domingo, 11 de junho de 2017

NADA TEM A VER COM O ISLÃO OU TEM?

Salman Rushdie 

JOANA M. SOARES
Salman Rushdie disse esta semana que "é preciso acabar com a cegueira estúpida" do Ocidente face ao jihadismo que consiste em dizer que "isso nada tem a ver com o Islão".

Concordo. O arrojado escritor britânico de origem indiana, autor de obras como "Os Filhos da Meia-noite ou Os Versículos Satânicos" - o livro de 1988 que provocou grande polémica no mundo muçulmano e lhe valeu uma condenação à morte, o decreto religioso emitido em 1989 pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini, que acusa o escritor e todos os envolvidos na publicação e divulgação do livro de blasfémia, vem agora dizer que "há 50 anos que o Islão se radicalizou", numa entrevista publicada no semanário francês l'Obs.

Declarações no rescaldo dos recentes atentados em Londres. Aliás, a Europa tem vivido em rescaldo de ataques perpetrados por radicais islâmicos.

No ocidente, os líderes políticos, em estratégias de comunicação esgotadas, fazem crer que estes ataques inusitados, não são o Islão, não são o oriente. O escritor garante que é exatamente o contrário, e eu estou aqui a corroborar o que Rushdie defende. No meu mestrado de Política Internacional da City University falámos dos cinco pilares do Islão, descrevo em forma simples:

1 – Testemunhar a fé (Shahadah)

2 – Oração (Salah)

3 – Jejum (Siyam)

4 – Peregrinação (Haj)

5 – Caridade (Zakah)

Claro que há uma tradição do Islão esclarecido e desenvolvido, que se rege por estes pilares que Maomé estipulou para o desempenho de uma vida digna e sã. Mas não é este Islão que está no poder hoje em dia. Quem tomou as rédeas da História do Médio Oriente são os rebeldes desesperados pelas consequências do poder de um Califado que vai buscar as origens do jihadismo que fala de uma luta entre homens e de uma vontade pessoal. Ou o jihadismo Maior ou Menor. A Jihad Maior é aquela luta que cada um trava consigo mesmo para buscar e conquistar a própria fé. A Jihad Menor é aquela que os muçulmanos travam com o outro para levarem os ensinamentos do Islão aos outros. Aquele que segue a Jihad é conhecido como mujahid. É nesta luta menor que se apoiam os radicais. É aqui que é impossível dissociar o fundamentalismo do Islão como pretende e como alerta Salman Rushdie: "Do lado xiita, houve o Ayatollah Khomeini e a sua Revolução Islâmica. Do lado sunita, há a Arábia Saudita que utilizou os seus imensos recursos para financiar a difusão desse fanatismo que é o wahabismo. Mas esta evolução histórica teve lugar no seio do islão e não no exterior", explica o escritor. E continua: "Quando os elementos do Daesh se fazem explodir eles dizem 'Allahou Akbar', então, como se pode dizer que isso não tem nada a ver com o Islão?".

Eu alinho na teoria do escritor para evitar estigmatizar o Islão, talvez o melhor seja reconhecer a natureza do problema para o tratar.

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