INÊS LOPES |
Em tempos passados, li algures esta frase: “A vida é justa porque é injusta para toda a gente.” Depois de uma reação de concordância quase instantânea com a frase, pensei mais profundamente sobre ela. Estes pensamentos que se seguiram apenas limparam a superfície que escondia aquilo que realmente é verdade, levando-me a discordar da frase.
A vida não é justa. É fácil concordar que é injusta para todos, no entanto, as injustiças que cada um carrega são desproporcionalmente, desmedidamente e claramente desiguais. Num mundo em que crianças inocentes morrem sem a oportunidade de preencher a alma com histórias de vida, enquanto outras pessoas têm a sorte de colecionar décadas e de envelhecer a alma, somos levados a pensar: o que é a justiça à beira desta desigualdade? Porque é que uns nunca chegam a experienciar a euforia de sentimentos que faz explodir o coração, enquanto outros sentem o seu a dilacerar vezes e vezes sem conta?
Não há justiça que se consiga compreender e explicar neste mundo, basta que olhemos à nossa volta, que olhemos para aqueles que transportam um coração no seu interior, e que reparemos no uso que cada um lhe dá. Nunca consegui perceber, como certamente mais ninguém consegue, estes opostos constantes, as desgraças de uns, as vitórias de outros. Parece que tudo em nosso redor carrega uma complexidade inexplicável.
Devido a esta minha incompreensão, encontro-me constantemente a criar as minhas próprias conclusões dentro deste meu mundo, que ainda é tão ambíguo e desnorteado. Explorando esse meu lado onde habitam as mais fictícias coisas, a explicação que encontro para toda esta desigualdade consegue preencher todas as lacunas vazias. Imagino que se existe um céu, ou um inferno, ou um lugar lá bem no alto, onde habita um Deus que comanda tudo, existem também vários escritores, que têm a missão de escrever a história de cada um de nós. Assim, é mais fácil compreender a disparidade entre as várias vidas. Assim como existem más e boas pessoas e vidas justas e injustas cá em baixo, existem também vários escritores lá em cima, cada um com o seu coração e com ideias diferentes, criando diversos enredos, determinados em escrever aquilo que dita o nosso “caminho” na Terra.
No meio de tantos fatores que controlam aquilo que somos e aquilo a que temos direito, podemos ter alguém bom ou mau a escrever por nós, mas nunca saberemos onde vamos chegar, a menos que continuemos a ler.