sábado, 10 de junho de 2017

O CICLO VICIOSO DA POBREZA E DA EXCLUSÃO SOCIAL: ATÉ QUANDO?

JOÃO MENDES
Depois de um glorioso mês de Fado, Fátima e Futebol, eis-nos de regresso ao mundo real. E no mundo real, nesta bela pátria à beira-mar plantada, solarenga e forrada a turistas estrangeiros a passear nos tradicionalíssimos tuk-tuks, existem 2,6 milhões de portugueses em risco de pobreza ou exclusão social. Um número que não pode ser ignorado e que põe a nu, de forma inequívoca, o fosso profundo que divide a sociedade portuguesa.

É certo que a percentagem de portugueses nesta situação aflitiva diminuiu, algo particularmente estranho nestes tempos em que o totalitarismo soviético é, segundo alguns, a lei, mas uma mísera redução de 1,5% não merece grandes foguetes. Quanto muito serve para provar às baratas tontas que até nisto a Geringonça faz melhor figura. O que de resto nem sequer é muito difícil. Mas devia obrigar-nos a reflectir sobre este país desigual. Sobre este Estado falido que despeja milhões em sucessivos resgates bancários de instituições que, depois de décadas a alimentar negociatas, enriquecimento trapaceiro e campanhas eleitorais, nos entregam bancos atolados em dívidas, relativamente às quais nunca ninguém é responsável ou, se é, não tem bens em sua posse. Estão sempre na posse de uma tia qualquer, ocupada a brincar aos pobrezinhos na Comporta.

Se excluirmos o grande alargamento de 2004, ano em que torramos milhões de euros com estádios e futebóis, e apesar dos 18 anos de avanço que levamos sobre os estados-membros de leste, o que ainda assim não nos impede de ter já sido ultrapassados por alguns deles, a pobreza e a exclusão social são apenas mais duas das caudas europeias onde continuamos permanentemente instalados. Só porque somos pobres e o destino é cruel? Não. Porque, no essencial, temos sido governados por incompetentes e criminosos. Porque quase todas as nossas obras derrapam, quase todas as nossas autarquias alimentam clientelas e quase todas as grandes empresas, outrora do Estado, foram vendidas por tuta e meia, para fazer fretes ou pagar favores. Porque perdoamos impostos a quem não precisa, fazemos obras das quais ninguém precisa e pagamos as dívidas que não são nossas porque quem as devia pagar aparentemente não precisa. Porque, chegados a um determinado estrato da população portuguesa, a lei deixa de vigorar. O estrato onde políticos e elite financeira fazem a dança das cadeiras com o dinheiro dos nossos impostos. Tudo junto, é muito dinheiro. Quantos deixariam de estar em risco de pobreza ou exclusão social se a corrupção e o tráfico de influências fossem erradicados? Será que algum dia nos veremos livres da escumalha que garante a manutenção deste ciclo vicioso?

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