ELISABETE SALRETA |
Vejamos. Tenho um ganso, já com mais de 10 anos que fazia companhia ao meu Jorge que partiu com 20 anos. Jorge era um ganso branco com uns lindos olhos azuis, meigo, que conversava comigo de uma forma meiga, com uma espécie de sopros. Tratava da horta livrando-a de escaravelhos e gostava de seguir-me. Ficou o Patão, um ganso cinzento, não tão meigo quanto o Jorge que veio cá para casa com cerca de 15 dias.
O Patão tomou as rédeas da quinta, e protege o Zé Milho, um galaró digno de uma capa de revista. Mas a minha filha tem-lhe respeito. Tal como os cães, sabe disso e faz ainda pior, perseguindo-a. Acho que está a defender-me. Quando lhe digo que se está a portar mal e para ir para o castigo, ele segue para uma capoeira vazia e entra para eu lhe encostar a porta, assim podemos tratar das limpezas e demais serviços sem que ele persiga quem quer que seja. Sempre vigilante, não tenta abrir a porta encostada.
Quando estou só, segue-me, encostado à minha anca.
Temos dois galos: o Zé Milho e o Branquinho, filho do Zé, mas que tem quase o dobro do seu tamanho. Territoriais, lutam sempre que se encontram e desafiam-se constantemente. O Patão afugenta o Branquinho e separa as desavenças das meninas de penas. É claramente o chefe.
Temos também 3 coelhas, duas delas passeiam pela quinta alegremente, aos pulos pelo meio das ervas, mas quando chega a hora de recolher, lá está o Patão para ajudar. Só existe um problema. Ninguém pode enxotar ou sequer ralhar com o Zé. Ele protege-o acerrimamente. Parece compreender que as suas 700 gramas não fazem dele o guerreiro que lhe vai na alma.
É normal um vizinho chamar porque andam duas coelhas em loucas correrias pelas terras, completamente à solta, quando o normal é estarem fechadas em gaiolas com pouco mais que o seu tamanho onde não conseguem tão pouco se esticarem ou alguma vez na vida o sol lhes toca o pêlo. Mas os meus animais são assim, são eles próprios porque lhes é permitido que assim seja.
No fim de semana andei a assentar um polibã antigo e com dois buracos que durante o verão é a piscina da quinta. Pus um pouco de água lá dentro para o limpar. O Patão veio disparado sei lá de onde, e colocou os seus belos pés lá dentro e olhando para mim, mexia a cabeça como que a dizer para colocar mais água.
Normalmente não se deixam agarrar, mas também não fogem de nós, roçando nas nossas pernas nas suas idas e vindas. Mas tive uma galinha poedeira, a Xica, que ficava empoleirada e quietinha para que lhe dessemos beijinhos no pescoço.
Histórias como estas, existem aos milhares. Fazem-me pensar nas leis absurdas que temos e que não protegem estes animais de quinta que testam tão bem os nossos sentimentos e a forma de vermos a vida.
Sei que precisamos de proteína e que os animais são a nossa mais privilegiada fonte, mas para morrer não é preciso sofrer. E enquanto se viver, que seja com respeito e dignidade.
Vale a pena pensar nisto, não é?
Vale a pena ler este testemunho, mais um, que alerta para os sofrimentos silenciosos dos nossos fiéis amigos de duas e quatro patas. Vale a pena ler e reler este relato do dia-a-dia de todos eles, porque eles são os primeiros a ouvir-nos, como ninguém! Parabéns por mais este artigo, Elisabete Salreta!
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