comigo. Não fora a medicina, eu nunca conheceria o dom da maternidade. É um processo longo, cansativo, árduo e muitos desistem do seu sonho. Alguns casais sentiram o amor grandioso, abnegado, eterno, graças à inseminação artificial, fruto da investigação científica. Deus dá a vida, mas a medicina também a dá. 

Não sou a favor do aborto, mas quando a grávida corre graves riscos de vida ou foram detetadas muitas graves más deformações aos fetos, estou plenamente de acordo em que se recorra à medicina, para tirar a vida a estes fetos. 

No que se refere à morte medicamente assistida, estou plenamente de acordo. Continua a ser uma polémica a sua legalização por parte dos deputados da assembleia da república. Ponham-se na minha situação.

Sofro de uma doença rara e fatal. É mais conhecida pela sigla. E. L. A.. Que significa Esclerose Lateral Amiotrófica. 

Com o decorrer do tempo, todo o meu corpo irá-se atrofiando, enquanto o cérebro funcionará a cem por cento. Tudo se desmorona à nossa volta. Sonhamos com um final de vida, com a concretização de pequenos desejos, mas a vida torna se uma prisão. Ansiamos por um final de vida recheado de afetividade, mas ergue se um muro invisível que apenas eu vejo quem passa do outro lado. Esperamos rever amigos que marcaram pegadas na passagem pela nossa vida, mas evaporaram-se, mostrando que eu fui somente um peão nas suas caminhadas. 

Como posso ficar ligada a máquinas, sabendo que estarei consciente o tempo todo? Como poderei estar ligada às máquinas, pressentindo a presença dos entes mais queridos? Como poderei estar ligada às máquinas, apenas vegetando e não vivendo? Não estaei à espera de uma recuperação ou de um milagre, estarei à espera da morte cerebral. Não viverei, apenas sobreviverei. 

Quantos cortes no orçamento da saúde! 

Quantas cirurgias adiadas por falta de verbas! Quanta falta de médicos e enfermeiros nos centros de saúde, espalhados por Portugal. 

Quanto dinheiro gasto naqueles que já não vivem, simplesmente sobrevivem!

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