ANABELA BORGES |
Ainda o Verão não tinha marcado presença no calendário, já os dias em Portugal eram fortemente abalados por uma tragédia no mínimo chocante e invulgar.
De proporções inimagináveis, os primeiros grandes incêndios deste ano tiveram consequências que apenas seriam aceitáveis nos nossos piores pesadelos.
E quando o luto e a consternação – o silêncio para dar espaço à dor – eram o estado que se esperava de um país em estado de choque, apareceram especialistas por todo o lado a arranjar culpados à força e a tentar justificar o injustificável, a falar muito e demasiado cedo, a incendiar impiedosamente os ânimos, seus e dos outros.
Não sou especialista em nada, não tenho respostas para o que aconteceu, não sei dizer cabalmente o que não foi feito, quem falhou.
Por isso, o que aqui deixo são perguntas, a pedir responsabilidades a quem tem de as assumir. Porque há responsabilidades a assumir sobre o elevado número de vítimas atingidas pelos incêndios que tiveram início a 17 de Junho passado. Mesmo que a origem tenha sido natural, não há justificação para as proporções atingidas pela tragédia, uma vez que fenómenos do mesmo género já tinham ocorrido em Portugal, felizmente sem estas consequências, e “trovoadas secas”, pelo menos até à data, ainda não são criminalmente imputáveis.
Falem, então, os responsáveis por:
- limpeza e manutenção das bermas das estradas,
- planeamento, conservação e ordenamento do território florestal,
- IPMA: comunicação correcta e atempada de previsões e alertas,
- actuação da Protecção Civil: coordenação entre os meios no terreno, comunicações, alertas, avisos à população,
- comunicações entre meios operacionais, com destaque para o SIRESP,
- eficácia (rapidez) e coordenação entre meios operacionais terrestres e aéreos,
- combate, busca e salvamento,
- tomadas de decisão políticas: centrais e regionais.
São estes, entre outros, os que terão de ser chamados à responsabilidade. Estes falharam.
Sim, enquanto cidadã, exijo que sejam apuradas e assumidas responsabilidades, que os responsáveis sejam julgados e responsabilizados pelo que (não) fizeram.
É tempo de enterrar os mortos e cuidar dos vivos. É tempo de os acarinhar, de lhes dar apoio, de lhes dar respostas sobre esta tragédia sem nome. É o mínimo que o país pode fazer por eles.
Aqueles que estão no centro da tragédia, e só eles, sabem a(s) dor(es) que carregam.
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