TIAGO CORAIS |
A vulnerabilidade à escravidão moderna, ou seja pessoas que poderão ser vítimas de tráfico de seres humanos, trabalho forçado, servidão por dívidas, casar à força, ou crianças vendidas e exploradas, é afectada por uma interação complexa de factores relacionados à presença ou ausência de protecção à segurança física, ao acesso às necessidades básicas de vida (como alimentos, água e saúde), fluxo de pessoas e conflitos. Guerras, desastres ecológicos, mudanças no poder politico, taxas de desemprego altas e enfraquecimento da justiça podem contribuir negativamente para que mais seres humanos entrem nestas redes que lhes roubem as suas próprias vidas. Por isso, acho que vale a pena estarmos sensiveis a esta temática.
O Índice Global de Escravidão mede 24 indicadores em quatro dimensões:
1. Protecção civil e política
2. Direitos sociais e económicos.
3. Segurança pessoal.
4. Populações de refugiados e conflitos.
Segundo valores estimados pelo Índice Global de Escravidão 2016 (The Global Slavery Index 2016: publicado pela Walk Free Foundation) existem no mundo cerca de 45.8 milhões de pessoas que vivem em alguma forma de escravidão moderna, 58% destas pessoas vivem em 5 países: Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão. No entanto o país com maior proporção estimada de escravidão moderna é a Coreia do Norte, apesar de ser difícil a sua verificação, pois é um regime politico muito fechado. A Síria e o Iraque, representam 90% das pessoas deslocadas, 142.000 crianças naseceram no exílio, 750.000 crianças não andam nas escolas e num inquérito feito pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) em 2016 ao imigrantes Iraquianos 80% das respostas indicam que não sentem que exista futuros para eles.
Na Europa e apesar de ter a menor prevalência regional de escravidão moderna é estimado que existem cerca de 1, 2 milhões de pessoas nesta situação, dos quais 65% das vítimas de tráfico são cidadãos da UE, originários da Roménia, Bulgária, Lituânia e da Eslováquia. O trabalho forçado e a exploração sexual são as formas de escravidão moderna mais frequentemente notificadas na Europa, apesar de na Turquia terem sido identificado o casamento forçado de crianças. No entanto, com o aumento maciço do fluxo de imigração e de refugiados o perfil das vítimas está a mudar e segundo um levantamento da Organização Internacional para as Migrações (OIM) os movimentos de imigrantes que se deslocam de zonas de conflito para a Europa estão em alto risco de exploração, sendo facilmente exploradas pelas redes criminosas europeias. Estima-se que 10.000 crianças registadas como refugiadas estão desaparecidas, cerca de 5.000 desaparecidas em Itália e 1.000 na Suécia. A Europol adverte que os gangues estão a atacar estas crianças para fins de exploração sexual, trabalho forçado na agricultura e em fábricas. É por isso, incrível quando ouvimos o debate público sobre os refugiados em especial sobre as crianças refugiadas e defenderem que não devemos fazer nada. É preciso alertar as consciências para os valores humanistas e como é perigoso para o Mundo o crescente apoio a partidos e políticos populistas com agendas contra os refugiados. Não podemos cair na ilusão, que a xenofobia e o egoísmo irão resolver este problema, pois acontecerá o contrários. Os novos ventos populistas só irão tornar o Mundo mais instável e desta forma agravarão a situação.
Portugal segundo o relatório tem 12.800 pessoas a viverem em escravidão moderna, ou seja 0,123 % da sua população, mas o Governo Português está em sexto lugar como um dos países com mais medidas para erradicar esta “praga”. À sua frente só está a Holanda, Estados Unidos, Reino Unido, Suécia e Austrália. Um facto que nos deve orgulhar como Português, mas não nos podemos acomodar e estarmos com a nossas consciências tranquilas enquanto tivermos uma pessoa nesta situação no nosso País.
Em Setembro de 2016, o Dinheiro Vivo e a SIC contavam a história como 80 portugueses estavam presos na Arábia Saudita, com ordenados atrasados e sem receber, com os vistos de residência caducados, não conseguem pedir o visto de saída, logo têm as suas vidas presas a processos burocráticos. Sinceramente nunca mais ouvi nada sobre este assunto e não sei se está resolvido mas espero que estes meus compatriotas já estejam em Portugal. Imigrar muitas vezes já tem um custo elevado e não pode representar perderem a liberdade e principalmente perderem as suas vidas.
Uma das boas notícias desde o último Índice de Escravidão Global, são as medidas criadas pelo governo dos Estados Unidos, com legislação que não será mais possível importar mercadorias feitas com trabalho forçado ou escravo para o país e no Reino Unido que legislou no sentido que todas as empresas com um volume de negócios de mais de £ 36 milhões, terão que informar os seus esforços para garantir que não estão a utilizar o trabalho escravo nas suas cadeias de abastecimento, ou seja, que não têm nas suas instalações nem fornecedores que explorem o ser humano. Exemplos estes que deveriam ser também adoptados pelo nosso governo.
Por isso, para mim é inconcebível que em pleno século XXI, existam 45,8 milhões de pessoas no mundo sejam vítimas de escravidão moderna, e por isso é de salutar esta iniciativa da Walk Free Foundation que através da divulgação do Índice Global de Escravidão, cria pressão aos Governos no Mundo a criar leis que não permitam que empresas ganhem com este drama humanitário. Acho que como Cidadão do Mundo, também temos a obrigação de estarmos atentos a esta problemática e como consumidores sejamos também capazes de fazer a nossa parte para erradicar do Mundo qualquer forma de exploração do ser Humano. Vamos juntos fazer com que Abril e Maio seja uma conquista do Mundo.
Na realidade trata-se de um grande flagelo, em que os que têm a Vida organizada e estável, estão algo distantes deste assunto por razões óbvias.
ResponderEliminarCompete aos mais atentos, sensíveis e com maior preocupação para as questões sociais, mobilizar a consciência do colectivo social.
É do "movimento" das massas que emergem as participações individuais.
Bem haja Tiago Corais.