terça-feira, 6 de março de 2018

EU MULHER


INÊS LOPES
Esta semana, mais precisamente no dia 8 de Março, marca-se o dia Internacional da Mulher. Estando hoje a escrever sobre isso, poderia começar por falar no feminismo, e na concepção errada que muitos têm do mesmo, ou então poderia falar dos imensos ativistas que combatem com toda a sua alma as desigualdades de género, ou então poderia ser eu mesma uma porta-voz de tudo o que está errado, comparando as oportunidades que as mulheres têm em vários sítios do mundo, o quão beneficiados os homens são em diversas situações relativamente às mulheres, ou poderia falar de.... de tantas coisas. Coisas essas que já foram faladas, discutidas, lidas incessantemente, e que são do conhecimento de todos, ou pelo menos deveriam ser.

Mas hoje não quero escrever sobre isso. Não quero trasmitir aquilo que já foi inúmeras vezes transmitido. Quero dar a conhecer a minha visão, por muito irrelevante que seja à escala global. Mas não querendo pôr-me num nível inferior, continuo a escrever, na esperança de que esta partilha de perspetivas únicas se torne mais regular, pois o mundo está a precisar de menos generalizações e mais inovações.

Sendo uma rapariga de 17 anos, já sei que tenho de ter cuidado com a maneira como ando vestida na rua. Já sei que não devo falar mal. Já sei que tenho de me depilar. Já sei que não devo usar demasiada maquilhagem, ou transmitirei uma imagem errada aos outros. Já sei que um dia terei de ser uma boa dona de casa. Já sei que me vão julgar por vestir isto, por ouvir aquela música, por conviver com aquela pessoa... Às vezes penso: ser mulher implica nascer com algum manual cheio de condições? É absurdo pensar assim, porque eu sempre soube ser mulher. A cada dia sou um pouco mais. A cada dia gosto mais do meu corpo, da minha alma, do único revestimento que me constitui: o de ser humana. Tudo o que dizem que devo fazer não é o que faz de mim uma mulher. Não está sequer perto disso. Está muito longe de fazer parte da minha definição de mulher, pois não é isso que me faz acordar todos os dias com um propósito, sabendo que nasci neste corpo que é a base da raça humana, nesta forma simetricamente imperfeita, nesta aura que consegue trazer tanta luz ao mundo. 

Com este texto não pretendo desvalorizar o género masculino, mostrar piedade pelo género feminino ou promover qualquer tipo de perturbação entre os dois géneros (perturbação que já existe em quantidade suficiente), pois sei que nesta temática surgem sempre interpretações erradas, que levam apenas ao ponto de situação a que chegamos hoje, mas que preferi desde o início do texto não desenvolver. Apenas me basta transmitir que ser mulher é uma das muitas coisas que me faz feliz. Não é apenas uma condição da vida humana. É o que abraço desde sempre e que nunca largarei, pois o que está envolto pelos meus braços é isso. É o meu ser feminino, sem rótulos, sem regras, sem os olhos da sociedade. Apenas uma mulher criada por mim, num mundo sem nome, debaixo de um céu sem opiniões, para onde só uma mulher olha.

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