SUSANA FERREIRA |
No dia 8 de Março celebrou-se o dia internacional da Mulher, por isso, nada melhor que falar da minha experiência como mulher na área da Medicina Veterinária. Alguns vão perguntar-se mas qual a diferença entre ser Homem ou Mulher na Medicina Veterinária? Aparentemente pode parecer indiferente, no entanto, não é.
Porque questionam sempre nas entrevistas de trabalho se penso ser mãe? A minha pronta resposta é não, mas do outro lado vê-se o ar intrigado. Alguns, vão mais longe e questionam a minha idade, como quem diz estás com o tempo contado para ser mãe. Logo, ninguém quer contratar uma futura mamã, que irá desfrutar meses da maternidade e de seguida de horário reduzido para amamentar.
Os próprios clientes credibilizam mais os Veterinários. Durante o meu percurso profissional tive de substituir alguns colegas Homens e Mulheres. No caso das substituições dos Homens tive várias pessoas a recusarem-se a serem atendidas por mim, nem davam o benefício da dúvida. Muitas vezes tratavam-me como se fosse auxiliar, pedindo para eu chamar o Médico Veterinário. Cheguei mesmo a falar com uma cliente que veio comprar ração e tratou o auxiliar como Veterinário e saiu porta fora, sem eu ter oportunidade de desfazer o erro. O mais surpreendente ... maioritariamente estas atitudes partem de outras mulheres.
E gerir o dia-a-dia? Às vezes acho que o dia não tem horas suficientes e ainda não sou mãe.
Neste trabalho há hora de entrada mas não há hora de saída. E mesmo quando se sai, fica o pensamento na clínica.
O que podia ter feito e não fiz?
O que ficou pendente para amanhã?
O que posso fazer mais pela saúde do Kiko, tendo em conta a impossibilidade económica do dono?
E aquela pessoa que tentou deixar na clínica, um cão que encontrou na rua e como tu recusaste, faz-te sentir a pior pessoa do mundo...
Tu sabes que não és, mas ficas a remoer no assunto e ficas ainda mais preocupada com o futuro daquele cão. De certa forma, culpas-te por não reunires as condições financeiras para ajudares todos os animais que precisam.
E aquela eutanásia da cadelinha que acompanhas desde bebé? Aquele nó na garganta, aquela lágrima solta, a angústia de não ter conseguido fazer mais e melhor.
E depois de um dia longo de trabalho ainda te espera o jantar, adiantar o almoço para o dia seguinte, a roupa, a loiça, a casa por limpar, os teus animais por tratar... ir às compras, pensar na ementa para toda a semana. E ainda arranjar tempo para a família que a maioria das vezes sai prejudicada com a nossa ausência na presença. Pois muitas vezes estamos presentes em corpo mas não em mente.
E as urgências? Quando te deitas na cama e pensas “agora vou finalmente descansar do longo dia de trabalho... “ e repentinamente pelas 3horas da manhã toca o telefone das urgências. Acordas em sobressalto, com o coração nas mãos. Há um animal a precisar ser salvo e lá vais tu. No dia seguinte terás de estar dispersa e bem-disposta na primeira consulta do dia.
Nós sentimos necessidade de mostrar que somos boas profissionais e temos capacidade de fazer ainda melhor para sermos reconhecidas.
Quando supostamente se fala em igualdades de circunstância, a realidade ainda está muito aquém das expectativas.
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