quinta-feira, 1 de junho de 2017

ERA UMA VEZ UM MENINO...

MARIA AMORIM
A propósito do dia 1 de junho ser o dia da criança e também ter sido instituído como o dia internacional do leite, o que na minha opinião é muito pertinente, veio-me à memória a história de um rapazinho que nasceu numa época bastante diferente da atual, no que concerne a direitos da criança.

Esse menino nasceu de pais que trabalhavam, cada um a cerca de 20km de casa, e naquele tempo, a licença de maternidade limitava-se a 3 meses, sim, 3 meses... parece quase ficção que tenha havido uma época em que tinha que se deixar os filhos tão pequenos para ir ganhar a vida. Mas, pior do que deixa-lo tão pequeno era ter que decidir que tipo de aleitamento iria ter, porque naquela época ainda não existia horário especial para amamentação, esse direito a criança ainda não tinha. Para os chefes, não constituia problema, existiam biberões e muito leite na farmácia, e ninguém morreu por tomar desse leite. Para a mãe era uma tragédia, então eu tenho tanto leite e agora que vou fazer? E, foram pensadas e repensadas todas as hipóteses, a única que não era viável era não o amamentar. A decisão foi tomada, o pai faria todos os dias os kilómetros necessários para o levar ao trabalho da mãe, as vezes que fossem necessárias. Foi pedida uma autorização especial no trabalho, e, então, até ele ter quatro meses, como ela trabalhava por turnos, e o pai só trabalhava de tarde, ele vinha trazê-lo a meio da manhã, e depois do menino mamar, levava-o de volta para a avó onde o tinha ido buscar,e ia trabalhar, e os 20 km já não eram 20, transformavam-se em quarenta. E esta rotina repetia-se, ora de manhã, ora à tarde, ora à noite, consoante o turno que a mãe estivesse a fazer. Quando o menino fez quatro meses, foi introduzida a sopa e passaram a ser só dois os turnos em que era preciso levá-lo. Para a sua mãe, o turno pior e mais longo era sempre o turno da noite, o seu menino chegava, nos braços do pai, por volta da meia noite, ela dava-lhe de mamar para depois os ver ir embora. E se ele acorda com fome? Eu não vou estar lá... Mas la ia, de volta ao trabalho que tinha esperado por ela, pois estava sozinha no serviço de noite.. A sorte era que ele era um menino especial, dormia muito bem e era um sossego. Comia, dormia e crescia, e iam passando os dias nesta rotina em que nunca nenhum dos pais pensou em desistir, apesar dos quilómetros, das noites e dos dias de alguma correria, isto até ele fazer um ano. Valia a pena vê-lo crescer feliz e saudável e sentir que estavam a fazer o melhor para o seu menino, o pai gostava de dizer este leite vale ouro...Mas o seu filho valia muito mais.

Esta não é uma história de ficção, é uma história real, que vivi de muito perto. Serve só para nos fazer pensar, que num periodo não tão longínquo assim, não havia todas as facilidades que existem agora, que as crianças não eram tão protegidas como são agora, e mesmo os seus direitos mais elementares nem sempre eram reconhecidos. Foi preciso percorrer um longo caminho, de algumas lutas, para que os pais pudessem ter todas as facilidades que agora possuem. Felizmente que fomos evoluindo e dando à maternidade e à paternidade a importância real que tem, permitindo que se criem crianças ainda mais felizes porque mais acompanhadas e protegidas pela lei. É preciso que os pais não esqueçam que as leis foram feitas para os filhos, não para eles, que sejam honestos o suficiente para aproveitar aquilo que custou a adquirir, que os pais de hoje se lembrem que foram as crianças de ontem, que foram criadas com mais dificuldades legais e laborais. Aproveitem o que podem para fazer dos filhos crianças que crescam acompanhadas, amadas, porque têm mais condições do que os seus pais tiveram. 

O dia 1 de Junho é o dia da criança, serve para nos fazer pensar, estamos realmente, hoje em dia a fazer o melhor pelos nossos filhos? Eles precisam de brincar, pular, saltar, dar asas à imaginação, crescer rodeados do amor da família...precisam mais disso do que estar confinados tantas horas entre quatro paredes. 

Brincar é um direito fundamental da criança, cabe aos pais tornar possível que esse direito seja respeitado. Ao rapazinho da minha história nunca foi negado o direito de brincar, de pular e de saltar, nem nunca lhe foi negado o amor da sua família, só espero que um dia, ele saiba procurar dentro de si a força para tomar as melhores decisões quando chegar a sua vez de ser pai, pois a vida é um ciclo sem fim, e se há coisa que é bem verdade é que FILHO ÉS, PAI SERÁS... E assim sucessivamente, os tempos vão mudando, mas as crianças serão sempre crianças... a verdadeira razão da vida!!!

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