JORGE NUNO |
Está um dia bonito, apesar das nuvens. De pé, olho através dos vidros duplos. O trânsito na avenida é intenso, mas não o ouço. Os choupos oscilam ligeiramente e vão soltando o “algodão branco”, que se espalha e dança pelo ar por mais algumas semanas. Costuma representar alegria e espanto nas crianças e, supostamente, um incómodo nas pessoas com hipersensibilidade cutânea. Certamente poucos saberão (ou nem quererão saber) que há choupos machos e fêmeas, e que uns largam o “algodão” e outros o pólen, o tal que pode ser causador de alergias. Tenho consciência que a poluição urbana, gerada pelos veículos automóveis, afetará mais a saúde humana do que os níveis de pólen dos choupos nesta altura do ano, ou pior ainda, na ausência dos choupos, caso fossem abatidos a motosserra, como vem a acontecer. Creio que representa um dos muitos mitos urbanos, já que as pessoas nos meios rurais convivem bem com os choupos.
É visível o habitual movimento das “formiguinhas” humanas, na ciclovia, que usam este agradável espaço para fazer caminhadas, corridas individuais ou em pequenos grupos, tanto a pé como de bicicleta, para passear, levando os carrinhos de bebé ou os animais, ou simplesmente sentarem-se calmamente à sombra dos mesmos choupos. Por detrás, os campos de ténis, em terra batida, têm o habitual movimento, dando a sensação que alguns jovens estão a ter as primeiras aulas na modalidade. Olhando um pouco mais para trás dos campos, vejo alguns corajosos a dar umas braçadas numa das piscinas municipais exteriores, nesta tarde primaveril.
À mente vem-me o meu profundo gosto pelo desporto e a ideia de como o desporto pode ser salutar.
Neste ano, passei pela ponte 25 de abril, uns minutos antes de fechar ao trânsito rodoviário, para proporcionar a realização da “Meia Maratona de Lisboa”. Nalguns anos anteriores, tirei fotos que mostravam a dimensão desta iniciativa. Eram dezenas de milhares de participantes, a colorir totalmente esta enorme ponte; mais outras dezenas de milhares de espetadores, a assistir ao longo do traçado, e centenas de milhares a ver na TV. Soube do sucesso da segunda prova do circuito internacional – “Mundial Rallycross 2017” – em Montalegre, prova que se realiza em mais nove circuitos de países europeus e no Canadá e África do Sul. Eram esperados cerca de cem mil visitantes nesta aprazível vila da raia transmontana, o que me deixa muito agradado. A poluição sonora (do roncar dos motores) e a atmosférica (dos escapes), nada habitual por estas terras, ficaram completamente ofuscadas pelo entusiasmo, pelo que já se espera pelo evento do próximo ano. No início de setembro, volta ao Porto a “Red Bull Air Race World Championship”. É um evento mundial, que passa também por: Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos; San Diego e Indianápolis, EUA; Chiba, Japão; Budapeste, Hungria e Lausitz, Alemanha. Pela espetacularidade, atrai centenas de milhares de pessoas às margens do Douro, no Porto e Gaia. Estes três eventos desportivos, que movimentam multidões e muitos milhões, não deixam de ser um negócio, com riscos calculados, em que todos os envolvidos podem ganhar. Sinceramente, não vejo ninguém a querer, propositadamente, estragar o negócio. Neste último, apenas me lembro de ouvir acusações “bairristas” quando o evento passou de Lisboa para o Porto, por falta de financiamento autárquico.
Temos de reconhecer, definitivamente, que por estas bandas do planeta o futebol é mesmo considerado o “Desporto-Rei”. Até posso ouvir algumas pessoas dizer que não vão em “futebóis”, mas essas mesmas vi-as eufóricas quando a equipa de Portugal se sagrou campeã da Europa, em França! Sou apreciador e gosto de ver jogar bom futebol, independentemente de quem joga e do resultado final, quando não há trapaça. Detesto aquilo que estou a ver: claques organizadas, algumas ilegais, sustentadas pelas direções dos clubes designados “três grandes” [de Portugal], a fazer asneiras atrás de asneiras, impunemente, e num ou noutro caso com as direções, a demarcar-se… Aconteceu recentemente com a claque “Super Dragões”, num jogo de andebol entre o F. C. do Porto e S. L. Benfica, ao entoar “Quem me dera que o avião da Chapecoense fosse do Benfica”, ou a exercer pressão direta no café do pai de um conhecido árbitro de futebol, ou como claque não oficial de apoio à seleção nacional [de futebol], com Fernando Madureira a liderar, a entoar cânticos insultuosos ao S. L. Benfica no estádio da Luz, no jogo entre Portugal e Hungria. Também uma das claques do S. L. Benfica entoou cânticos no pavilhão da Luz, num jogo de andebol entre o seu clube e o Sporting C. P., com destaque para “Foi no Jamor que o lagarto ardeu, na final da Taça o very light o f…”, simulando o silvo do very light enviado por um membro da claque “No Name Boys”, que matou o adepto do Sporting, em 1996. A resposta da claque do Sporting C. P. num jogo de futsal no pavilhão da Luz entre os clubes rivais de Lisboa, foi entoar “Onde é que está o Eusébio”. Poucos dias depois, foi repetida a dose pela claque do S. L. Benfica, no jogo de futebol em Alvalade, no dérbi lisboeta. Na véspera deste jogo, cerca da 02h40, terá havido confrontos entre adeptos de ambas equipas junto à rotunda sul do estádio da Luz e um adepto italiano da Fiorentina, que acompanhava adeptos da Juve Leo, foi atropelado mortalmente por uma viatura (segundo as autoridades, de forma intencional). Sabe-se que a vítima tinha “ficha policial por violência no desporto” [em Itália] e que a viatura, já encontrada, pertence a um adepto do Benfica, a qual terá sido guardada num espaço de um amigo, membro da claque No Name Boys.
São comportamentos inaceitáveis e casos de polícia, a merecer rápida e eficaz resposta, a necessitar de fortes cliques na cabeça, para se encontrar um rumo adequado. Quando se esperava um comportamento apaziguador dos respetivos dirigentes, eis que surgem na ribalta pelas piores razões. O desporto e o futebol, em particular, dispensam bem este tipo de pessoas. Isto faz muito mal à própria indústria do futebol, que pode gerar muitos milhões, além de genuínas, vibrantes e compreensíveis paixões.
Por detrás dos vidros, talvez entenda quem utiliza o “escape” da ciclovia, do ténis, da natação e mais o que a minha vista não alcança daqui. É que a vida não comporta só a “loucura” do futebol… e louvo quem faz algo pelo seu próprio equilíbrio físico, procurando estar livre de poluição mental.
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