sexta-feira, 23 de junho de 2017

ECOS DA MEMÓRIA

CRISTINA LOURENÇO
A memória é um músculo que pode ser desenvolvido e também manipulado em defesa das emoções.

Ainda hoje visualizo aquela casa de dois andares, onde vivi aos 2 anos de idade. Tinha uma garagem no piso térreo e a habitação no primeiro andar. À entrada da porta principal tinha um longo corredor, a cozinha à esquerda, seguida por uma casa de banho de serviço, um quarto de arrumos e um quarto de visitas. No fundo do corredor - em frente à porta da entrada – ficava o quarto dos meus pais. Visto de lá para cá: à direita tinha uma segunda casa de banho e duas espaçosas salas, ambas rodeadas por uma varanda.

Naquela noite, véspera Natal, a luz faltou por segundos e ainda sentada na mesa de jantar, rodeada por janelas com longas e acetinadas cortinas esbranquiçadas, consegui ver um vulto vermelho a correr em direcção à porta.

<< ainda hoje sinto o palpitar do coração derivado ao misterioso momento. >>

Consigo visualizar cada segundo, cada metro do espaço, cada cheiro e até a velocidade de corrida daquele barrigudo vermelho a largar à porta o saco das prendas.

Em adulta pensei que era uma memória enfatizada, por ter sido o primeiro Natal encenado. Mas vinte anos depois confirmei cada pormenor - sim, era real.

Aos 35 anos, durante uma meditação, percebi o verdadeiro motivo de cada detalhe daquela memória: foi o último Natal em família ainda estruturada.

Nada teve a ver com o Pai Natal, as prendas, a casa ou com os cheiros da sala. Até porque rapidamente saímos de lá e jamais voltei a ver a tal casa. Foi a união, a família e o amor de filha que fez com que a memória fosse eternizada.

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